postado em 14/06/2011 09:21
Durante os nove meses seguintes ao momento da concepção, o corpo materno trabalha sem tréguas para abrigar uma nova vida que se forma. Não restam dúvidas de que o período provoca intensas transformações no corpo e na alma. O crescimento da barriga desloca o centro de gravidade da mulher, que ganha quilos extras até que o rebento esteja pronto para sair do aconchego que o envolve. Antes que isso ocorra, enquanto o bebê empurra a região abdominal para frente, a gestante precisa de grande esforço para se sustentar e equilibrar. Por isso, fisioterapeutas e professores de educação física são unânimes: se a gravidez não for de alto risco e se não existirem contraindicações específicas, os exercícios físicos podem e devem fazer parte da rotina das futuras mamães, sejam elas marinheiras de primeira viagem ou não.A fisioterapeuta Sarah de Castro Duarte explica que a gestação também promove a frouxidão dos ligamentos, alterações dos sistemas cardiovascular, respiratório, gastrintestinal, músculoesquelético e urinário, além de sobrecarregar o assoalho pélvico e desencadear alterações da marcha. ;Sem exercícios, tantas mudanças podem resultar em lombalgia, cervicalgia, incontinência urinária e fecal, formigamento e dormência nas pernas e mãos. É comum também surgirem edemas, cãibras e fadiga;, alerta. De acordo com Sarah, a fisioterapia é uma aliada. ;Trabalhamos atividades durante a gestação e ministramos exercícios facilitadores para o trabalho de parto, tornando-o mais rápido e menos doloroso. Eles favorecem a contração uterina, a abertura pélvica e a dilatação;, especifica.
Antes de dar à luz, vale praticar todo tipo de exercícios, desde que, é claro, eles não sejam de alto impacto e não comprometam a segurança da mãe e do bebê. A professora de educação física especializada em exercícios na gestação e no pós-parto Daniela Rico enfatiza que, antes da malhação, é preciso passar pela avaliação e receber a autorização do obstetra. Além de auxiliar no controle de peso, no condicionamento físico, no fortalecimento da musculatura e na diminuição de dores posturais, os exercícios turbinam a autoestima e contribuem para o bem-estar emocional. Daniela pondera que pesquisas científicas comprovam que a prática de modalidades indicadas às gestantes também reduz de 40% a 50% as chances das grávidas adquirirem patologias, como diabetes gestacional e hipertensão na gravidez. ;É interessante que se procure um programa específico para o período gestacional. Alongamento, ioga, hidroginástica, caminhada, natação, musculação, pilates para gestante e ginástica localizada são excelentes escolhas porque preparam gradualmente o corpo para o parto;, detalha a instrutora da academia Cia Atlética.
Normalmente, os obstetras recomendam que a atividade física seja feita a partir da 12; semana de gestação. Para as mulheres acostumadas à malhação, no entanto, nem sempre é necessário esperar, porque o corpo está habituado à prática. O que muda, nesse caso, são a intensidade e a frequência das rotinas, sempre planejadas de acordo com o período gestacional e condicionamento físico da mulher. ;No primeiro trimestre, não forçamos demais. O organismo ainda está se adaptando à gravidez. No segundo, os exercícios podem ser mais elaborados e, no terceiro, fazemos uma manutenção de tudo o que foi trabalhado, diminuindo, aos poucos, a intensidade. É uma fase bem dedicada a propostas que fortalecem a musculatura pélvica;, acrescenta Daniela.
Filho saudável
A servidora pública Luciara Veras Marinho, 30 anos, considera que a atividade física foi fundamental para que ela chegasse bem ao oitavo mês e meio de gestação. ;Fiz hidroginástica, alongamento, musculação, ginástica localizada e me considero superpreparada para o nascimento do Eduardo;, diz. Luciara lembra ainda que é importante o acompanhamento nutricional, assim como a drenagem linfática. ;Não tive enjoos. A hora do parto está se aproximando e eu não sofro com os inchaços comuns da reta final. Os exercícios me deixaram extremamente disposta. O programa para gestantes propiciou o contato com outras futuras mamães. A troca de experiências foi maravilhosa;, diz.
Assim como Luciara, a administradora de empresas Renata Pires Calheiros, 30, lançou mão da malhação para driblar os desafios impostos ao corpo durante a gestação. ;Embora não me exercitasse com tanta regularidade antes, fiz questão de malhar desde a 12; semana, para ter um parto e um pós-parto sem traumas;, revela. Além de estar se sentindo bem, Renata afirma que ganhou conforto emocional por conta dos exercícios. ;Eles promovem um equilíbrio tão bacana para o corpo que a mente passa a ficar tranquila também. Sinto que a atividade física faz bem para o pequeno Davi, que cresce saudável em meu ventre. A minha saúde é a saúde dele;, pondera.
A sensação de Renata tem explicação científica. Um estudo realizado por pesquisadores das universidades de Auckland, na Nova Zelândia, e do Norte do Arizona, nos Estados Unidos, constatou que a prática de atividade física na gestação não influencia no tamanho dos bebês, mas faz com que eles nasçam com menos gordura corporal. Os médicos envolvidos na pesquisa consideram que o trabalho se soma a evidências de que o metabolismo da criança no futuro é influenciado pelo seu ambiente na placenta e que bebês mais pesados em relação à altura têm maiores chances de desenvolverem a obesidade.
A ioga e o pilates também são indicados, desde que orientados por profissional capacitado que proponha rotinas direcionadas para as gestantes. ;No pilates, trabalhamos muito as pernas e a coluna, estruturas sobrecarregadas durante os nove meses. No último trimestre, procuramos fortalecer os braços para que a futura mãe se sinta confortável nos meses em que vai amamentar e carregar a criança;, explica a fisioterapeuta Aline Alencastro. Instrutora de pilates e ioga, ela observa que ambas as modalidades são eficazes para trabalhar a respiração da gestante. ;As técnicas são diferentes, mas as duas podem contribuir no sentido de adaptar o pulmão para o terceiro trimestre da gestação, quando o bebê já está grande e passa a comprimir o diafragma;, observa.
Dança e autoestima
A professora de dança do ventre e coreógrafa Zaika Capita, 32 anos, teve uma experiência tão tranquila na gestação do primeiro filho que logo quis repetir a dose. Seu primogênito, o pequeno Luiz Celso, fará 1 aninho no fim de junho, e Zaika já está grávida há seis meses de Laura. Ela conta que, na primeira gravidez, dançou no decorrer dos nove meses e que a modalidade trouxe uma série de benefícios para ela e para a criança. ;A gestação acelera o metabolismo e a capacidade respiratória da mulher, exigindo mais do nosso organismo. Por ser uma modalidade de baixo impacto, a dança do ventre é mais que indicada. Apenas evitamos os movimentos bruscos e giros;, orienta. Ela observa que a aula deve ser personalizada, porque cada mulher apresenta características fisiológicas únicas.
Segundo Zaika, a dança do ventre fortalece a musculatura abdominal e pélvica, melhora a circulação sanguínea e a coordenação motora e previne a prisão de ventre. ;Ao contrário do que muitos pensam, não é uma dança sensual. Apenas permite que a mulher seja simplesmente mulher e, então, a sensualidade pode aflorar, porque todas nós a temos. Além das inúmeras vantagens físicas que proporciona, a modalidade é uma aliada da autoestima, fortalece o desejo sexual e a autoconfiança, fatores abalados em meio a tantas transformações;, sustenta. Zaika conta que muitas mulheres com dificuldade para engravidar procuram a dança do ventre porque ela proporciona o equilíbrio do corpo e da mente. ;A gestação é uma experiência única, abrigamos uma nova vida. Os cuidados e carinhos devem ser para a mãe e para o bebê. Meu filho é uma criança feliz, adora música. Acho que a Laura vai seguir os passos dele;, brinca.
Para a psicóloga Luísa Barroca, o atendimento psicológico também é importante durante a gestação. De acordo com ela, é natural que a mãe encare sentimentos contraditórios. Afinal, trata-se de uma mudança de papéis. ;A pessoa, que até então era filha, será mãe. Tal mudança mexe muito com o emocional, porque traz o peso da responsabilidade. Mesmo as que já experimentaram a maternidade podem passar por conflitos, pois cada gestação tem sua própria história;, lembra. O acompanhamento psicológico pode ajudar a gestante a entender que o receio é tão natural quanto a felicidade de estar grávida. ;O contato com outras grávidas também é benéfico. As terapias individuais ou em grupo ajudam a minimizar o risco de depressão pós-parto;, diz Luísa, que atende no Hospital Universitário de Brasília (HUB).