Ciência e Saúde

Pesquisa diz que Leonardo Da Vinci usou dois modelos para compor Mona Lisa

O rosto, garantem, foi formado pela união dos semblantes de uma mulher e de um aluno do pintor

postado em 03/02/2011 08:00
O olhar enigmático e o sorriso misterioso da Mona Lisa guardam segredos que permaneceram ocultos por mais de 500 anos. Agora, o maior deles ; a identidade da modelo retratada por Leonardo Da Vinci ; foi aparentemente desvendado, como anunciaram ontem pesquisadores do Conselho Nacional para Valorização do Patrimônio Histórico, Cultural, Arquitetônico e Ambiental da Itália. Depois de fotografar em altíssima resolução a obra, os cientistas encontraram informações que, garantem, levaram à solução do enigma. E a conclusão é tão surpreendente quanto a genialidade de Da Vinci. O rosto visto por 8,5 milhões de pessoas todos os anos no Museu do Louvre, em Paris, é formado pela fusão dos semblantes de uma mulher e de um homem: Lisa Ghirardini, italiana que encomendou o quadro, e Gian Oreno, servo e aluno do pintor, também conhecido como Salai.

Para os responsáveis pelo estudo, a parte inferior do rosto, que compreende o nariz , o queixo e o famoso sorriso, foi ;emprestada; por Salai, que conviveu com o pintor por 25 anos e serviu de modelo em outras obras de Da Vinci, como São João Batista. Já a parte superior seria de Lisa, casada com um comerciante de Florença. Os pesquisadores acreditam que Da Vinci teria tido uma relação romântica com ambos.

Mais do que a simples mistura de dois rostos, os autores da análise percebem um significado maior para a decisão de Da Vinci de usar dois modelos. ;Salai aparece no quadro com uma conotação sensual. Mas, além disso, as imagens dele e de Lisa formam uma expressão de contrastes;, explica ao Correio Silvano Vicenti, diretor da entidade responsável pelo estudo. Segundo Vicenti, a dualidade masculino e feminino é usada para representar o mundo em seus contrastes, como o bem e o mal ou o claro e o escuro.

O grupo de pesquisadores já havia anunciado, em dezembro, a descoberta, por meio de análises microscópicas, de letras nas pálpebras da Mona Lisa. As consoantes s, b e d e as iniciais CE estariam sobre o olho direito. No esquerdo, a inscrição LV. Análises adicionais, no entanto, mostraram que apenas as letras S e L estão gravadas, respectivamente nos lados direito e esquerdo. A primeira, segundo os estudiosos, se refere à época em que o quadro começou a ser pintado. Em 1503, quando Da Vinci iniciou a obra, ele trabalhava para a família Sforza, na região de Milão. Já o L vem do nome do próprio autor da pintura, o que indica a relação da obra com a vida de seu autor. ;Trata-se de um testamento pictórico, filosófico e existencial de Leonardo. A Mona Lisa deve ser lida em vários níveis, como a Bíblia. Muitos historiadores da arte ou das experiências de Leonardo cometeram o erro de dar uma leitura unilateral para a obra;, aponta Vicenti.

Para o pesquisador italiano, a obra é muito mais complexa do que um simples objeto de arte. ;La Gioconda (como o quadro também é chamado pelos italianos) contém vários níveis: pintura, símbolos, elementos religiosos e filosóficos;, afirma. Assim, o quadro representaria a síntese da vida e do pensamento de Leonardo, expressando ainda os princípios fundamentais do Humanismo e do Renascimento, como a harmonia, a proporção e a oposição de elementos.

Cabala
Outra novidade trazida pelas pesquisas italianas diz respeito a um detalhe quase imperceptível da obra. Acima do ombro de Mona Lisa está representada uma ponte, sobre a qual foi gravado o número 72. A princípio, acreditou-se que o número fazia uma referência ao ano de 1472, quando a ponte de Bobbio, na região de Vicenzia ; que se acreditava ser a representada ; foi demolida. Novas análises mostraram que não se trata da ponte demolida, mas de uma estrutura que continua de pé até hoje, na região de Arno, na Toscana, que apresenta as características arquitetônicas medievais da ponte retratada.

Quanto ao número 72, os pesquisadores identificaram uma simbologia digna das páginas de O Código Da Vinci, bestseller de Dan Brown. ;Acreditamos que o 72 tem muitos outros significados, que vão além da demolição de uma obra sem qualquer interesse público;, aponta Vicenti. Na cabala, filosofia bastante difundida durante o renascimento, o 7 refere-se à criação do mundo de Deus. ;No cristianismo, esse número está relacionado com os sete sacramentos, mas também é a soma 4 3, o princípio subjacente ao material e o mundo espiritual e da vida, não em oposição entre si, mas unidos;, afirma Vicenti. Já o número 2, segundo ele, ;representa a dualidade, a oposição, o princípio e o fim, justamente ideias que Leonardo queria transmistir em seu quadro;.

A presença de símbolos ocultos, ícones e mensagens secretas, que podem parecer estranhos aos olhos do século 21, eram comuns em obras do período. ;Outros pintores, como Michelangelo e Rafael, também esconderam símbolos e mensagens secretas em suas produções. Isso faz parte de uma corrente de pensamento em que a obra tem uma função que vai além da estética;, explica a professora de História da Arte da Faculdade Dulcina de Morais Tatiana Fernandes, que acredita na análise de símbolos para elucidar mistérios sobre outras obras do Renascimento. Para Vicenti, no entanto, o mistério está longe do fim e novas informações sobre o quadro mais famoso do mundo ainda podem surgir. ;Isso porque Leonardo representou não apenas o aspecto físico, mas também sua alma;, conclui.

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