postado em 01/03/2011 07:00
O da estudante de jornalismo Ana Flávia Durso foi ;meio robótico;, mas ;valeu a pena;. O de George Queiroz, empresário, representou o início da adolescência, apesar de tê-lo feito se sentir meio ;bobão;. Já a servidora pública Josiane Moreira diz que o seu foi ;coisa de menina;. Como a imensa maioria das pessoas, Ana, George e Josiane podem ter formas diferentes de descrever o primeiro beijo, mas não o esquecem. Segundo cientistas da Universidade do Texas, a experiência costuma se instalar como uma das memórias mais vivas que alguém carrega pelo resto da vida. Já faz oito anos, mas Ana Flávia, 21, lembra bem de quando o colega ;ruivinho; do curso de inglês a chamou para um canto e os dois começaram a conversar. ;Uma hora, paramos um de frente para o outro e nos beijamos.; A estudante conta que agiu de maneira desengonçada e que nem os vários treinamentos com copo e gelo deram uma força. ;Depois, me disseram que coloquei meus braços em volta do corpo dele de maneira errada, como quem está abraçando e não como quem está beijando. Ri muito disso;, recorda.
[FOTO2]Segundo Sheril Kirshenbaum, cientista que ajudou a conduzir o estudo e autora do livro The science of kissing, ainda não publicado no Brasil, a experiência é tão marcante que costuma ser mais lembrada até mesmo do que a primeira relação sexual. ;Durante o primeiro beijo, estamos envolvidos com todos os nossos sentidos. Quanto mais significante e pessoal for a situação, mais fortes serão as nossas memórias;, afirma, em entrevista ao Correio. Na pesquisa, Sheril analisou a corrente magnética dos cérebros de 60 homens e 70 mulheres enquanto elas eram expostas a diferentes imagens de pessoas se beijando e tendo relações sexuais. Como resultado, observou-se que, durante as cenas de beijo, as conexões das células nervosas do cérebro ocorriam em maior número, mostrando a maior importância para aquele tipo de experiência aos participantes do estudo.
Expectativas
Nem todos, porém, têm no primeiro beijo a memória mais importante de sua vida. A servidora Josiane, 26 anos, diz que precisa fazer um pequeno esforço para se lembrar de como ocorreu. Mesmo assim, a memória está lá: ;Foi coisa de menina, durante uma brincadeira de verdade ou consequência (jogo comum entre adolescentes, no qual os participantes têm a opção de responder a uma pergunta ou realizar alguma tarefa determinada pelo grupo);, conta. Para ela, o fato nem se compara com sua primeira vez com o marido, Valdinei Neres, 31. ;Foi muito melhor. Um momento inesquecível;, derrete-se.
A explicação para o sentimento de Josiane pode estar na diferença como homens e mulheres lidam com a experiência. De acordo com Sheril, apesar de todos guardarem vivo na memória o primeiro beijo, diz que há uma diferença na forma como homens e mulheres costumam se relacionar com a experiência. ;As mulheres, quase sempre, obtêm menos satisfação porque esperam muito do momento;, diz a cientista.
George Queiroz, 25 anos, conta que, de fato, sua experiência foi uma surpresa. Durante o intervalo das aulas na escola, ele e uma amiga entraram em uma das salas da escola onde estudavam e, para sua surpresa, o beijo aconteceu. Ela era mais velha que ele, e George, então com 14 anos, sentiu-se meio atrapalhado, ou, nas suas palavras, ;bobão;. O fato de ser inesperado, porém, não tirou o significado do beijo. ;Foi o começo de um breve relacionamento que retirou uma parte significativa da minha ingenuidade infantil e iniciou minha adolescência. Certamente, foi após aquele primeiro beijo que eu notei que não era mais criança;, diz.
Segundo o mestre em comportamento cognitivo Thiago de Almeida, George tem razão quando enxerga o momento vivido com a colega de escola com a entrada na adolescência. ;Trata-se do primeiro contato de intimidade com outra pessoa e pode trazer muita apreensão e expectativa nas fases que o antecedem;, afirma o autor do livro A arte da paquera: inspirações à realização afetiva (Letras do Brasil). ;Isso tudo pode ser muito fantasiado, principalmente por influências da mídia. Parece ser fácil na televisão, mas na vida real tem uma dose de dificuldade para o adolescente e representa um ritual de passagem e um marco evolutivo psicológico;, conclui.
E o excesso de cenas de sexo na televisão ou mesmo pela internet não poderia tirar das novas gerações um pouco da magia desse momento tão marcante? Para a autora do estudo, isso não deve ocorrer. ;Eu não acho que isso esteja sendo perdido. Um beijo entre duas pessoas cria uma conexão especial e fortalece o laço entre elas. É tão significativo hoje quanto tem sido ao longo da história;, acredita Sheril Kirshenbaum.