postado em 18/06/2011 08:55
A comunidade científica internacional vibrou, no início deste mês, com o reconhecimento de dois novos elementos químicos. Identificados até agora apenas por números, o 114 e o 116 cravaram seu lugar na Tabela Periódica ao lado de outras substâncias radioativas que foram criadas nos últimos anos. Assim como alguns de seus ;colegas;, esses elementos não existem na natureza. Foram produzidos em laboratório e existiram por apenas milionésimos de segundo. O curto tempo de vida, porém, é inversamente proporcional à sua importância. Embora essas partículas não tenham nenhuma aplicação prática, são mais um passo para que os cientistas encontrem a chamada ilha de estabilidade ; uma classe de átomos radioativos que, acredita-se, possuem o núcleo estável.Os elementos descobertos até agora, naturais e artificiais, se desmancham com o passar do tempo. Assim é com os dois novatos e com outros bastante conhecidos, como o césio, que perde efeitos radioativos nocivos à saúde em 300 anos, e o urânio, que dura bilhões de anos. Substâncias como essas já são usadas para a produção de energia nuclear, mas os cientistas querem que a matéria-prima se torne mais segura e eficiente. ;Há muito tempo está previsto que podem haver elementos ;fechados; para além das partículas extremamente instáveis e que decaem rapidamente (caso do 114 e do 116), formando uma ilha de estabilidade na Tabela Periódica;, conta o pesquisador Bob Barber, da Universidade de Manitoba, no Canadá, um dos autores do relatório que reconheceu os novos elementos.
Caso os pesquisadores consigam comprovar essa teoria, encontrarão elementos mais competitivos e que sirvam melhor às necessidades humanas. ;Se essa substância tiver características interessantes, ela pode substituir as que são atualmente utilizadas, com a vantagem de ser menos poluente e mais fácil de ser controlada;, aponta o professor José Alberto Bonapace, do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). ;Esse tipo de experimento mostraria que os cientistas estão no caminho certo, uma vez que os estudos teóricos estariam comprovados;, completa o professor Geraldo Magela, do Instituto de Física da Universidade de Brasília (UnB).
Para criar o 114 e o 116, pesquisadores do Instituto de Pesquisa Nuclear de Dubna, na Rússia, e do Laboratório Nacional Lawrence Livermore , nos Estados Unidos, reproduziram a experiência com a ajuda aceleradores de partículas. Átomos em alta velocidade colidiram uns com os outros e geraram as novas substâncias (veja arte). ;Os prótons precisam estar rápidos o suficiente para não bater e voltar, mas também não tão rápidos a ponto de destruir a outra estrutura;, detalha o professor Magela. ;É quase como um jogo de bola de gude;, brinca. Os novos elementos ainda não têm nome, mas é provável que os autores da pesquisa entrem com um pedido de batismo na União Internacional de Química Pura e Aplicada (Iupac, na sigla em inglês).
Paternidade
A autoria da descoberta, inclusive, foi um dos pontos mais polêmicos entre os cientistas. Desde 1999, vários grupos testaram a receita para a criação do 114 e do 116, mas o feito só foi reconhecido agora. ;Houve casos em que os experimentos iniciais indicavam alguma coisa, mas o trabalho subsequente não confirmava esse resultado.
Então, o grupo de trabalho conjunto estava procurando por uma evidência que fosse muito contundente e, preferencialmente, confirmada por pesquisas seguintes;, esclarece o pesquisador Bob Barber.
Além disso, o processo de análise da Iupac é complexo e lento. ;Às vezes, pode levar vários anos até que a ciência esteja absolutamente certa da criação do novo elemento;, reconhece Terry Renner, diretor executivo da união. O problema, explica, é que as substâncias que vêm sendo estudadas nos últimos anos se desmancham muito rapidamente, o que dificulta o recolhimento de amostras. Os desafios, porém, não afastam os pesquisadores da meta de produzir as novas partículas. ;Isso significa prestígio e dinheiro. Todo mundo quer ser o pai da criança;, resume Geraldo Magela.
Novas características
Além da geração de energia, a física nuclear possibilitou o aperfeiçoamento de uma série de recursos. Para se ter uma ideia, a adição de substâncias ao núcleo de átomos gera elementos com novas características. Nesse grupo, há partículas naturais e artificiais, chamadas de isótopos. Um dos mais famosos, que é encontrado na natureza, é o carbono 14, um elemento radioativo que revela a data de morte de pessoas e animais.