Ciência e Saúde

Sem Atlantis, Nasa passará a depender dos russos para viagens ao espaço

postado em 08/07/2011 10:12
O Atlantis é preparado em hangar da Nasa: voo finalQuando o ônibus espacial Atlantis fizer seu último voo ; programado pela Nasa para ocorrer hoje, caso nenhum imprevisto adie seu lançamento ; terão se passado pouco mais de 50 anos desde que Alan Shepard se tornou, em 1961, o primeiro americano a viajar pelo espaço. Mas a data, que deveria ser de comemoração para a comunidade aeroespacial norte-americana, nem de longe é marcada pela alegria. Esta será a primeira vez, desde que o foguete Redstone levou Shepard à órbita da Terra, que os Estados Unidos não terão meios próprios de levar pessoas ao espaço. Quando a missão do Atlantis, de número 135, terminar, o programa de ônibus espaciais será encerrado. E, com isso, os quase 60 astronautas que permanecem no quadro da agência espacial americana terão diante de si um quadro de indefinição: não saberão quando vão, ou sequer se poderão, utilizar seus anos de treinamento em uma viagem espacial.

Até que os EUA desenvolvam novas espaçonaves, a única forma que terão para enviar homens e mulheres ao espaço será nas naves russas Soyuz. Mas a gerente assistente do Escritório de Seleção de Astronautas da Nasa, Teresa Gomez, explica que, para conseguir um lugar nesses veículos, os astronautas americanos precisarão preencher novos requisitos. ;As cápsulas russas são mais rigorosas. Por causa do tamanho, alguns de nossos astronautas não são mais elegíveis para voar para à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês). Pelo menos por agora;, explica ao Correio. Ao contrário dos espaçosos ônibus espaciais, que em situações de emergência podem levar até 11 pessoas, as Soyuz só comportam três tripulantes, sendo que todos precisam ter menos de 1,90m de altura.

Além disso, os equipamentos são totalmente diferentes, o que exige novo treinamento. Sem contar que é preciso ler, escrever e falar russo, língua utilizada nos sistemas de controle das cápsulas e de comunicação com as bases de comando na Terra. ;Talvez, a melhor palavra para descrever o clima atual na Nasa seja ;insegurança;;, avalia Marcos Pontes, astronauta brasileiro que visitou a ISS em 2006 ; a bordo de uma nave russa ; e cumpre atividades no Centro Espacial Johnson, em Houston (EUA). ;O velho clima de grande satisfação e orgulho pela importância do trabalho aqui realizado tem sido substituído pelas emoções comuns que acompanham a incerteza do futuro, como ansiedade e estresse;, completa.

Segundo Pontes, as viagens dos americanos de carona tendem a ficar cada vez mais caras. ;Astronautas americanos são tripulantes comuns nas Soyuz, mas o custo desses assentos, que a Nasa paga para a Roscosmos (agência espacial russa), tem aumentado em função da dependência americana;, relata. Segundo empresas de turismo espacial, o último contrato firmado entre as agências espaciais dos dois países estipulava em US$ 63 milhões o preço de cada assento. ;Isso não é confortável do ponto de vista americano e vários astronautas estão aceitando os frequentes convites da iniciativa privada;, lamenta o brasileiro.

Novos candidatos
Apesar da situação atual, a Nasa garante que a carreira continua atraindo candidatos. ;Explorar o espaço, ver a Terra de fora, é algo que só um pequeno número de pessoas consegue fazer;, analisa Teresa Gomez. ;Os indivíduos que se candidataram para nossa última seleção, em 2009, sabiam que não iriam voar nos ônibus espaciais, mas ainda assim tivemos mais de 3,5 mil inscritos;, afirma a funcionária da agência espacial americana.

O longo programa de treinamento, que inclui testes físicos, acadêmicos e psicológicos, embora não esteja totalmente encerrado, permanece suspenso. Segundo Teresa, novos programas de seleção devem ocorrer nos próximos anos. ;Ainda precisamos de astronautas para a ISS, de modo que pretendemos selecionar os astronautas. Mas uma data para a próxima seleção ainda não foi estabelecida;, afirma.

Insígnia da missão com a letra grega ômega simboliza o fim do programa do ônibus
espacialO astronauta veterano Edgard Mitchell foi ao espaço antes mesmo da criação dos veículos espaciais reutilizáveis dos EUA. A bordo da Apollo 14, ele se tornou, em 1971, o nono homem a pisar na Lua. Para ele, hiatos tecnológicos como o que o programa espacial americano passa atualmente são normais. ;De forma alguma os Estados Unidos perdem a capacidade de ir ao espaço. Pode demorar um pouco, mas voltaremos a ter nossas próprias naves;, diz em entrevista ao Correio.

Sobre as dificuldades que serão enfrentadas pelos astronautas de seu país, que em sua maioria terão de passar por novos treinamentos e até aprender russo, Mitchell não vê problemas. ;Ser astronauta nunca foi algo fácil, portanto acredito que aqueles que realmente desejam seguir essa carreira precisam enfrentar questões desse tipo;, completa o veterano.


Mau tempo
Apesar de a Nasa ter mantido ontem a programação para o lançamento da Atlantis, o início da viagem rumo à Estação Espacial Internacional era incerto. Os técnicos da agência espacial podem adiar a missão devido ao mau tempo na área de Cabo Canaveral, que está sendo atingida por fortes chuvas e raios.

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