Com o declínio acentuado nas populações de diversas espécies animais ; de sapos e lagartos a tigres ;, um grupo de cientistas acaba de lançar um preocupante alerta: a Terra já pode estar passando pelo sexto período de extinção em massa. Nos últimos 540 milhões de anos, por cinco vezes uma quantidade generosa de exemplares de determinadas espécies desapareceu do mapa. Todos os eventos ocorreram devido a causas naturais. Dessa vez, porém, a culpa de 47 mil espécies estarem ameaçadas é do homem.
Em um estudo publicado na edição de hoje da revista especializada Nature, paleontobiólogos da Universidade da Califórnia em Berkeley avaliaram os locais onde mamíferos e outras espécies sofrem, hoje, o risco de extinção e compararam os dados com os de catástrofes ocorridas no passado. ;Se você olhar apenas os animais criticamente ameaçados ; aqueles com risco de extinção de 50% em menos de três gerações ; e considerar que em mil anos estarão extintos, isso nos mostra que estamos a caminho de uma extinção em massa;, alertou o principal autor do estudo, Anthony D. Barnosky, professor universitário e curador do Museu de Paleontologia da UC Berkeley. ;Se as espécies que já se encontram em risco ; aquelas classificadas como criticamente ameaçadas, ameaçadas ou vulneráveis ; realmente forem extintas, e se essa taxa de extinção continuar, isso poderá levar à sexta extinção em massa entre 300 anos e 22 séculos;, disse, na apresentação do estudo.
Apesar disso, o estudo indica que ainda há esperança. Barnosky afirma que não é tão tarde para salvar os mamíferos em vias de desaparecer. Para isso, porém, será necessário lidar com diversas questões, como espécies invasivas, manutenção de hábitats e aquecimento global. ;Ainda temos uma boa parte do biota para salvar. É muito importante investir em recursos e legislações sobre a conservação dos animais se não quisermos que a nossa seja a espécie causadora de uma extinção em massa;, anunciou.
Professor de biologia integrativa e diretor do Museu de Paleontologia da universidade, o coautor do estudo Charles Marshall enfatiza que, apesar de a lista de animais ameaçados não contabilizar, ainda, três quartos de espécies perto de desaparecer, isso não significa que a Terra não está passando por uma crise séria. ;Apenas porque a magnitude é baixa, comparando-se às grandes extinções de massa que ocorreram nos últimos 500 milhões de anos, isso não quer dizer que não sejam significativas;, escreveu, em um comunicado de imprensa distribuído pela UC Berkeley.
Richard Lane, diretor da Divisão de Ciências da Terra da National Science Foundation, que financiou o estudo, afirma que, por trás da ameaça, estão as pegadas humanas. ;A extinção em massa moderna está intimamente ligada às mudanças climáticas e à atividade do homem. Se a progressão continuar, como mostrou o estudo, isso poderá ter consequências jamais vistas e irreversíveis para o ambiente e para a humanidade;, afirmou à agência de notícias AFP.
;Das quatro bilhões de espécies que estimamos terem evoluído na Terra, 99% desapareceram ao longo de 3,5 bilhões de anos. Isso mostra como a extinção é um evento comum, mas, normalmente, é balanceada pela especiação (o surgimento de novas espécies);, diz o estudo. ;Essas ondas balanceadas ocorreram diversas vezes na história da vida, mas apenas por cinco vezes podemos qualificá-las como extinções em massa: nos períodos Ordoviciano, Devoniano, Permiano, Triássico e Cretáceo;, explica o texto (veja quadro). O artigo diz que diversas causas estão por trás das extinções, mas sempre os fenômenos foram naturais. ;Dados modernos, porém, indicam que, agora, a sexta extinção é causada por fatores humanos, como a degradação de hábitats, a superexploração de recursos naturais e o aquecimento do planeta.;
Segundo Barnosky, serão necessários mais estudos para confirmar a descoberta, mas ele alerta que a lista de animais ameaçados ou em risco de extinção da União para a Conservação da Natureza, que serviu de base para o estudo, já é um indício de que a Terra caminha para sua sexta extinção de espécies em massa. ;Nossas descobertas mostram como é essencial salvar os animais criticamente ameaçados e as espécies vulneráveis. Com eles, a biodiversidade continua em boa forma. Mas se a maioria deles morrer ou estiver próxima disso nos próximos mil anos, então isso quer dizer que esse evento já começou;, alerta.
Condenados
Por causa das mudanças climáticas, os lagartos já estão a caminho de uma extinção em massa, de acordo com um grupo de 26 cientistas provenientes de 11 países, incluindo o Brasil. No ano passado, eles calcularam que, no ritmo atual do aumento de temperatura, 40% das populações locais e 20% de todas as espécies estarão extintas até 2080.