postado em 18/04/2011 07:00
Belo Horizonte ; Uma nova e premiada plataforma tecnológica desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) é capaz de diminuir o custo produtivo de petróleo, o que é considerado essencial para manter a competitividade mundial do combustível que será produzido a partir da camada de pré-sal. Enquanto a empolgação em torno da descoberta das reservas no litoral brasileiro coloca o país nos holofotes da economia global, uma grave barreira pode estragar a festa: os especialistas garantem que a profundidade em que se encontram as reservas pode aumentar muito o custo de produção dos combustíveis e tornar a operação pouco promissora. Daí a importância da iniciativa da UFMG, que ainda apresenta a vantagem de utilizar técnicas mais ecológicas que as usadas hoje.Os produtos desenvolvidos são usados em diferentes estágios da extração do petróleo. ;Desenvolvemos três produtos a partir de uma plataforma tecnológica que chamamos de Surface Nano Growth (SNG);, explica o pesquisador Aluir Dias Purceno, do Grupo de Tecnologias Ambientais (GTA) do Departamento de Química da universidade. De acordo com ele, com a nova tecnologia, é possível controlar a polaridade dos materiais criados: isso significa que os cientistas têm controle preciso sobre a produção de substâncias que repelem água e têm afinidade com o óleo, ou com os dois líquidos ao mesmo tempo. ;Essa propriedade, associada ao magnetismo desenvolvido durante a produção faz com que esses produtos sejam únicos;, defende Dias.
A primeira solução desenvolvida pela equipe do GTA é uma nanoesponja capaz de absorver óleo na superfície de ambientes aquáticos com alta eficiência e baixo custo. ;Absorve óleo em situações como o derramamento de petróleo que ocorreu recentemente no Golfo do México;, exemplifica o doutorando. A nanoesponja tem menor custo, já que sua matéria-prima é a vermiculita, um mineral que o Brasil produz em larga escala. ;Além disso, ela tem a vantagem de possibilitar a recuperação do óleo absorvido após o uso, diminuindo em até 20 vezes o volume de resíduo contaminado a ser incinerado ou disposto em aterros apropriados;, acrescenta Aluir Dias.
Outro produto das pesquisas foi chamado de nanoamphil, combinação de bases com afinidade por água ; como a vermiculita, a lama-vermelha e a crisotila (matérias-primas abundantes e baratas) ; com nanotubos de carbono e núcleos metálicos. A associação desses componentes gera material magnético com afinidade tanto por água quanto por óleo (material chamado de anfifílico). Quando esse material é adicionado a misturas de óleo e água, como o petróleo recém-extraído de plataformas (offshore), ou à simples aplicação de um campo magnético (imã), o material consegue unir as bolhas de óleo, formando bolhas cada vez maiores, até que o óleo e a água estejam completamente separados.
;A aplicação é muito simples, o custo é até cinco vezes menor que qualquer produto similar do mercado e a separação magnética evita qualquer contaminação do petróleo ou da água;, destaca o pesquisador. Com isso, o nanoamphil dribla a contaminação ambiental que ocorre com os atuais produtos comercializados.
Meio ambiente
A preocupação com as questões ambientais também foi o norte para o desenvolvimento do terceiro produto criado a partir da SNG. ;Um dos grandes problemas atuais da indústria petrolífera é reduzir a quantidade de emissões de contaminantes sulfurados, nocivos ao meio ambiente. Para isso, eles devem reduzir a concentração desses compostos no combustível, como os que têm como base o enxofre.;
O Fentec, desenvolvido no GTA, também tem afinidade com água e óleo e é capaz de retirar o enxofre e seus compostos de maneira mais efetiva durante a fase emulsionada, como é chamada a mistura de petróleo e água. O Fentec é capaz de oxidar esses compostos, tornando-os materiais com menor afinidade pelo petróleo.
A pesquisa começou em 2003, com testes realizados no laboratório do GTA e nos laboratórios da Verti Ecotecnologias, em Belo Horizonte. Alguns testes começarão a ser feitos em parceria com o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O GTA desenvolve projetos em nanotecnologia para a Petrobras, mas nada diretamente ligado a esses produtos. Os próximos passos da pesquisa são os testes de aplicação em larga escala e a busca de investimentos.
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