postado em 06/07/2011 10:54
Em algum momento da história do Universo, duas moléculas essenciais à vida, a água e o oxigênio, se ligaram para formar elementos químicos. Pela primeira vez, cientistas do Observatório Europeu do Sul, consórcio internacional do qual o Brasil faz parte, detectaram fora da atmosfera terrestre um desses elementos, o peróxido de hidrogênio, mais conhecido como água oxigenada.Graças à identificação do H202, os astrônomos esperam conhecer melhor a interação entre a água e o oxigênio puro. A substância que desinfeta objetos e colore cabelos tem uma importância bem maior para o planeta: ela está intimamente ligada à formação da atmosfera da Terra.
Acredita-se que o peróxido de hidrogênio se forme no espaço na superfície de grãos de poeira cósmica ; partículas muito pequenas semelhantes a areia e cinza ; quando o hidrogênio (H) se adiciona a moléculas de oxigênio (O2). Uma reação adicional do peróxido de hidrogênio com mais hidrogênio é uma das maneiras de produzir água (H2O). Por isso, essa nova detecção de peróxido de hidrogênio ajudará os astrônomos a compreender a formação de água no Universo.
A descoberta foi feita por uma equipe internacional de astrônomos graças ao Atacama Pathfinder Experiment Telescope (Apex), que fica a 5 mil metros de altitude, nos Andes Chilenos. Os cientistas observaram a região da Via Láctea localizada próxima da estrela Rho Ophiuchi, na Constelação Ofiúco, a cerca de 400 anos-luz de distância. A região contém nuvens densas de gás e poeira cósmica, muito frias (a cerca de -250;C), onde novas estrelas estão se formando.
As nuvens são principalmente constituídas de hidrogênio, mas contêm traços de outros elementos químicos e são alvos principais na procura de moléculas no espaço. Telescópios como o Apex, que observam comprimentos de onda na casa do milímetro e do submilímetro, são ideais para detectar sinais vindos dessas moléculas.
;Ficamos muito entusiasmados ao descobrir as assinaturas do peróxido de hidrogênio. Sabíamos, por experiências laboratoriais, quais os comprimentos de onda que devíamos procurar, mas a quantidade de peróxido de hidrogênio na nuvem é apenas de uma molécula para dez bilhões de moléculas de hidrogênio, por isso para a detecção ser possível são necessárias observações muito cuidadosas,; disse Per Bergman, astrônomo do Observatório Espacial Onsala, na Suécia. Bergman é o autor principal de um estudo que descreve a descoberta, publicado na revista especializada Astronomy & Astrophysics.
O H2O2 é uma molécula-chave tanto para astrônomos como para químicos. ;Não sabemos ainda como é que algumas das mais importantes moléculas existentes na Terra se formam no espaço. Mas a nossa descoberta parece indicar que a poeira cósmica é o fator que falta no processo;, afirmou Béreng;re Parise, coautor do artigo e diretor do Grupo de Investigação de Formação Estelar e Astroquímica Emmy Noether, do Instituto Max-Planck de Radioastronomia, na Alemanha.