Ciência e Saúde

Astrônomos conseguem identificar galáxia formada no início do Universo

Paloma Oliveto
postado em 14/04/2011 07:02
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Há 13 bilhões de anos, uma esfera com diâmetro inferior a 1cm explodiu. Era tanta energia armazenada naquela casca de noz, como comparou certa vez o astrofísico Stephen Hawkin, que o evento deu origem à matéria. E, assim, surgiu o Universo. Até agora, isso é quase tudo que a ciência conhece sobre a origem do cosmos. Mas com a ajuda de supertelescópios, os detalhes da criação começam a aparecer. Ontem, a Agência Espacial Americana (Nasa) e a Agência Espacial Europeia (ESA) divulgaram uma imagem que poderá fornecer mais pistas sobre o que aconteceu logo depois da grande explosão.

O telescópio Hubble flagrou uma distante galáxia cujas estrelas se formaram muito cedo, quase ao mesmo tempo que o big bang. Elas são 200 milhões de anos mais velhas que o Universo, um intervalo de tempo ínfimo quando se trata do espaço sideral. ;Essa descoberta desafia teorias sobre a idade das primeiras galáxias, assim como sobre os primeiros anos do Universo. Ela poderá nos ajudar a solucionar o mistério sobre como as nuvens de hidrogênio se condensaram para preencher o espaço;, diz o astrônomo Johan Richard, principal autor de um estudo sobre o assunto que será publicado pela Royal Astronomical Society.

Por enquanto, sabe-se que logo depois do resfriamento da energia liberada durante o big bang, as partículas de matéria começaram a se unir, criando prótons, nêutrons e elétrons. Eram os primeiros átomos que se formavam. A maioria era de hidrogênio, que preenchia 75% do Universo. As nuvens do elemento químico se agruparam, dando origem às estrelas. Aquelas cuja massa era muito pesada, explodiam como a própria casca de noz, em um evento chamado supernova, e a fusão do hidrogênio com o oxigênio e o carbono que estava dentro dessas estrelas se espalharam por todo o espaço. Sucessivamente, as nuvens de hidrogênio foram originando mais e mais galáxias.

Lupa
No artigo, Richard conta que a galáxia descrita foi observada através de um aglomerado de estrelas chamado Abell 383, cuja poderosa gravidade desvia os raios de luz, uma distorção que causa um efeito parecido ao de uma lupa. ;A gravidade distorce a relação espaço-tempo, o tecido do cosmos;, explica o astrofísico ao Correio. ;Isso significa que, para objetos extremamente maciços, com campos gravitacionais muito fortes, ao viajar por e ao redor deles, os feixes de luz vão se desviando. Aglomerados maciços como a Abell 383, então, agem como uma enorme lente, concentrando a luz de objetos que estão distante, e, atrás deles, ocorre um processo chamado lente gravitacional;, diz. Graças a essa ;lupa;, é possível fazer observações detalhadas mesmo das galáxias mais distantes da Terra. ;Sem as lentes gravitacionais, nem os maiores telescópios do mundo conseguiriam visualizá-las;, explica Richard.

Depois de observar as imagens capturadas pelo Hubble, a equipe de astrônomos usou uma técnica chamada espectroscopia, com a ajuda do telescópio Keck II, baseado no Havaí. Essa tecnologia permite estudar, separadamente, as cores de um feixe de luz, o espectro. Com isso, a equipe conseguiu medir o desvio para o vermelho das estrelas e obter informações sobre suas propriedades químicas e físicas. ;Como o Universo está em constante expansão, a luz emitida por objetos distantes vai se esticando e ficando mais vermelha, à medida que se aproxima de nós. Esse fenômeno é conhecido como desvio para o vermelho. Quanto mais longe está o objeto, maior o desvio para o vermelho. Para objetos muito remotos, o desvio pode ser usado para quantificar sua distância;, esclarece Richard.

O espectroscópio mostrou que o desvio para o vermelho da galáxia observada é de 6,027. ;Isso significa que a vemos, hoje, da mesma forma que ela era quando o Universo tinha 940 milhões de anos;, diz Richard. A idade não faz dela a galáxia mais remota já detectada ; já se confirmaram desvios para o vermelho bem maiores do que isso ;, mas a descoberta é importante porque as características observadas no aglomerado são completamente diferentes daquelas encontradas em outras galáxias distantes, que geralmente só brilham nas regiões onde há estrelas jovens.

Precoce
;Quando olhamos o espectro, duas coisas ficaram claras: como esperávamos, o desvio para o vermelho confirmou que a galáxia foi formada no início do Universo. Mas o infravermelho também mostrou que ela é composta por estrelas surpreendentemente antigas e com massa relativamente baixa. Isso nos mostrou que a galáxia foi formada 200 milhões de anos depois do Universo, muito mais cedo do que imaginávamos;, aponta Eiichi Egami, coautor do estudo, por meio da assessoria de imprensa da ESA. ;Graças à amplificação da luz da galáxia pelas lentes gravitacionais, conseguimos dados de excelente qualidade. Nosso trabalho confirma algumas observações anteriores que apontavam a presença de estrelas antigas em galáxias precoces. Isso sugere que as primeiras galáxias foram formadas muito antes do que o imaginado.;

Segundo os astrônomos, a descoberta tem implicações para o estudo da formação dos primeiros aglomerados de estrelas e poderá explicar como o Universo tornou-se transparente no seu primeiro bilhão de anos. No início, o cosmos era tomado pelas nuvens espessas de hidrogênio, gás que bloqueia a passagem da radiação ultravioleta.

De acordo com os pesquisadores, somente uma forte fonte de energia poderia limpar o nevoeiro, tornando o Universo transparente como é hoje. Para os astrônomos, a radiação que impulsionou o fenômeno está relacionada às galáxias antigas, mas, até agora, poucas foram encontradas com o nível de radiação necessário para ;furar; as nuvens de hidrogênio. ;Galáxias formadas por estrelas antigas e com pouca massa, como a que encontramos, podem ter fornecido a radiação necessária para que o Universo se tornasse transparente;, escrevem os autores, no artigo.

Efeito sobre as ondas
Veja uma explicação prática sobre o desvio para o vermelho fornecida pelo projeto Sloan Digital Sky Survey: ;Se você já ficou parado ao lado de uma estrada enquanto um carro está passando, tem uma ideia do que é desvio para o vermelho. Quando o carro está se movendo na sua direção, o motor parece emitir um som mais agudo do que se estivesse estacionado. Por outro lado, quando o carro se move, se distanciando de você, o som do motor parece mais grave. A razão para essa mudança é o efeito Doppler: quando o carro se move na sua direção, as ondas sonoras do motor são comprimidas. E quando o carro se afasta, essas ondas sonoras são esticadas. O mesmo efeito acontece co

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