Ciência e Saúde

Livro faz relação entre mentes brilhantes e "perturbadas"

postado em 21/03/2011 07:00
;Criatividade e loucura são primas próximas.; A afirmação é do especialista em robótica Daniel H. Wilson, que chegou a essa conclusão depois de pesquisar a biografia de alguns dos mais famosos cientistas da história ; verdadeiros e fictícios. Depressão, bipolaridade e outros distúrbios psicológicos são alguns dos problemas mais comuns enfrentados por mentes brilhantes que figuram tanto nos livros de história como em romances, filmes e histórias em quadrinhos. A reunião da ampla pesquisa feita pelo norte-americano, em parceria com a psicóloga Anna C. Long, está no livro A galeria da fama dos cientistas malucos (Cultrix), que mostra de maneira bem-humorada como sanidade e genialidade nem sempre andam juntas.

Em entrevista ao Correio, Wilson explica que, durante o processo de produção do livro, descobriu que a mente dos grandes gênios muitas vezes funciona de forma peculiar. ;Grandes descobertas exigem uma maneira diferente de pensar, uma perspectiva única. Caso contrário, teriam sido desvendadas anteriormente;, acredita o autor. Segundo ele, em muitos casos, é justamente essa visão diferente da realidade que garante a genialidade e a loucura de alguns. ;Algumas pessoas são muito mais espertas do que a maioria, mas não têm nenhuma ideia de como interagir com os outros. Como resultado, elas criam uma imagem de estranheza ou loucura sobre si;, completa.

O trabalho da dupla de pesquisadores incluiu um levantamento de cartas, reportagens e escritos de diversos cientistas. Lendo correspondências entre a química polonesa Marie Curie e sua irmã, por exemplo, foram encontrados trechos que sugerem que a ganhadora de dois prêmios Nobel passou a sofrer de depressão e anedonia, incapacidade de sentir prazer mesmo em atividades que antes lhe causavam grande satisfação. ;Em cartas para amigos e familiares, Marie escreveu certa vez que nem mesmo as filhas conseguiam ;despertar vida; nela;, relata o livro.

Já Nikola Tesla, um dos maiores estudiosos da eletricidade, muito provavelmente possuía transtorno obsessivo compulsivo (TOC) relacionado à limpeza, tanto que muitas de suas invenções foram direcionadas para essa área. ;Ele previa que algum dia as prefeituras iriam adotar aspiradores elétricos de pó e aparelhos para esterilizar o ar, a água e a comida. Nikola Tesla estava obviamente interessado em usar a tecnologia para aliviar seus próprios sintomas obsessivos;, conta outro trecho da obra.

A maneira peculiar que alguns cientistas tinham de ver o mundo acabou sendo transplantada para os romances e as telas do cinema e mereceu a atenção também de Daniel Wilson e Anna Long. Lex Luthor, o arquirrival do Super-Homem apresenta, segundo a dupla, claros sintomas de distúrbio bipolar e mania de organização. Assim como Marie Curie, Victor Frankenstein, personagem imaginado por Mary Shelley, também tem traços de depressão e melancolia. ;Suponho que a diferença real entre os dois é que a cientista real não criou um humanoide;, brinca Wilson.

Inovação
Para o estudioso de filosofia da ciência Samuel José Simon Rodrigues, parte dessa fama que os cientistas ganharam ; e que foi transplantada para a literatura e o cinema ; vem do caráter bastante inovador de algumas das descobertas. ;A inovação inerente ao processo de descoberta muitas vezes desafia o que se conhece até então e, às vezes, precisam de tempo até que seu funcionamento seja comprovado;, conta o especialista da Universidade de Brasília (UnB).

Outro fator que dá essa aura aos cientistas é que nem sempre inventos e teorias se mostram viáveis. ;Einstein relatou que, quando era técnico de patentes em Berna (Alemanha), quase todos os meses analisava um invento que propunha o moto contínuo;, lembra Rodrigues, em referência ao desejo humano de desenvolver uma máquina que funcione eternamente sem combustível, contrariando todas as leis da física. ;Ou seja, não que tais pessoas sejam loucas, mas uma pessoa que propõe tal invento provavelmente desconhece princípios básicos da física;, diz o filósofo.

Rodrigues concorda com os autores norte-americanos no que diz respeito à personalidade ;insana; de alguns grandes cientistas, mas lembra que em muitos casos a causa é uma desconfiança que vem da ignorância. ;Foi assim com Newton, e sua teoria da gravitação universal; Mendel, com os fundamentos da genética; Einstein, com teoria da relatividade restrita; Freud, com o conceito de inconsciente; e, sobretudo, Darwin, com a teoria da evolução, lamentavelmente não aceita por algumas correntes religiosas até hoje;, enumera.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação