Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Tragédia do massacre em Realengo acende debate sobre o bullying nas escolas

A perseguição sistemática sofrida por alunos nas escolas começou a ser discutida no Brasil apenas recentemente. Os primeiros estudos sobre o tema no país são do começo dos anos 2000, e a maioria dos pais e educadores não sabe como enfrentar o problema. A discussão, porém, tornou-se fundamental depois da tragédia ocorrida no último dia 7 na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro. Depois do crime cometido por Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, que matou 12 crianças antes de atirar contra a própria cabeça, vários relatos informaram que, no período em que estudou no colégio, o atirador foi vítima de bullying. Isso levantou a dúvida sobre como o abuso sofrido pelo rapaz pode ter colaborado para a tragédia.

Para a médica psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, não é possível afirmar que o bullying levou Wellington a desenvolver os problemas mentais que ele claramente tinha, sendo o mais provável a esquizofrenia. Mas ela ressalta que, ao atingir um quadro de delírio, o rapaz deve ter acessado experiências antigas que o levaram a planejar a ação na escola. ;O delírio como o vivido por ele costuma ser compatível com as vivências da pessoa;, explica a médica. Em outras palavras, alguém que nunca sofreu bullying nem teve experiências ruins na escola dificilmente pensaria em agir como Wellington fez, direcionando seu delírio para outro aspecto da sua vida.

Campanhas
Além do episódio chocante ocorrido no Rio de Janeiro, uma série de estudos reforçam a importância de campanhas e programas que busquem combater a prática do bullying. O estresse prolongado que esse tipo de violência gera é capaz de abrir as chamadas genéticas prévias das vítimas, doenças para as quais elas têm predisposição e acabam se manifestando devido ao trauma. Dessa forma, o abuso pode facilitar o surgimento de males como hipertensão, diabetes e uma série de doenças autoimunes.

O autor da pesquisa norte-americana, Yoav Litvin, lembra que o bullying causa uma série de efeitos negativos nas vítimas, especialmente em crianças. Para ele, seu experimento pode servir de alerta às autoridades e educadores sobre quão nociva pode ser a prática. ;Eu espero que nossas conclusões levem a uma maior consciência sobre o prejuízo que o bullying pode causar às vítimas e inspire a promoção de programas educativos antiviolência;, diz.

No Brasil, uma importante iniciativa nesse sentido é coordenada por Ana Beatriz Silva. Ela elaborou uma cartilha para orientar pais e professores sobre o tema. As primeiras cópias foram impressas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no fim do ano passado, e agora ela busca fechar parcerias com instituições em todos os estados brasileiros para ampliar o número de escolas atendidas. Ela antecipa ainda a realização, também em parceria com o CNJ, de um concurso nacional que premiará os alunos autores das melhores obras sobre o tema. ;Precisamos mostrar aos estudantes como é glamoroso ser do bem e apoiar a bandeira da paz;, prega a médica. (HR)