Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Lipoaspiração a laser promete recuperação mais rápida e menos traumática

Quando a dieta e a malhação não conseguem acabar com as gordurinhas localizadas, a lipoaspiração passa a ser o principal objeto de desejo das pessoas mais vaidosas. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) revelam que, junto à mamoplastia de aumento, ela lidera o ran-king das cirurgias estéticas mais realizadas no país. Ao longo dos últimos 20 anos, o procedimento tornou-se mais seguro, mais acessível e pode ser conduzido com diferentes técnicas. A mais recente delas é a lipoaspiração a laser, também conhecida como lipolaser ou laserlipólise. O calor emitido por essa fonte de energia derrete a gordura e permite o uso de cânulas bem fininhas, proporcionando um corpo remodelado sem as conhecidas agressões do método convencional.

Para o cirurgião plástico Alexandre Senra, médico do Hospital Albert Einstein (São Paulo) e especialista da SBCP, a modalidade tem mostrado excelentes resultados. Ele explica que o trauma na região operada é menor e que a lipo a laser é praticamente indolor. ;Além disso, a retração da pele é uma grande vantagem dessa técnica. O laser estimula a produção do colágeno, reduzindo a flacidez. O sangramento é mínimo e a recuperação é muito mais tranquila;, afirma o especialista, que há 10 anos lança mão do método.

Segundo Senra, 90% daqueles que fazem a lipolaser voltam a trabalhar no dia seguinte e estão liberados para atividades físicas uma ou duas semanas depois. ;Mas não basta ter o equipamento à disposição. O cirurgião deve ter treinamento com a tecnologia para conduzir o procedimento com segurança, proporcionar bons resultados e pós-operatório melhor do que as lipos convencionais;, alerta.

Em Brasília, o laser tem conquistado pacientes e profissionais, como a cirurgiã plástica Ivanoska Filgueira, que o considera um avanço capaz de revolucionar a cirurgia estética. De acordo com a médica, a energia chega ao local da intervenção por via transcutânea e é regulada para destruir somente as células de gordura, sem danificar os vasos vizinhos. Pelos métodos mais tradicionais, os traumas vasculares e nervosos da região tratada são praticamente inevitáveis. ;A luz do laser facilita muito o trabalho do profissional. O risco de perfuração de outras estruturas é praticamente zero, o inchaço e os hematomas são bem minimizados e o paciente recebe alta hospitalar no mesmo dia. Às vezes, nem é preciso pontos;, diz.

Cuidados
Quando o local da intervenção é pequeno, como o pescoço, os flancos ou os braços, os cirurgiões nem chegam a aspirar a gordura dissolvida pelo laser. O produto é eliminado pelo próprio organismo, por meio dos rins ou do intestino. Se a área é maior, a camada gordurosa é sugada por uma cânula com diâmetro menor que as usadas nas outras técnicas. A anestesia pode ser local. No entanto, ainda que menos invasiva, a lipolaser continua a ser um procedimento médico. A operação deve ser bem indicada e realizada em centros cirúrgicos. ;A rigorosa análise da situação clínica do candidato à intervenção é fundamental. Essa história de ;lipo da hora do almoço; é lenda, produto de charlatões;, enfatiza a cirurgiã.

Os traumas provocados pela lipoaspiração convencional estavam entre os argumentos que impediam Mariana*, 18 anos, de passar pelo procedimento. A jovem conta que foi uma criança gordinha e que sua herança genética não favorecia os contornos definidos. ;Tinha uma barriguinha e um culote que sempre me incomodaram. Não usava biquíni nem roupas justas de jeito nenhum. Minha mãe, que é médica, achava que eu era muito nova para me submeter à técnica tradicional;, explica. Quando soube da lipo a laser, Mariana conseguiu reverter a história e ganhou sinal verde dos pais. A cirurgia foi feita em dezembro passado. ;Não senti dor, o único incômodo foi usar a cinta. Os resultados já estão aparecendo. Não arrisquei o biquíni ainda, mas as roupas mais sequinhas já fazem parte do meu guarda-roupa. É uma sensação de liberdade incrível poder vestir peças que, antes, eram apenas desejadas. Minha autoestima está lá em cima;, revela.

A técnica em contabilidade Marcela Vieira dos Santos, 24 anos, também se rendeu ao laser. ;Já fiz a cirurgia pelas duas técnicas. A diferença é realmente marcante. O procedimento convencional me deixou cheia de hematomas e com dor, o que não ocorreu com o laser. Voltei a trabalhar em uma semana e em 15 dias estava malhando. Como engordei muito durante a gestação, fiquei com estrias marcantes no abdômen. O laser minimizou essas cicatrizes e não deixou a pele flácida;, comemora Marcela, que afinou a cintura e eliminou de vez a gordura da barriga. ;Vou fazer nas pernas também;, avisa.

Ressalvas
Alguns cirurgiões consideram que a lipoaspiração a laser não é tão segura. A controvérsia gera discussões e polêmicas no meio médico. O cirurgião plástico Fausto Bermeo avalia que essa forma de energia rompe aleatoriamente as células de gordura. Além disso, a técnica impede o especialista de fazer um remanejamento de tecido adiposo, a chamada lipoescultura. ;A gordura derretida não pode ser reaproveitada. Não sou totalmente contra, mas é fundamental ser seletivo. O laser é apenas mais um recurso;, sustenta. O especialista também pondera que um eventual superaquecimento da área pode provocar danos no tecido. ;A vibrolipoaspiração também é pouquíssimo traumática e proporciona os mesmos resultados, inclusive o bem-estar no pós-operatório;, defende.

O sangramento reduzido por causa do laser é outro ponto questionado por alguns especialistas, já que a cauterização dos vasos sanguíneos causaria falta de oxigênio e poderia necrosar a pele. ;Houve um aprimoramento da tecnologia e, hoje, a possibilidade de queimar o tecido é mínima. A afinidade do laser é somente por proteínas que se encontram na superfície das células de gordura;, alega Ivanoska. Os médicos que usam o laser reconhecem, porém, que, como em todo procedimento cirúrgico, há chances de intercorrências. Choque anafilático e infecções são alguns deles. ;As lipoaspirações não visam o emagrecimento, mas o contorno corporal. Qualquer técnica que seja utilizada é contraindicada em pacientes que apresentem problemas sérios de saúde;, alerta o cirurgião Alexandre Senra.

* Nome fictício a pedido da entrevistada.


PALAVRA DE ESPECIALISTA
À espera da ciência

;Depois de qualquer lipoaspiração, são essenciais os cuidados com a reabilitação do paciente. A fisioterapia avalia e elege métodos que auxiliam o tratamento pré e pós-operatório, por meio de técnicas como drenagem linfática, ultrassom, eletroterapia, agentes térmicos, mecânicos, fototerapêuticos e orientações posturais. O fisioterapeuta atua prevenindo a formação de aderências, que impedem o fluxo normal de sangue e linfa, observando sempre as características clínicas apresentadas, acompanhando a evolução do processo cicatricial. A lipolaser promete diminuição da dor, da quantidade de edemas e de inflamações do processo de reparo tecidual. Aguardamos, porém, estudos científicos que comprovem a segurança e eficácia da técnica.
Giselle Dagrava, fisioterapeuta