postado em 13/03/2011 14:36
Poucas pessoas enfrentam a broca odontológica com tranquilidade e sem receios. Para a maioria dos mortais, o barulho do famoso motorzinho é tão temido que não é preciso que o instrumento toque o dente para se ter a desagradável sensação de dor. Especialistas britânicos estão muito perto de resolver esse problema ou pelo menos amenizar, o medo daqueles que chegam a postergar a visita ao dentista para não ficar frente a frente com o acessório usado nos tratamentos dentários. Profissionais do King;s College London, da Brunel University e da South Bank University, na Inglaterra, desenvolveram um dispositivo que anula o ruído na broca. O paciente pluga seu fone de ouvido no aparelho, que pode ser conectado a qualquer MP3 player, e escuta música, em vez do som ameaçador e traumático. De acordo com Brian Millar, pesquisador, professor do College London;s King;s Dental Institute e um dos profissionais envolvidos no projeto, mesmo com o fone nos ouvidos o paciente escuta a voz do dentista, porque um chip presente na engenhoca filtra apenas o ruído indesejado da broca. Millar se inspirou nos esforços da montadora Lotus, que desenvolveu um sistema removedor de ruídos desagradáveis do trânsito que não impede ao motorista escutar sirenes de emergência. ;Estamos negociando a comercialização da invenção. Acredito que, provavelmente daqui a um ano, poderemos vislumbrar a inclusão do produto no mercado;, adianta Millar.
[FOTO1]A novidade será bem-vinda, garantem dentistas brasileiros que já se valem de alguns artifícios para driblar o temor dos pacientes. O ortodontista Jorge Faber pondera que o medo da broca é um problema relacionado à faixa etária a que o paciente pertence, já que os mais velhos tiveram muito mais experiências negativas com ela do que a nova geração. No entanto, admite ele, o temor é passado dos pais para os filhos. Faber explica que antigamente quase todas as lesões de cáries eram restauradas e que os indivíduos com mais de 30 anos viveram experiências com as brocas sem que isso fosse efetivamente necessário. ;Hoje, a doença pode ser controlada com fluor e instruções ao paciente. Sabemos que, muitas vezes, os danos provocados pela broca são maiores que as avarias da própria cárie. O mal pode ser estagnado com abordagem menos traumática;, afirma.
Faber também considera que a relação entre dentistas e pacientes mudou drasticamente. Para ele, mais do que aparatos tecnológicos que driblam o barulho da broca, a conversa franca é fundamental para o indivíduo que precisa se submeter ao tratamento, mas tem medo. ;É preciso investir tempo e energia e criar uma atmosfera agradável, uma experiência positiva ao paciente. A broca ainda é necessária, mas dispomos de algumas técnicas que dispensam o motor e são ótimas, principalmente para crianças;, acrescenta o dentista (leia Palavra de especialista).
;Corredor da morte;
O administrador de empresas Leonardo Augusto Oliveira Santos, 30 anos, sempre teve receio do ruído da broca. Ele conta que o incômodo vem desde a infância e que chegou a evitar as recomendadas visitas periódicas ao dentista por cinco anos. ;Associava o barulho do motorzinho à dor. Ficava tão nervoso que tinha crises de riso que eram escutadas fora do consultório;, diz. O riso incontido e o nervosismo foram contornados somente quando Leonardo encontrou um profissional que teve paciência para explicar tudo o que estava sendo feito em sua boca. ;Uma boa conversa é tudo. Já percebi que a música ambiente também ajuda. Hoje, ainda tenho respeito pela broca, mas sei que não estou no corredor da morte;, brinca.
A servidora pública Andréa Cavalcanti, 33 anos, considera que o seu trauma em relação ao barulho do motorzinho foi herdado da mãe. ;Ela me levava, mas tinha muito medo. Em uma ocasião na qual precisei extrair um dente, fugi do consultório. Foram sete dias de fuga. Eu lutava com todas as armas. Chegava ao cúmulo de morder os dentistas. Eles também fugiam de mim;, lembra. Com o tempo, Andréa passou a perceber que o tratamento odontológico foi ficando mais humanizado. ;O medo é superado quando o profissional tem habilidade para lidar com essa sensação do paciente;, avalia.
A ortodontista Vívian de Castro Feres tem investido no aparato tecnológico e psicológico para ajudar seus pacientes. Ela reforça que a odontologia já foi muito primitiva e frisa que, antigamente, os tratamentos eram traumáticos e mutiladores. Segundo ela, atualmente, a experiência das crianças e adolescentes é completamente diferente. ;Colchões de massagens e óculos de DVD proporcionam relaxamento, desvio de atenção. Crianças e adultos passam a não ligar para o barulho da broca, porque são envolvidos com esses agradáveis passatempos. Fazemos extrações e eles nem sentem;, garante.
A gestora de recursos humanos Aline Ribeiro, 27 anos, não abre mais mão dos futuristas óculos de DVD. Para ela, o barulho da broca é muito parecido com o de uma britadeira e lhe causa pânico, porque é sempre associado à dor. ;O medo tem fundamento. Quase todo mundo já sentiu esse desconforto com a broca. Talvez, até pela tensão que ela desencadeia. Me acostumei com o colchão de massagem. Ele ajuda a relaxar e os óculos me distraem;, conta.