Ciência e Saúde

Vitiligo ainda intriga médicos porque não se conhece muito sobre sua origem

postado em 22/06/2011 08:50
Embora ela seja bem frequente no consultório dos dermatologistas, pouco se sabe sobre a origem da doença. Caracterizada pela despigmentação da pele e o surgimento de manchas brancas em várias partes do corpo ; sobretudo próximo aos olhos, mãos e genitália ;, o vitiligo é uma patologia não contagiosa com forte ligação com o estresse e a ansiedade. Suspeita-se ainda do fator autoimune como um dos gatilhos que acionam o seu desenvolvimento.

Sem causas ou explicação conhecidas, a doença não tem cura, mas sim tratamentos que recompõem a pigmentação da pele. Apesar de pouco se saber sobre o vitiligo, os médicos garantem que além do problema meramente estético, não há nada a temer de mais grave. Com os tratamentos disponíveis é possível levar uma vida normal, apesar do efeito emocional. Pacientes reclamam, ainda, que a maior barreira a enfrentar na sociedade em relação ao vitiligo é o preconceito.

Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia no Distrito Federal (SBD-DF), Gilvan Alves, a origem do vitiligo está relacionada a uma inflamação nos mielócitos, que são as estruturas responsáveis pela produção de melanina (veja arte). ;Essa inflamação é causada por um ataque das células de defesa do corpo humano;, afirma o especialista. ;Embora a doença provoque desconforto nos pacientes, do ponto de vista visual, ela não tem nenhuma implicação física. Não causa problemas de saúde nem vai evoluir para um câncer ou algo parecido;, completa.

Na grande maioria dos casos, as primeiras manchas surgem na infância ou no início da vida adulta. ;É um problema que acomete entre 1% e 2% da população. Destes, cerca de 25% manifestam a doença antes dos 10 anos. Em outros 50% dos casos, as manchas surgem antes dos 20 anos;, explica Kerstin Taniguchi Abagge, pediatra do Departamento Científico de Dermatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). ;Quando os casos surgem na infância, o ideal é que os pais levem os filhos a um pediatra, que poderá verificar se é mesmo vitiligo, uma mancha de nascença, micose, ou mesmo uma despigmentação por causa de outro tipo de inflamação;.

Ciclo vicioso
Esse foi o caso do representante comercial Ivanildo Leite, 30 anos, que identificou os primeiros sinais da doença quando completara 13 anos. ;Reparei na mancha depois que um pouco verniz caiu no meu pé. Na hora achei que fosse alguma queimadura por causa da substância;, relembra o rapaz. Como as manchas não desapareceram espontaneamente, ele decidiu procurar ajuda médica. ;Depois de alguns exames fui diagnosticado com vitiligo. Desde então tomo remédios e faço acompanhamento médico, com exames pelo menos a cada três meses;, conta.

Em Ivanildo, as manchas surgiram principalmente nos pés, mãos, barriga e cotovelo. ; Nunca apareceram no rosto. Meu caso sempre foi brando, acho que isso é em função da relação tranquila que tenho com o vitiligo, nunca me importei muito;, afirma. Segundo especialistas, os estresse está ligado às crises de despigmentação. Assim, se o paciente fica angustiado, acaba causando o surgimento de mais manchas, que geram mais angústia em um ciclo vicioso. ;Por isso, sempre que alguém vem me contar que está com vitiligo, eu digo para a pessoa tentar não se importar muito. Quanto mais você se estressa, mais piora;, alerta o representante comercial.

A doença ainda não tem cura, mas os tratamentos podem ajudar a repigmentar as áreas atingidas. ;Dizemos que o vitiligo tem uma evolução imprevisível. Da mesma forma que pode surgir sozinho, ele também pode desaparecer. Não é possível também prever a evolução, se surgirão mais manchas, ou se elas permanecerão restritas àquela área do corpo;, afirma o dermatologista Gilvan Alves. Para os casos em que a doença persiste, o tratamento é focado na repigmentação da pele. ;Quando se opta por utilizar corticoides, que previnem as inflamações nos melanócitos, ele pode ser através de medicamentos para ingestão ou tópicos;, conta o médico.

As formas mais modernas de tratamento incluem o uso de feixes de laser. ;No chamado excimer laser, feixes de luz direcionados para a área afetada impedem novas infecções nos melanócitos e os estimulam a produzir mais melanina, voltando a pele para sua coloração normal;, observa o médico. ;O paciente com vitiligo tem a pele mais sensível do que o normal, por isso o laser é de um comprimento de onda diferente da irradiada pelo sol, que não agride a pele;, diz Alves.

Outros recursos
Maquiagens com maior poder de aderência também podem ser usadas para aplacar o incômodo que a questão estética provoca, e melhoram o convívio social. ;Há opções que permitem, inclusive, ir à praia ou à piscina, sem que as pessoas fiquem perguntando sobre as manchas, o que é sempre desagradável;, conta a pediatra Kerstin. ;As crianças tendem a responder melhor do que os adultos, por isso, quanto mais precoce o tratamento, melhores são as respostas;, diz a especialista.

Se fisicamente o vitiligo não causa grandes problemas, psicologicamente a situação não é a mesma. A doença ainda é cercado de preconceito, e muitas pessoas ainda acreditam que a doença é transmitida pelo toque ou pelo ar. ;Essa é uma noção completamente errônea. Ela não é uma doença infecciosa, não existe a mínima chance de ser transmitida de uma pessoa para outra;, afirma o dermatologista.

Lidar com o preconceito foi, durante anos, um problema para Ana Maria Freitas, 44 anos. A dona de casa desenvolveu a doença com 30 anos, depois do término de um relacionamento. ;No início eu achei que era um problema que passava. Que iria ao médico, ele me daria alguns remédios e as manchas iriam desaparecer;, conta. ;Quando descobri que seria algo com que teria que conviver para sempre fiquei arrasada. Achava que não conseguiria arrumar amigos, que não teria namorados;, relembra.

Os meses seguintes foram de aceitação para Ana Maria. Ela passou a frequentar um psicólogo e, à medida que o tratamento surtia efeito, ela ficava menos angustiada com o problema. ;Quanto mais estressada eu ficava, mais as manchas se proliferavam; quando fui meu acalmando, isso ajudou no tratamento. Hoje aprendi a conviver com as manchas, não vou dizer que não me incomodam, mas não fico mais em pânico quando elas aparecem;, garante.

Efeito Michael Jackson
Nos casos mais avançados de vitiligo, uma das opções é fazer a despigmentação da pele. Um processo semelhante ao que supostamente aconteceu com o cantor pop Michael Jackson. Com o uso da droga monobenzileter de hidroquinona, descolorem-se as regiões da pele onde a doença não atacou, mantendo uma tonalidade uniforme no corpo. Esse tipo de tratamento só deve ser feito nos casos mais extremos, pois seus efeitos são irreversíveis. Caso a região atingida pelo vitiligo volte a produzir melanina, a parte descolorida pelo monobenzil permanece clara.

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