Ciência e Saúde

Prevenção contra o cálculo renal no verão pede mais atenção

postado em 03/02/2011 08:00
As pedras no caminho do aparelho urinário desencadeiam manifestações relatadas como tão insuportáveis quanto inesquecíveis. A dor provocada pelo cálculo ; cristais que se agrupam e formam pequenas pedras nos rins ; pode ser tão intensa que algumas vítimas chegam a desmaiar. No verão, o número de atendimentos a pacientes com esse transtorno aumenta pelo menos 30% em relação às demais estações. A informação vem de um levantamento conduzido pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.

A pedra no trato urinário é uma patologia descrita há pelo menos 5 mil anos. Embora os dados levantados em São Paulo não tenham base científica, o urologista Samuel Saiovici pondera que o aumento faz sentido, já que nos períodos mais quentes do ano transpiramos e perdemos muito líquido. ;Geralmente, os cálculos são formados de cálcio, ácido úrico ou outros elementos que se solidificam. Quando o organismo fica pouco hidratado, diminui a solubilidade, favorecendo o acúmulo dos solutos;, justifica o especialista do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos.

Os cálculos renais também são decorrentes de infecções associadas a germes e bactérias, de processos metabólicos ou medicamentos específicos. Saiovici explica que as pedras quase sempre se originam nos rins e, enquanto lá permanecem, raramente promovem sintomas. A movimentação desses elementos pelas vias escretoras da urina é que provoca as cólicas renais. O tratamento depende do momento em que é feito o diagnóstico, do tamanho da pedra e da sua localização. Durante a crise, a prioridade é livrar o paciente da dor. ;Melhorando a condição da pessoa, investigamos onde está o cálculo e como eliminá-lo. Exames de imagem, como tomografia, ultrassom e de raios X são importantes tanto para confirmar a doença quanto para definir a terapia;, observa Saiovici.

Pelo menos 80% dos cálculos que estão nas vias urinárias são eliminados naturalmente. Atualmente, a medicina conta com métodos menos invasivos para a retirada das pedras em pacientes que não conseguem expeli-las. Técnicas percutâneas e endoscópicas estão entre as opções de procedimentos que quebram ou removem os cálculos. A cirurgia aberta é sempre a última alternativa. ;Crises constantes, dores muito intensas ou ameaça à saúde dos órgãos são fatores avaliados para a indicação das intervenções;, revela o urologista do Hospital Urológico de Brasília Eriston Wendt Uhmann. Além da dor, que é de longe a manifestação mais conhecida, o cálculo renal pode provocar a obstrução das vias urinárias, disfunção renal e até a perda dos rins. Por isso, é muito importante que se investigue a causa da doença. ;A litíase é uma patologia séria, que pode mutilar ou matar o indivíduo. Quando não tratada, pode evoluir para infecção generalizada;, expõe.

A comerciária Lucilene Paula Urias, 36 anos, recorda que sua primeira crise de cálculo renal ocorreu em 2006, quando chegou a ficar internada para remediar o desconforto. A dor veio repentinamente e afetava a região lateral das costas. ;A pedra tinha 1cm e estava no canal urinário. Cheguei a tomar morfina. Nada amenizava as cólicas. Foi preciso fazer cirurgia;, relata. Em 2009, outra crise surpreendeu Lucilene quando ela estava grávida. ;A dor passou, mas sabia que ela daria sinais novamente, o que aconteceu quando eu estava amamentando. Foi desesperador. Mas, dessa vez, consegui expelir a pedra naturalmente;, relata. Para Uhmann, a dor é um sintoma benéfico. ;Os cálculos silenciosos são mais perigosos, porque fazem estragos sem que se perceba. Quando o paciente consegue o diagnóstico, um rim pode estar perdido, por exemplo;, lamenta.

Brasília
O fator genético contribui muito para a formação de cálculos renais, mas são os fatores ambientais que aumentam os riscos da doença. No Distrito Federal, não existem estudos específicos sobre a incidência de crises de cálculos renais. Porém, especialistas percebem que, nos períodos secos e quentes, as cólicas são mais frequentes, promovendo um relativo aumento no número de atendimentos. Segundo João Emerson Alencar Santos, urologista do Hospital de Base do DF, a concentração de cristais na urina tem relação com o clima e os cuidados pessoais. ;Com hidratação adequada, os elementos sólidos se diluem. Se ocorre a diminuição da água no organismo, a urina fica mais concentrada, permitindo a cristalização e agrupamento, ou seja, as pedras;, pontua.

O mecanismo é simples: em períodos mais quentes, transpiramos muito e nosso corpo passa a exigir uma reposição maior de água. Na seca, não suamos tanto, mas perdemos líquido pelas mucosas e pelo pulmão. ;Como o organismo nem sempre é hidratado de forma adequada, a probabilidade de precipitação dos cristais e ocorrência de crises nesse período também aumenta. Mas temos pacientes com esse problema em todas as épocas;, pondera. O urologista Eriston Wendt Uhmann considera que morar em Brasília é um fator de risco. ;Para se ter uma crise, é preciso formar o cálculo. Isso não se dá de forma rápida, mas é inegável que a altitude e a seca deixam as pessoas desitradatas e favorecem a ocorrência da doença. Entre junho e setembro, o número de atendimentos realmente é maior do que no período chuvoso;, admite.

As crises da advogada Ana Luíza Borba Pereira, 28 anos, ocorreram justamente em agosto. Exames constataram que a falta de hidratação foi determinante para a formação dos cálculos. ;Depois de um episódio de cólica renal, passamos a conhecer, de fato, o que é dor. Precisei de internação. A primeira pedra foi retirada por cirurgia porque estava presa nas vias urinárias. A segunda foi diluída com medicação e a terceira eu consegui expelir naturalmente;, conta. Com medo de passar pelo transtorno novamente, Luíza passou a se cuidar. ;Tento me hidratar, porque sei que somente assim posso evitar o pior;, pondera. As pessoas que já tiveram um cálculo urológico têm uma chance de 50% de desenvolver um novo cálculo nos próximos 10 anos.

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