Ciência e Saúde

Sorrir e ser alegre diminuem em 30% o tempo de internação

Estado de Minas
postado em 21/07/2011 11:28
Muito mais do que uma manifestação de felicidade, o riso e suas variações emanam conforto, revelam-se uma verdadeira terapia para o corpo e a alma. Aplicado com fins terapêuticos, ou não, desperta um bem-estar quase indescritível tanto em quem dá quanto em quem o recebe. A neurocientista Sílvia Helena Cardoso explica que o riso é fundamental e natural da espécie humana. ;Nascemos com aparato físico e mental necessários para sorrir. Cognitivamente, não somos capazes de entender o que nos leva a dar sorrisos em nossos primeiros meses de vida, mas os mecanismos neurológicos e musculares estão prontos para nossas risadas e gargalhadas. O riso é inato;, garante.

Nele, acrescenta Sílvia, também estão implícitas nuances das raízes sociais do homem, já que, evolutivamente falando, a humanidade desenvolveu sinais que auxiliam a comunicação. ;Rimos para externar sensações agradáveis e aprendemos que o riso também ameniza situações adversas, sinaliza o desejo de paz. Ele pode ser uma mensagem clara de disposição para o diálogo ou para a reconciliação;, diz. Médicos, cientistas e psicólogos são unânimes: o riso é ótimo para a saúde, pois é capaz de atenuar o estresse, liberar substâncias benéficas para todas as células do organismo.

Para a neurocientista, o riso saudável e verdadeiro está ligado a atitudes e sentimentos positivos. Ela pondera que os mais sérios não são, necessariamente, infelizes e depressivos. Quem nutre pensamentos negativos, no entanto, costuma ser mais vulnerável a doenças físicas e emocionais. ;O riso, de certa forma, tem poder preventivo. É essencial para transformarmos tristeza em alegria. Rir é contagioso, está cientificamente comprovado;.

De acordo com o clínico geral Eduardo Lambert, homeopata e autor do livro A terapia do riso: a cura pela alegria (Pensamento), o sorriso e a risada são tão importantes ao ser humano que a terapia do riso vem sendo administrada em hospitais como um tratamento complementar, possibilitando uma redução de cerca de 30% no tempo de internação de pacientes. ;O riso estimula a contração de 28 músculos faciais, ativa no cérebro a produção de endorfina e serotonina (substâncias antidepressivas que dão a sensação de relaxamento e bem-estar). São os hormônios da felicidade;, assegura.

Uma boa risada promove uma espécie de tremor que se propaga para o abdome. Tal vibração atinge o corpo como uma onda de alívio. ;O bem-estar físico é evidente. Todos os órgãos são beneficiados com a química do sorriso. Isso nos protege de males físicos e psicológicos;, afirma. Quanto aos tipos de riso, Lambert sustenta que existem tantos quanto são as variações de personalidade.

Eles vão desde o sorriso ao riso aberto, do riso quebra-gelo ao riso amarelo, até a gargalhada. ;A diferença principal está na intensidade. Quanto mais intenso, maior a síntese de endorfina, maior o relaxamento dos músculos e vasos e melhor será a proteção contra infartos e derrames cerebrais;, avalia.

Mas, afinal, o que é contagioso, a risada ou a felicidade implícita nela? O psicólogo Esdras Guerreiro Vasconcellos, professor de pós-graduação em psicologia clínica da Universidade de São Paulo (USP), esclarece. ;O riso verdadeiro sempre tem uma centelha de felicidade, ainda que seja uma manifestação curta e que as pessoas não estejam conscientes dessa alegria. A gargalhada é o riso maximizado e produz ainda mais benefícios. Ela mexe com corpo e alma;, resume.

Conheça os diferentes tipos de riso

Ranking do humor O psicólogo defende que o riso tem efeito imunológico e lembra um registro da literatura médica. Um paciente norte-americano diagnosticado com câncer avançado e sem perspectivas de vida resolveu gastar seus últimos meses de vida assistindo a filmes cômicos. ;Ao final desse período, os médicos verificaram que a doença tinha recuado. Não nos restam dúvidas: riso e a terapia do riso complementam tratamentos alopáticos;, garante.

Vasconcellos acrescenta que alguns povos são mais predispostos ao sorriso. O brasileiro está bem colocado no ranking sorridente. ;Estudos sugerem que a população dos países de clima tropical ri mais. Somos um povo bem servido nesse aspecto. A interação dos benefícios psíquicos e biológicos de risadas e gargalhadas vem sendo cada dia mais pesquisada pela ciência;, salienta. Mas é o calor humano que muda a realidade de quem está convalescendo em um hospital.

Os momentos tristes da pequena Daniele Lima Fonseca, de 5 anos, receberam alta assim que uma equipe de médicas integrantes do grupo Doutoras Música e Riso, criado em Brasília (DF), entraram no quarto em que ela está internada há 60 dias. ;O sorriso da minha neta faz a gente esquecer a tristeza de ver uma criança tão cheia de vida doente. Ele traz a esperança de que tudo vai ficar bem, de que a doença será superada;, diz Eva Ventura Fonseca, de 54, que também não escondeu as risadas diante das palhaçadas direcionadas a Daniele.

Para a vice-presidente da Sociedade Mineira de Pediatria, Raquel Pitchon, que também é coordenadora científica do setor de pediatria do Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte, o riso é considerado pela área médica infantil parte do tratamento de um paciente. "A hospitalização de crianças e adolescentes tem impactos negativos, como o estresse, a depressão e outras questões emocionais. Tudo aquilo que é lazer e mexe com o lado lúdico desses enfermos é benéfico para eles", diz, lembrando que em Minas, as brinquedotecas são obrigatórias na rede hospitalar pública como forma de ajudar a melhorar o quadro dos pacientes. "Já foi comprovado o bem que essa humanização faz ao tratamento. O riso favorece a recuperação e, quanto mais houver ações desse tipo, mais conseguiremos diminuir a ansiedade, o estresse e outros sentimentos gerados pelas doenças e pela hospitalização", aposta.

A trupe Doutoras Música e Riso, a exemplo do grupo Doutores da Alegria, que deu início a esse tipo de projeto no país, na década de 1990, só consegue levar alegria aos hospitais porque tem patrocínio da Petrobras. ;Subvertemos a ordem e a realidade de um ambiente que geralmente é sério, frio e triste. Nem sempre podemos ganhar uma gargalhada esfuziante do paciente, mas um olhar mais alegre já demonstra que nosso objetivo foi alcançado;, relata a atriz e palhaça Antônia Vilarinho, de 49 anos, coordenadora do grupo. O projeto mantém parceria com Le rire médecin, grupo francês que reúne palhaços profissionais que atuam em 14 hospitais da França e cuja missão é devolver às crianças doentes a capacidade de sorrir e brincar. (Colaborou Luciane Evans).

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