Ciência e Saúde

Alteração na forma ou função de hormônios podem causar diversos problemas

postado em 16/01/2011 10:00

Eles têm o tamanho de moléculas, mas são capazes de derrubar um adulto. Não, não se trata de bactérias ou vírus, mas de estruturas muito menores que regulam o funcionamento do corpo. Os hormônios são a gasolina do organismo, responsáveis por coisas tão diversas como a vontade de sair da cama de manhã e a produção do leite materno. O menor desequilíbrio na produção dessas substâncias provoca sintomas desconfortáveis, como queda de cabelo, ganho de peso, fraqueza e irritação. E o pior, o sistema endócrino, como é chamado, é todo interligado ; qualquer problema em uma das partes pode afetar o funcionamento das outras.


Tudo começa no cérebro. É de lá que surgem as primeiras instruções para a liberação dos hormônios. O hipotálamo é uma espécie de gerente da rede, comunica-se com o sistema nervoso e avisa para os produtores de hormônios qual é a quantidade necessária para garantir o funcionamento da ;fábrica;. ;O hipotálamo é o centro regulador que cuida do equilíbrio do corpo. Ele capta informações dos órgãos e do ambiente externo para orientar toda a atividade metabólica da pessoa;, explica o endocrinologista Neuton Dornelas Gomes, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia no Distrito Federal.


É graças ao trabalho do hipotálamo que as pessoas ficam com frio na barriga ao andar de montanha-russa, por exemplo. O sistema nervoso processa o estímulo externo, comunica-se com o hipotálamo, que, por sua vez, incentiva a produção de um hormônio relacionado a essa sensação de prazer e euforia, a adrenalina. Processo semelhante ocorre quando o indivíduo come. Para quebrar a glicose dos alimentos, o pâncreas libera a insulina, um hormônio tão essencial que a falha na sua produção provoca o diabetes.


Depois que os cabelos de Roberta começaram a cair, ela descobriu ter hipotireoidismoGrosso modo, problemas hormonais podem ocorrer por dois motivos: alteração na forma ou na função das glândulas endócrinas (veja arte). Na hipófise, por exemplo, surge o hormônio do crescimento. Se, por algum motivo, a glândula não fizer o dever de casa, o adolescente cresce menos do que o normal. Outra possibilidade é a hipófise liberar muito hormônio do crescimento, o que provoca o gigantismo. ;Em alguns casos, a disfunção nessa glândula é provocada pelo aparecimento de nódulos ou tumores. A pessoa, então, pode desenvolver a acromegalia, que é o crescimento exagerado das extremidades do corpo;, detalha o médico Neuton Dornelas.


O gerente comercial Kennedy Siqueira, 47 anos, convive há três com um disfunção na hipófise. ;Comecei a sentir caroços na região da mama e a engordar rapidamente em algumas partes do corpo, como o púbis;, conta. Os exames mostraram que Kennedy estava com uma microlesão nessa glândula, o que causou a liberação excessiva de prolactina. Nas mulheres, esse hormônio estimula o aparecimento do leite materno, mas homens também o possuem em menor quantidade. O problema acabou afetando outras glândulas do sistema endócrino de Kennedy. Hoje, ele faz reposição hormonal a cada 21 dias. ;É uma coisa meio constrangedora, porque esse remédio é um anabolizante que regula os níveis de testosterona no meu organismo. Toda vez que eu troco de farmácia, as pessoas me olham desconfiadas;, conta.


Kennedy também se queixa dos efeitos colaterais da medicação. ;Nos primeiros cinco dias após a aplicação, o corpo fica mais aquecido do que o normal, eu me sinto inchado;, enumera. Além disso, o gerente não conseguiu reverter o ganho de peso que teve até descobrir a doença. A reclamação também é compartilhada pela projetista Patrícia Santiago, 35 anos. Há quase dois anos, o médico encontrou um tumor benigno de 2,5cm próximo à hipófise de Patrícia. ;Eu estava pesando 120kg, vivia com dores de cabeça, estressada;, lembra. Assim como Kennedy, ela teve a produção de prolactina acentuada e, com isso, produziu leite mesmo sem estar grávida. Com o tratamento, a projetista perdeu 24kg e a expectativa é que o tumor diminua muito nos próximos três anos.


As disfunções também podem aparecer em outras glândulas. Nas gônadas ; ovários nas mulheres e testículos nos homens ; surgem os problemas de infertilidade, caso a produção de hormônios não esteja equilibrada conforme o sexo da pessoa. Nas suprarrenais, há a liberação do cortisol (que regula a resposta ao estresse, por exemplo) e de substâncias que controlam o nível de sais e potássio. Para se ter uma ideia de como o sistema é delicado, uma pessoa pode desenvolver hipertensão por conta de um problema hormonal.

Problema feminino


Há uma glândula, porém, que costuma ser a principal ;culpada; das visitas aos consultórios. A tireoide ; que fica no pescoço e tem formato de borboleta ; participa do metabolismo do corpo inteiro. ;Todos os órgãos precisam dos hormônios liberados pela tireoide. É ela que dá condições ideais de crescimento aos fios de cabelo;, exemplifica Neuton. O funcionamento da glândula também interfere no ganho de peso, na textura da pele, na pressão arterial, na resistência das unhas, no ciclo menstrual das mulheres e por aí vai.


Elas são, inclusive, as mais afetadas pelas disfunções da tireoide. ;Os problemas nessa glândula são de 10 a 12 vezes mais comuns na população feminina. Além disso, como as doenças são autoimunes, o fator genético é muito preponderante;, afirma o médico Mário Sérgio Almeida, chefe do setor de endocrinologia do Hospital de Base. Foi isso que levou a gerente de eventos Roberta Viana, 28 anos, a procurar um especialista. ;Quando eu tinha 18 anos, meu cabelo começou a enfraquecer e cair. Também tinha uma indisposição enorme, muita preguiça;, lembra Roberta, que recebeu o diagnóstico de hipotireoidismo, assim como aconteceu com sua mãe, tias e avó.


O hipotireoidismo ocorre quando a glândula produz pouca quantidade de hormônios (veja quadro). ;A doença faz a pessoa inchar, reter líquidos, ter queda de cabelo;, destaca Mário Sérgio. O endocrinologista ressalta, porém, que muita gente credita todos os quilos a mais na balança à disfunção. ;Uma vez que a pessoa está sendo tratada, ela pode perder o peso que ganhou;, diz. No caso de Roberta, o problema estava bastante grave na época do diagnóstico e piorou com o tempo. ;Eu comecei tomando um comprimido de 25mm por dia. Hoje, a dose já é de 150mm;, conta. ;Mas nunca deixei de fazer nada por causa da doença, embora meu cabelo não tenha voltado a ser o mesmo, forte e brilhante.;

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