Cristiana Andrade
postado em 14/06/2011 09:00
Belo Horizonte ; Um terremoto de magnitude 8,8 na escala Richter sacudiu o Chile em 27 de fevereiro do ano passado. Um ano e quatro meses depois, o vulcão Puyehue, com 2.240m de altura, localizado na Cordilheira dos Andes, entrou em erupção. Como resultado, o sul da Argentina ficou dias isolado, diversos aeroportos foram fechados e centenas de voos foram cancelados. Depois de uma breve melhora, ontem, as cinzas do Puyehue voltaram a provocar o caos no tráfego aéreo no Cone Sul, incluindo voos de companhias brasileiras. O último grande fenômeno chileno do tipo havia sido registrado 51 anos antes, na cidade de Valdivia, logo após o tremor de um terremoto de 9,5 graus, que deixou saldo de 5,7 mil mortos.No ano passado, a entrada em atividade do vulcão islandês na geleira Eyjafjallajokul fechou o espaço aéreo europeu, causando caos generalizado. Fenômeno similar ocorreu há menos de um mês, apesar da intensidade ser bem menor, com a atividade do vulcão Grimsv;tn, considerado o mais ativo da Islândia. Após a erupção, o país gelado, uma ilha no extremo Norte da Terra, registrou 50 pequenos terremotos, sendo o maior de magnitude 3,7 na escala Richter. Segundo o Instituto Meteorológico da Islândia, o Grimsv;tn teve atividade similar em 2004.
Conforme explica o professor do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Minas Gerais, Alexandre Uhlein, vulcões e terremotos são fenômenos geológicos caracterizados pelo choque ou afastamento de placas tectônicas subterrâneas e também pelo deslocamento de gases no interior da Terra. E é a liberação da energia gerada por esses movimentos ou gases que se manifesta na forma de tremor da terra ou da saída do magma (rochas que compõem a estrutura da Terra em estado de fusão, líquidas, com temperatura de 1.000;C) nos vulcões.
Partículas
;O vulcão é uma montanha com um canal, um duto muito profundo, que se liga ao magma. Quando a pressão interior fica muito intensa, geralmente pela movimentação das placas tectônicas, há explosões e o líquido chega à superfície, formando a lava. Mas, junto com a lava, vêm também as cinzas, que são partículas de minerais arrancadas quando o magma está subindo. Essa poeira se assenta depois, mas pode levar de 15 dias a um mês, dependendo de sua densidade;, explica.
Essas partículas que compõem a pluma, ou nuvem vulcânica, contêm pequenos pedaços de rochas minerais. ;Geralmente, é poeira pura, bem triturada, mas dependendo da pressão da erupção, do local de ocorrência, podem ser expelidos pedaços grandes, do tamanho de um tijolo;, acrescenta Uhlein. Tanto a lava quanto a poeira particulada são lançadas alternadamente pelo vulcão. E a lava, quando sai e se cristaliza, transforma-se em rocha novamente. ;O magma é riquíssimo em recursos minerais e grande parte do que extraímos de rocha na superfície hoje foi um dia lava;, acrescenta o geólogo, para quem o ideal seria aproveitar toda essa energia estocada no interior da Terra. ;Seria ótimo transformá-la em energia elétrica, a chamada energia geotermal, mas isso ainda vai levar muitos anos.;
Questionado sobre o porquê de dois grandes vulcões terem entrado em erupção num curto espaço de tempo, em lugares distintos, o professor da UFMG explica que não há relação alguma sobre a ocupação do homem ou suas ações no meio ambiente. ;São fenômenos naturais, que ocorrem desde o começo de formação do planeta. Nossa crosta terrestre está subdividida em placas, que se separam ou se aproximam pouquíssimos centímetros por ano, mas, ao longo de muito tempo, vai estocando essa pressão interna, que uma hora, se manifesta. Às vezes, de maneira drástica. As regiões sísmicas geralmente estão próximas de grandes formações de montanhas, como os Andes;, exemplifica.
Ameaça às turbinas
A preocupação com a movimentação de aviões durante vulcões em atividade, expelindo nuvens de poeira, é justificada. ;Se partículas de cinzas vulcânicas entram em uma turbina, elas se acumulam e entopem o motor com material derretido;, explicou à BBC David Rothery, especialista em vulcões da Open University, na Inglaterra. Segundo especialistas, esse tipo de fenômeno é capaz de estragar janelas e estruturas de aeronaves, ou até parar os motores dos aviões. Em um dos incidentes mais dramáticos já registrados, em 1982, uma aeronave da British Airways, com 263 passageiros a bordo, ficou com as turbinas travadas durante vários minutos depois de atravessar uma nuvem de cinzas na Indonésia. Ao perder altitude e sair da nuvem, o material derretido se condensou e se soltou, e os motores voltaram a funcionar.
No Brasil, a nuvem de pluma ; nome dado às cinzas emitidas pelo vulcão ; atingiu mais fortemente o sul do Rio Grande do Sul na semana passada. Durante o fim de semana, voos foram cancelados, mas por forte nebulosidade. No entanto, o espaço aéreo continua sendo monitorado. Depois de dias de dissipação, com a nuvem de cinza se movendo em direção ao oceano, a situação voltou a preocupar os meteorologistas, que mantêm um constante monitoramento para emitir alertas no caso de a nuvem chegar ao território nacional.