Ciência e Saúde

Ecossistema é compreendido melhor pela análise de restos de animais

Paloma Oliveto
postado em 02/04/2011 07:00


Graças a pedaços de ossos escavados em rochas, cavernas e bancos de areia, os paleontólogos conseguem reconstituir a fauna de milhões de anos atrás. No entanto nem só os fósseis de dinossauros e de outros animais extintos têm uma história para contar. Esqueletos de espécies modernas também podem ajudar a compreender as mudanças no ecossistema ao longo das últimas décadas ou séculos, de acordo com um estudo publicado na revista especializada PloS One.

Depois de observar atentamente ossadas de animais espalhadas na natureza, o pesquisador Joshua H. Miller, aluno de pós-doutorado da Universidade Estadual de Wright, em Ohio, percebeu que tinha em suas mãos uma poderosa ferramenta de estudo. ;Os esqueletos dos animais podem fornecer uma visão crítica sobre a história do ecossistema, especialmente a respeito de como as populações mudaram ao longo das décadas;, diz Miller ao Correio.

De acordo com o biólogo, os esqueletos dão boas pistas sobre os distúrbios que vêm alterando o ambiente, como o aquecimento global, a caça desenfreada e a destruição dos hábitats. ;Essas mudanças resultam na redução de populações e na extinção de algumas espécies. Ao mesmo tempo, outros grupos de animais se expandem e invadem novos hábitats e regiões;, explica Miller. ;A maioria dos ecossistemas ainda não foi estudada em relação a longos períodos de tempo, o que dificulta a capacidade dos gestores de políticas ambientais e dos cientistas de documentar ou mensurar corretamente essas mudanças ecológicas;, afirma.

Na pesquisa, financiada pela Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos, Miller examinou os ossos dos esqueletos de mamíferos ungulados (com casco nas patas) encontrados no Parque Nacional de Yellowstone. As ossadas pertencem desde a animais recém-mortos a exemplares com cerca de 200 anos. Em seguida, o cientista comparou o número de indivíduos de cada espécie documentada com a quantidade de espécimes das populações ainda vivas.

Ele descobriu que, em geral, os ossos de Yellowstone fornecem informações mais detalhadas sobre o passado do que se poderia deduzir a partir do estudo apenas do ecossistema atual. De acordo com Miller, ao analisar esqueletos de até 100 anos atrás, foi possível constatar uma predominância maior, no passado, de animais que hoje são sub-representados no parque. Ao mesmo tempo, os que atualmente abundam em Yellowstone eram mais escassos antigamente. ;Os alces, por exemplo, existiam em um número muito maior na década de 1990;, aponta. Segundo ele, apenas pelo estudo da fauna atual não seria possível prever que uma grande quantidade de exemplares da espécie vivia no local há um século.

Cavalos
Os ossos de cavalos, animais que foram substituídos por carros como o principal meio de transporte de Yellowstone no início de 1900, também são facilmente encontrados no parque. A datação por radiocarbono confirmou que a maior parte dos esqueletos remanescentes é do fim do século 19 e do começo do 20. Sem mais tanta necessidade desses animais para puxar carroças, a criação de cavalos sofreu uma queda, que pode ser constatada ao se comparar a grande quantidade de esqueletos antigos à atual população, bem mais reduzida.

Diferentemente dos cavalos e dos alces, outras espécies unguladas eram pouco representadas no passado e, hoje, dominam a paisagem do parque. É o caso das cabras montanhesas e dos bisontes, cujos esqueletos são escassos, mas abundam, atualmente, no local. ;Os ossos fornecem uma ótima ferramenta para investigar dados ecológicos históricos que nos permitam enxergar a biodiversidade moderna em um contexto mais amplo;, acredita Miller. ;As populações que vivem em Yellowstone têm sido estudadas por um longo tempo, mas agora podemos ir além, obtendo, a partir dos esqueletos, informações sobre como os ecossistemas sofreram alterações ao longo dos últimos anos;, defende.

;Joshua mostrou que os ossos encontrados em Yellowstone contam com precisão a história recente e mais antiga das populações de grandes mamíferos nesse famoso ecossistema da América do Norte;, elogia ao Correio Kay Behrensmeyer, curador de Paleontologia de Vertebrados do Museu de História Natural de Smithosonian. ;Esse estudo deve estimular os ecólogos interessados nos movimentos, nos aumentos e nos declínios das populações de grandes mamíferos de qualquer lugar do mundo. Os ossos são uma fonte relativamente inexplorada e valiosa de informação ecológica sobre os animais;, defende.

Crânio de alce: estudo mostra que a espécie era mais abundante no parque há duas décadas

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação