Ciência e Saúde

Desfibrilador cardíaco implantável é usado para tratar o coração

postado em 14/01/2011 10:41

Antônio Guida, 60 anos, é um dos pacientes que teve sua vida salva pelo dispositivoA arritmia cardíaca é um problema que se instala silenciosamente. Chega sem dar sinais claros, causando o descompasso dos batimentos do coração. Nos casos mais graves, o órgão bate tão rápido que tremula e não consegue bombear o sangue, provocando a parada cardíaca fulminante ; a causa mais frequente de morte súbita. A possibilidade de reconhecer e interromper a arritmia, realizada pelo Desfibrilador Cardíaco Implantável (CDI, pela sigla em inglês), no entanto, vem salvando a vida da maioria dos pacientes que têm problema cardíaco grave.

A chamada taquiarritmia cardíaca maligna (taquicardia e/ou fibrilação ventricular), em que o coração bate tão rápido que não dá tempo de se encher de sangue e para, mata milhares de pessoas todos os anos no mundo inteiro. Somente nos Estados Unidos, cerca de meio milhão de pessoas têm morte súbita anualmente, a maioria devido ao problema. ;Se o problema não for corrigido imediatamente, dificilmente a pessoa sobrevive;, diz o cardiologista Cândido Gomes, do Instituto do Coração (Incor) em Taguatinga.

É para evitar o pior que o CDI é implantado no paciente, funcionando como um gerenciador do ritmo cardíaco, reconhecendo a frequência e atuando a qualquer sinal de arritmia, da mais branda à mais grave. Posicionado no peito do paciente, o equipamento possui dois cabos, cada um com um eletrodo, ligados ao átrio e ao ventrículo do coração. ;Ao menor sinal de frequência cardíaca errada, o dispositivo envia choques elétricos diretamente no coração, para que ele retome seu ritmo;, descreve o arritmologista José Sobral, também do Incor.

O CDI atua de maneira permanente. Quando detecta a presença de uma arritmia é capaz de aplicar diferentes modalidades de tratamento mediante impulsos elétricos para suprimi-la. Dependendo da gravidade do problema, o desfibrilador pode aplicar de maneira automática tratamentos mais suaves (estimulação antitaquicardia) ou bem mais radicais (cardioversão mediante choque eléctrico), que ocasionalmente podem ser percebidos pelo paciente. ;O choque mais intenso atinge até 700 jaules. É como se fosse um murro no peito;, exemplifica Gomes. ;Na maioria dos casos, porém, a pessoa nem sente os choques;, acrescenta o cardiologista.

Contudo, qualquer desconforto é mínimo comparado ao benefício que o aparelho traz. Segundo os cardiologistas ouvidos pelo Correio, de 10 pacientes com problemas cardíacos graves, oito já foram salvos pelo aparelho. ;Temos remédios contra tais problemas, mas nada é tão efetivo quanto o CDI;, afirma Gomes. ;É o que temos de última geração na medicina do coração;, completa Sobral.

Salvo
Antônio Guida, 60 anos, é um dos pacientes que teve sua vida salva pelo dispositivo. Há dois anos, o aposentado fazia compras com a esposa quando sua vista escureceu. Logo depois, sentiu um forte choque no peito que o fez soltar um grito em pleno supermercado. ;Só me lembro que fechei os olhos, vi fogos e senti como se tivesse levado um coice no peito. Uma dor muito grande. Só não caí no chão porque me segurei no carrinho;, lembra. Guida conta que ficou assustado com o ocorrido, mas ao mesmo tempo feliz. ;É estranho falar isso, mas vivi a morte de perto e nenhuma dor é mais bem-vinda que a do choque fazendo meu coração retomar sua atividade;, disse.

O aposentado experimentou outra vez a ação do CDI, porém de forma mais branda. ;Estava tomando banho quando senti um choque no peito. Porém, nada muito incômodo, nem dolorido, era mais uma cosquinha;, relembra. Há 15 anos, ele sofre de cardiomiopatia obstrutiva, em que a passagem do sangue fica comprometida dentro do coração. Há cinco utiliza o CDI. O aposentado garante que, depois de implantar o dispositivo, sua vida mudou. Antes, só o ato de se vestir já lhe causava cansaço. Depois do aparelho, o problema sumiu. ;Isso porque o dispositivo atua permanentemente no coração, fazendo com que ele bata corretamente;, justifica José Sobral.

A indicação do CDI só pode ser feita depois de uma bateria de exames cardíacos. Sua aplicação é voltada para pessoas que sofrem de arritmias graves, como a taquicardia maligna, ou que tiveram um infarto. ;O dispositivo representa uma segurança ao paciente, principalmente àqueles infartados e com problemas cardíacos congênitos;, explica Gomes.
É o caso de João Pelles, 44 anos. O servidor sofre de hipertrofia ceptal congênita, descoberta quando tinha 25 anos. O problema faz com que seu coração dispare até fibrilar. Desde os 30 anos, Pelles utiliza o CDI. Embora nunca tenha sentido qualquer choque acionado pelo dispositivo, ele se sente seguro só em saber que o aparelho o assiste o tempo todo. ;É como se vivesse com uma UTI móvel no peito;, compara. ;Encaro como uma bênção. Melhor do que viver numa situação incerta;, conclui.

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