Ciência e Saúde

Cientistas descobrem espécie de acaro que destrói defesa de plantas

Com teia similar à da aranha, espécie descoberta por cientistas brasileiros e holandeses mata a planta entre 30 e 40 dias. Desafio é descobrir como fazer com que os vegetais tornem-se mais resistentes aos ataques

Paula Takahashi
postado em 13/04/2011 08:00
Quando ataca a planta, o ácaro Tetranychus evansi lança caoticamente uma estrutura, no formato de teia, tornando a entrada de predadores praticamente impossível.
Belo Horizonte ; Assim como os animais, as plantas têm métodos naturais de defesa contra o ataque de predadores. Espinhos, substâncias tóxicas que causam irritação ou têm ação abrasiva, odores fortes e pelos são alguns deles. Além de mecanismos físicos, as plantas também contam com um sistema de defesa induzido, que só é ativado quando está sob ataque. ;Enquanto ela está quieta, tem uma produção baixa de compostos tóxicos;, explica o pesquisador da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Ângelo Pallini. ;Mas quando é atacada por herbívoros identificados como pragas ; a partir do reconhecimento das enzimas salivares ; ela liga seu sistema de defesa;, diz.

A ativação desse processo de combate ao predador pode ocorrer de maneiras distintas. ;A planta pode aumentar a quantidade e a concentração de compostos tóxicos que ela já produz;, cita Pallini. Outra alternativa é a produção de voláteis, odores usados para atrair os inimigos naturais da praga. ;Os animais chegam até a planta guiados por esses cheiros. O gergelim é um exemplo de planta que produz esses voláteis em maior quantidade;, observa o pesquisador. Há ainda a ativação de rotas de defesa no interior do vegetal, com a produção de compostos químicos, como os inibidores de protease ; enzimas que degradam proteínas e de grande importância no trato digestório do herbívoro. ;Esses compostos dificultam a digestão da planta.;

No entanto, o forte arsenal de defesa encontrou um inimigo à altura: o ácaro vermelho Tetranychus evansi. É o primeiro registro de espécie capaz de eliminar a indução de compostos de defesa das plantas, impedindo a ativação da rota de produção de inibidores de protease. Os ácaros conseguem isso suprimindo a indução das vias sinalizadoras dos ácidos salicílico e jasmônico, que fazem parte do mecanismo de defesa. A descoberta foi feita por um grupo de pesquisadores de entomologia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), da qual o pesquisador Ângelo Pallini faz parte, da Universidade Federal de Tocantins (UFT) e da Universidade de Amsterdã (UvA), na Holanda, apoiado pelo Programa Bolsa Conhecimento Novo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).

;Esse ácaro é o primeiro relato na literatura de um herbívoro capaz de impedir a ação do sistema de defesa das plantas;, afirma Pallini. ;Ele desliga a expressão do gene que faz com que a planta produza o inibidor de protease. Além disso, interfere na produção de voláteis, diminuindo sua quantidade e, consequentemente, impedindo que os inimigos sejam atraídos para combate à praga;, descreve. Segundo o especialista, a peculiaridade do ácaro vermelho é consequência de uma ação de coevolução em que os exemplares mais aptos da espécie sobreviveram e disseminaram a caraterística.

O Tetranychus evansi especializou-se em plantas de tomate, as principais vítimas de sua ação destrutiva. Em contato com o tomateiro, o ácaro inicia um processo de produção de teia semelhante às das aranhas. ;Quando ele se instala, já começa o processo de desligamento da rota bioquímica de produção de inibidores de protease e de voláteis, que é muito rápido. Três dias depois do primeiro contato, a planta já não produz mais os inibidores;, explica Ângelo Pallini. A teia que cobre toda a área da folha também funciona como um mecanismo de proteção do ácaro, atuando como uma espécie de barreira contra os inimigos.

O herbívoro passa, então, a se alimentar do conteúdo citoplasmático da célula da planta. ;A planta seca por inteiro e morre entre 30 e 40 dias. Como o ácaro tem um ciclo de vida muito rápido, à medida que sua população aumenta, a velocidade de destruição da planta pode chegar a poucas semanas;, afirma o pesquisador da UFV. A interferência provou-se tão efetiva que as plantas atacadas tornaram-se melhores fontes de alimento e mais atrativas aos ácaros do que as plantas que não sofreram ataques.
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