postado em 16/05/2011 08:49
Em tempos de aquecimento global, observar o comportamento da natureza é fundamental para entender os fatores que levam às mudanças climáticas. Entre essas abordagens científicas, está a fenologia, o estudo do ciclo de vida das plantas, que se mostra um eficiente meio de monitorar as alterações do meio ambiente ao longo das décadas. Daí a importância do projeto E-fenologia, que prevê o uso de novas tecnologias para monitorar a flora. A iniciativa, conduzida por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), acaba de ganhar um importante aliado: uma torre de observação que facilitará a coleta e a análise de dados por meio de câmeras e computadores.
O novo equipamento é muito bem-vindo. As observações nesse campo de estudo não são nada fáceis. Geralmente, elas envolvem visitas periódicas de pesquisadores ao campo para observar e registrar as alterações no ciclo de vida das plantas. Mesmo que essas incursões sejam realizadas com frequência, não há como monitorar a vegetação 24 horas por dia, nos sete dias da semana. Com a nova torre %u2014 que será instalada em uma área de cerrado, em Itapirina (SP) %u2014, essa tarefa se torna viável.
De acordo com a coordenadora do projeto, Patrícia Morellato, além das câmeras, a torre será automatizada e equipada com uma estação climática capaz de colher dados como temperatura e umidade. O projeto ainda considera a criação de um protocolo para o processamento e a compreensão das imagens capturadas nas diversas condições climáticas. Para a construção da estrutura, Patrícia conseguiu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Instituto Microsoft Research, ligado à gigante da informática.
Como forma de compreender se o sistema de monitoramento remoto é compatível com a observação feita em campo pelos biólogos, a especialista pretende cruzar os resultados já conhecidos com os obtidos pelos equipamentos. %u201CQuero saber se o que a câmera vê corresponde com o que eu vejo%u201D, enfatiza Patrícia, que é professora do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da Unesp, no câmpus de Rio Claro.
Dessa forma, a ideia é aliar as duas formas de pesquisa. Enquanto pesquisadores continuarão colhendo dados com o método tradicional, os equipamentos farão o monitoramento e a medição das variações ambientais (temperatura, luz, umidade e tempo), com fotos diárias. %u201CEssas imagens permitirão o estudo de várias áreas ao simultaneamente%u201D, comemora a professora.
Cooperação científica
De acordo com Juliana Salles, diretora do Instituto Microsoft Research, a nova metodologia traz a vantagem de proporcionar dados consistentes e precisos sobre os efeitos das variações climáticas na vegetação. %u201CAspectos como esse nos ajudam a entender melhor o ecossistema%u201D, diz. Ela também destaca a cooperação científica entre técnicos da Microsoft e cientistas brasileiros. O intuito é distribuir a expertize dos especialistas para o desenvolvimento de tecnologias que possam se tornar globais. %u201CNão nos interessa guardar o conhecimento, mas disponibilizá-lo de uma forma que o mundo todo possa utilizá-lo%u201D, explica.
Apesar de a fenologia ainda ser pouco desenvolvida no Brasil %u2014 o laboratório da Unesp é o único do tipo no país %u2014, ela é uma forma simples e eficiente de perceber respostas às variações ambientais de flores, folhas e frutos. Na Europa, por exemplo, são realizadas longas séries de observações nas quais é possível perceber se a mudança na temperatura é acompanhada por alterações na floração ou na produção das folhas.
Um dos motivos para as mudanças fenológicas serem mais óbvias nas zonas temperadas, como é na Europa e na América do Norte, é que nessas regiões as estações do ano são muito definidas. Por isso, o projeto da Unesp aposta em estudar o cerrado, cujas estações seca e chuvosa são bem distintas. %u201CUma série de décadas de observação fenológica desse bioma pode revelar importantes sinais de mudanças no clima%u201D, afirma Patrícia.
Os pesquisadores brasileiros, no entanto, não precisarão esperar tudo isso para chegarem a conclusões relevantes. Segundo a bióloga, observar as diferenças entre os microclimas do fragmento de cerrado em Itapirina já ajudará a entender as diferenças que virão ao longo do tempo com as mudanças climáticas e que poderão afetar o bioma como um todo.