Ciência e Saúde

Sul do Brasil, terra de animais que antecederam os grandes dinossauros

A mais recente descoberta realizada no estado é a espécie Decuriasuchus quartacolonia, que viveu há 240 milhões de anos

postado em 23/04/2011 08:00
A imagem acima mostra como os crânios de alguns animais foram encontrados e revela sua anatomia, incluindo o número e a posição dos dentes
A Região Sul é conhecida por paleontólogos do mundo inteiro como um local onde se encontram fósseis ; em abundância e bem preservados ; de dinossauros e de animais que deram origem a esses grandes répteis e aos primeiros mamíferos, há 250 milhões de anos. Afloramentos rochosos com vestígios da pré-história abundam na região e são considerados um verdadeiro tesouro a ser estudado. A descoberta recente de uma nova espécie de arcossauro no município de Dona Francisca, no Rio Grande do Sul, confirma a vocação da localidade para celeiro mundial de fósseis de animais que antecederam os dinossauros.

A descoberta desses animais tão antigos e tão bem conservados ajuda a entender como se deu a origem dos dinossauros, aves e crocodilos. ;O Sul é riquíssimo em rochas que trazem a história do período Triássico (há 250 milhões de anos) praticamente completa;, diz Max Languer, paleontólogo da Universidade de São Paulo (USP) que estuda a região.

O novo achado em Dona Francisca surpreendeu os cientistas por ser composta de 10 esqueletos ; todos muito bem preservados ; de uma espécie de arcossauro batizada de Decuriasuchus quartacolonia. Nove das ossadas estavam posicionadas umas sobre as outras. ;É a primeira vez na paleontologia mundial que é achada uma quantidade tão grande de indivíduos e tão bem preservados;, comemora Jorge Ferigolo, paleontólogo do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB/RS), que descobriu os fósseis. Até o momento, eram descritos fósseis de cinco espécies do Triássico no Brasil. Agora são seis, e todas foram encontradas no Rio Grande do Sul.

Segundo Ferigolo, foram resgatados das rochas três crânios completos e um incompleto, além da coluna, mãos, pés, bacias e caudas. ;É muito raro encontrar animais tão antigos bem preservados, ainda mais um bicho praticamente inteiro, como ocorreu nesse caso;, informa. Essa característica permitirá aos paleontólogos reconstruir a anatomia da espécie e, a partir dela, reconstituir como o animal era em vida e como se comportava.

Bando
Além de representar uma espécie nunca antes descoberta pela ciência, a importância desse novo achado está na maneira como os fósseis se preservaram. O fato de os esqueletos estarem dispostos nas rochas em conjunto representa a mais antiga evidência de comportamento gregário em arcossauros. A maioria dos répteis grandes e predadores vivem mais isolados. ;É incomum viverem em bando;, indica Marco França, responsável pela descrição do fóssil e paleontólogo da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo França, na linhagem dos dinos, esse comportamento social foi preservado. Os saurópodes ; aqueles dinossauros pescoçudos e enormes ; e os terópodes, representados pelo velocirraptor, viviam em manadas. Na linhagem pró-crocodilo ; à qual pertencia a espécie descoberta em Dona Francisca ; isso era mais raro. ;Existem alguns materiais fósseis já documentados com esse comportamento em arcossauros, mas nada muito concreto. Nosso trabalho corrobora com a confirmação de que essa maneira social de viver existia nessa linhagem;, afirma o paleontólogo.

Apesar de serem muito parecidos com alguns dinossauros carnívoros, os exemplares descobertos são, na verdade, parentes distantes dos crocodilos atuais. Com seus 240 milhões de anos, o Decuriasuchus quartacolonia é a espécie mais antiga com hábitos sociais complexos entre os parentes distantes dos crocodilomorfos e dos dinossauros. ;Até então, os indícios mais antigos de comportamento social entre espécies da linhagem pró-crocodiliana e dos dinossauros datavam de cerca de 10 milhões de anos depois;, esclarece França.

Desde a descoberta dos fósseis até as conclusões publicadas na versão on-line da revista alemã Naturwissenschaften, foram cerca de 10 anos. Segundo França, de 2001 a 2007, o material foi preparado e retirado da rocha. ;É um trabalho minucioso de separar a rocha dos fragmentos dos animais. Isso leva no mínimo três anos;, explica. A pesquisa científica de fato começou em 2007. Os pesquisadores analisaram a anatomia e compararam com outros arcossauros já descobertos para observar as diferenças morfológicas. A partir dessa comparação, a equipe chegou à conclusão de que se tratava mesmo de uma nova espécie. ;Nos arcossauros descobertos havia 17 dentes em cada maxila, enquanto que nos já existentes há entre 11 e 12 dentes;, exemplifica França. O próximo passo dos cientistas é terminar de montar o material e estudar sua anatomia. Os fósseis se encontram na Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul e fazem parte do patrimônio cultural do estado.

Crocodilos e aves
Trata-se de um grupo de répteis que surgiu no início da Era Mesozoica, há 250 milhões de anos. Rapidamente, espalharam-se pelos diversos continentes, onde tornaram-se os vertebrados dominantes. Atualmente, esse grupo é representado por crocodilianos (jacarés, crocodilos e gaviais) e aves. No passado, no entanto, os arcossauros eram mais diversificados e, além de crocodilianos e aves, eram representados pelos pterossauros (répteis voadores).

Em um dia
Se a história da vida na Terra pudesse ser comprimida num período de um dia (24 horas), os dinossauros teria aparecido às 22 horas e desaparecido 1 hora e 20 minutos depois. O ser humano teriam aparecido às 23 horas, 59 minutos e 54 segundos.

<b>Decuriasuchus quartacolonia</b><br>Altura: 60cm<br>Comprimento: 2,5m<br>Crânio: 30cm

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