Luiz Ribeiro/Estado de Minas - Enviado especial
postado em 11/05/2011 08:00
Belo Horizonte ; O desenvolvimento científico ajuda a indústria têxtil nacional a melhorar e se diversificar. Graças ao avanço nas pesquisas, surgem novos tipos de algodão (Gossypium hirsutum L.), incluindo variedades coloridas da planta. A análise da qualidade do floco branco também é de fundamental importância para a fabricação de uma fibra mais resistente, desejada tanto para produtores como para a indústria, cuja cadeia produtiva gera riquezas superiores a US$ 25 bilhões anualmente, representando cerca de 4% do PIB nacional. Nesse quesito, Minas Gerais ocupa um lugar de vanguarda. O Laboratório Minascotton, sediado em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, e vinculado à Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa), foi classificado como o terceiro mais preciso do mundo em análise de fibras de algodão.Atualmente, há mais de 10 variedades da planta cultivadas no Brasil e no mundo. Algumas delas foram geneticamente modificadas (transgênicas) e são mais resistentes a pragas e à falta de chuvas, garantindo maior produtividade. Um exemplo é o algodão transgênico desenvolvido por uma multinacional e há três anos introduzido em projeto experimental, que envolve pequenos agricultores no município de Catuti. A iniciativa representa um caminho para a retomada da produção algodoeira no norte do estado, onde a cotonicultura, nas décadas de 1970 e 1980, empregou milhares de trabalhadores no campo. No entanto, foi dizimada devido à chegada da praga bicudo-do-algodoeiro e das sucessivas secas.
;Com o avanço científico, é possível desenvolver variedades mais produtivas. As avaliações feitas no laboratório contribuem para a melhoria do algodão;, observa Anicézio Resende, responsável técnico pelo laboratório, lembrando ainda a técnica do cruzamento artificial, que consiste em aprimorar a produção do algodão colorido. Hoje, além do branco, existem variações cinzas, verdes e amarelas.
Inaugurada em 2006, a unidade de Uberlândia constitui um dos sete laboratórios de algodão do país credenciados pelo Ministério da Agricultura. E é por meio de seus equipamentos que é aferida a qualidade da pluma destinada à exportação. Também credenciado pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), o laboratório atende cotonicultores e indústrias têxteis de Minas Gerais e de estados vizinhos como Goiás, São Paulo e Bahia.
A iniciativa foi fruto das ações desenvolvidas pelo Programa Mineiro de Incentivo à Cultura do Algodão (Proalminas), coordenado pela Secretaria de Estado de Agricultura. ;O laboratório de Uberlândia é o pilar tecnológico do setor algodoeiro dentro de Minas Gerais;, afirma Lício Pena, diretor executivo da Amipa. ;Enquanto a associação organiza os produtores, reúne e disponibiliza informações do setor, o laboratório apura a qualidade do algodão produzido não só aqui, mas também de outros estados;, acrescenta. O maquinário foi importado da Índia.
Rigor
A unidade conta com salas climatizadas para armazenamento e estufas para a análise e caramelização (medição do grau de açúcar) do material. Dispõe ainda de sala específica para a classificação, onde é feita a análise visual e o take-up (aferição do produto pelo comprador). O laboratório conta com aparelho de análise de HVI (High Volume Instrument), onde são testes realizados para determinar características como o micronaire (grossura da fibra),comprimento, resistência e níveis de cor, entre outros.
;O take-up consiste na preparação dos lotes para avaliação, incluindo a classificação visual padrão universal e o relatório de HVI, elaborados no próprio laboratório, e a apresentação da amostra ao comprador interessado;, explica Pena. A pluma mineira analisada pela MinasCotton também é exportada para países como Itália, Alemanha, França, China, Paquistão, Portugal e Japão, entre outros.
Segundo Anicézio Resende, os equipamentos permitem medir o comprimento, a uniformidade e a resistência da fibra, assim como o grau de impureza e a coloração. ;O que mais chama a atenção é a confiabilidade no serviço prestado;, ressalta Resende, lembrando que o MinasCotton segue os mesmos parâmetros de avaliação de algodão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. O diretor executivo da Amipa enfatiza que tanto os produtores como a indústria têxtil têm muito a ganhar com os serviços do laboratório.
;A melhor qualidade da pluma favorece tanto quem produz como quem consome o algodão. A partir dos resultados das análises do laboratório, são levantadas informações que orientam os produtores sobre o manejo, para que possam produzir um algodão que atenda as necessidades das indústrias;, afirma Lício Pena. Os preços das análises variam entre R$ 1,50 e R$ 6,00 por amostra, dependendo do tipo e da quantidade solicitada. São analisadas em torno de 200 mil a 250 mil amostras por ano.
Aferição internacional
A classificação foi emitida de acordo com aferição do International Cotton Advisory Committee (ICAC), instituição internacional responsável pelas auditorias, sediado nos Estados Unidos e que atua como árbitro no mercado mundial do algodão. A rodada de aferições foi realizada em 80 laboratórios e 127 máquinas de todo o mundo, no período de outubro a dezembro do ano passado.
Fibra milenar
As primeiras referências históricas do algodão vêm de muitos séculos antes de Cristo. Escavações arqueológicas nas ruínas de Mohenjo-Daro, no Paquistão, revelaram vestígios de tela e cordão de algodão com mais de 5 mil anos. Na América, restos encontrados no litoral norte do Peru evidenciam que povos daquela região já manipulavam os flocos brancos há 4.500 anos. No Brasil, pouco se sabe sobre a pré-história dessa malvácea. Na época do descobrimento do país, os indígenas já a cultivavam e a convertiam em fios e tecidos.