postado em 27/04/2011 08:00
Ninguém está livre de perder um dente. Além do desconforto estético, a ausência de um ou mais componentes da arcada superior ou inferior compromete a fala, a mastigação, a digestão e a harmonia muscular da região da boca. No decorrer dos últimos 30 anos, o uso do titânio na substituição das raízes dentárias revolucionou a implantodontia, e as histórias de sofrimento e frustração depois das tentativas de implantes parecem fazer parte do passado. Com o auxílio de equipamentos de imagens ; essenciais para a avaliação do paciente e o cálculo milimétrico da cirurgia ; e tendo à disposição algumas técnicas que permitem soluções para os mais diversos casos, os bons profissionais conseguem preparar a cavidade para a colocação do implante e da prótese sem traumas. A dor e o edema são controlados com medicamentos e o pós-operatório é semelhante ao da extração de um dente.A conquista dessa realidade deve-se aos estudos do ortopedista Per-Ingvar Branemark, que, por meio de experiências com animais, descobriu que o titânio se integra ao osso. ;Antes disso, tínhamos diversos problemas com os materiais usados nos implantes que davam suporte às próteses. Com esse metal, o procedimento ficou muito mais seguro e o índice de sucesso superou todas as expectativas;, lembra a cirurgiã-dentista Ivete Sartori, vice-diretora do Instituto Latino-Americano de Pesquisa e Ensino Odontológico, centro de referência no Brasil. ;A fabricação dos pinos de titânio também no Brasil deixou o procedimento mais acessível;, acrescenta a especialista. Segundo ela, o preço de mercado de cada implante varia entre US$ 300 (cerca de R$ 470) e US$ 1 mil (pouco menos de R$ 1,6 mil), atualmente.
Para se ter uma ideia do avanço que essa peça de brilho prateado trouxe, antes dela, pelo menos 50% das tentativas de substituição da raiz dos dentes fracassavam. A maioria dos profissionais nem sequer se arriscava a fazer o procedimento, pois, quando se perdiam os implantes, a estrutura óssea também sofria danos. Por isso, as próteses removíveis, conhecidas popularmente como dentaduras, eram a única alternativa aos pacientes que buscavam preencher os espaços deixados pelos dentes perdidos. A descoberta da capacidade de osseointegração do titânio abriu espaço para outras pesquisas importantes. ;Hoje, com os equipamentos de imagens, softwares específicos e todo um aparato instrumental, pode-se planejar virtualmente a instalação dos implantes e das próteses, proporcionando enorme precisão e segurança ao paciente;, garante a cirurgiã.
A substituição das raízes perdidas é feita com implantes cujo comprimento mínimo é de 6mm. Quando a perda dentária compromete muito a estrutura óssea, é necessário se valer de enxertos, que podem ser feitos com ossos doados ou do próprio paciente, ou ainda, com biomateriais. Preenchido o espaço, aguarda-se a regeneração óssea por alguns meses para que o implante possa ser fixado. Para aqueles que não podem recorrer a essa técnica, dependendo do caso, existe a possibilidade do implante curto, que utiliza pinos de titânio menores fixados no osso da face.
Provisórios
Uma dúvida comum em relação ao tratamento, principalmente dos pacientes que perdem o dente acidentalmente e daqueles que usavam alguma prótese removível, é: o espaço ficará vazio até que o implante e a prótese possam ser fixados? A implantodontista Juliana Cintra Lima explica que sempre há uma alternativa provisória. ;Do implante até a colocação da prótese fixa que substituirá definitivamente o dente perdido, pode-se recorrer ao uso de próteses provisórias removíveis ou mesmo às fixas apoiadas aos dentes vizinhos. Depende de cada caso, mas a região não precisa ficar descoberta;, diz.
A cirurgiã reforça que os exames de imagem são fundamentais para a avaliação da estrutura óssea, principalmente a tomografia, que permite a visualização da região em três dimensões. ;A tomografia também é realizada na área doadora do enxerto, caso ele seja necessário;, pondera. Em casos muito específicos de pacientes que não apresentam perda óssea ou qualquer sinal de inflamação, é possível implantar o titânio e a prótese no mesmo dia. ;São situações raras e específicas. Geralmente, não temos como fugir da espera de alguns meses, porque quando os pacientes procuram essa alternativa já perderam o dente há muito tempo, o que quase sempre demanda o enxerto;, detalha.
Qualquer pessoa que tenha perdido um dente é candidata potencial ao implante. O tratamento é contraindicado somente para aqueles indivíduos com dificuldade para a higienização oral ou impedimento relacionado à saúde. O desconforto durante o processo é totalmente suportável, segundo Juliana. ;Hoje, contamos com anti-inflamatórios para prevenir o edema e, depois da cirurgia, lançamos mão de antibióticos e medicamentos para controlar a dor. No pós-operatório, a alimentação deve ser pastosa nas 24 primeiras horas e a introdução de alimentos mais sólidos vem com o tempo;, aconselha Juliana.
O aposentado Egon Fritzen, 78 anos, tem um problema genético que deixa a estrutura óssea da boca fraca. Por ser dentista, ao longo da vida passou por uma série de cirurgias e tentativas para contornar a perda dos dentes. Recentemente, técnicas específicas aplicadas às limitações de Egon trouxeram a solução. ;Um implante curto foi a opção para a maxila e conseguimos realizar os tradicionais na mandíbula. Para repor os últimos dentes que perdi, recebi a carga imediata, em que o tratamento protético é realizado 24 horas depois do implante. Hoje, como até churrasco;, comemora.
O professor universitário Godeardo Baquero, 83 anos, também não pensa em parar nos três implantes que fez recentemente. Ele conta que havia perdido três dentes superiores há algum tempo, mas temia o tratamento. ;Esteticamente, não era agradável, mas funcionalmente era pior. Usava uma prótese que me incomodava muito. Não senti dor. Não vou parar nesses três;, avisa.
As gerações mais jovens também tiram proveito dos implantes. O empresário Rodrigo Valls, 41 anos, teve que extrair um dente há três anos devido a um tratamento de canal mal feito na adolescência. ;Demorei um tempo para ter coragem de me submeter ao implante. Me surpreendi. Entre o dia em que fui ao consultório até a colocação do pino de titânio, se passou uma semana. Dois meses depois estava tudo pronto para a colocação da prótese. Foi um alívio;, revela.
Achado sueco
Ortopedista sueco que começou a estudar a osseointegração na metade do século passado, procurava encontrar um meio de remediar as deficiências físicos-funcionais de seus pacientes. A odontologia acabou beneficiada e, no fim dos anos de 1980, os implantes de titânio chegaram aos consultórios odontológicos.