Ciência e Saúde

Calor exterminou peixes há 200 milhões de anos

postado em 22/07/2011 08:13
A história da vida na Terra alterna fases de explosões de diversidade, quando uma imensa quantidade de novas espécies surgem, com períodos de extinções em massa, quando, pela seleção natural, os seres vivos menos adaptados desaparecem para dar lugar a indivíduos mais fortes. No fim do Período Triássico, há aproximadamente 200 milhões de anos, os dinossauros reinavam soberanos no ambiente terrestre. Enquanto isso, os oceanos experimentavam uma verdadeira revolução, que resultou em uma das maiores ondas de extinção da história do mundo marinho, na qual, acredita-se, desapareceu cerca de metade de toda a vida dos mares.

Até agora, acreditava-se que os culpados pelo extermínio de tantos seres aquáticos eram os vulcões, que aumentaram em quantidade e enfrentaram períodos de intensa atividade. No entanto, um artigo da edição de hoje da revista especializada Science afirma que não foram essas chaminés naturais as responsáveis pelo dramático evento, mas um fenômeno bem conhecido da sociedade atual: as mudanças climáticas. Para os pesquisadores, um rápido aquecimento na Terra causou uma mudança em plantas e micro-organismos, base da cadeia alimentar, levando à morte inúmeros animais.

Para chegar a essa conclusão, especialistas da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, compararam fósseis de seres microscópicos que viviam na região de Atlas, no Marrocos, e nos Alpes, na Suíça. No fim do Triássico, essas áreas eram cobertas de água. ;Muitos estudos anteriores já haviam estudados esses microfósseis. O que fizemos foi olhar mais fundo, na estrutura molecular dessas rochas que já foram seres vivos;, explica o líder do estudo, Micha Rhul, que analisou o Zebrasporites interscriptus, uma espécie de esporo vegetal terrestre. ;Embora 50% das espécies aquáticas tenham sido eliminadas, as características desse período também ficaram marcadas nos seres terrestres;, conta.

A estrutura dos esporos, separados historicamente por cerca de 20 mil anos, registram que no período houve uma intensa liberação de carbono na atmosfera, o que gerou um aumento intenso na temperatura do planeta. ;Essa liberação sugere que a rápida mudança no ambiente, normalizada em alguns milhares de anos, foi suficiente para ser catastrófica para os oceanos;, explica o especialista alemão. ;Ainda não sabemos o que causou esse fenômeno, mas as mudanças determinadas pelos vulcões demoraram 600 anos para acontecer. Assim, a história é muito mais complicada do que imaginávamos.;

Para o pesquisador, a descoberta pode ajudar os humanos a preverem melhor o que deve acontecer na Terra nos próximos milhares de anos. ;Considerando a nossa reserva atual de combustíveis fósseis, ainda devem ser liberados na atmosfera cerca de 5 bilhões de toneladas de carbono;, conta Ruhl. ;Isso pode levar a uma grande ruptura de ecossistemas, com perda da biodiversidade associada;, alerta.

Vulcões
Além de terem sido absolvidos da acusação de carrascos da fauna marinha do Período Triássico, os vulcões são cada vez mais bem vistos do ponto de vista ambiental. É o que atesta outro estudo publicado pela Science. Segundo os pesquisadores do Centro Nacional de Administração Marítima e Atmosférica dos Estados Unidos (Noaa, na sigla em inglês), as partículas expelidas por esses gigantes enfurecidos ajudaram a desacelerar o aquecimento global nos últimos 15 anos.

Os pesquisadores estudaram os efeitos da erupção de 1991 do Monte Pinatubo, nas Filipinas, a maior do século 20. Segundo eles, os aerossóis, gases liberados pelos vulcões com larvas e cinzas, formam uma barreira natural na estratosfera, mesma camada em que se acomodam as partículas de ozônio, ajudando a filtrar o calor que entra na Terra. ;Embora muito ignorados nos cálculos climáticos, esses aerossóis ajudam a arrefecer a superfície terrestre, refletindo parte da luz solar de volta para o espaço;, explica ao Correio o cientista John Daniel, um dos líderes do estudo.

De acordo com Daniel, sem essas partículas, nosso planeta seria um lugar 20% mais quente. ;O resfriamento das regiões em que estão localizados os vulcões já é bastante conhecido, no entanto, nunca tínhamos avaliado essa variável ao longo do tempo e do espaço;, conta o pesquisador. ;Hoje, sabemos que, mesmo depois de anos, os aerossóis emitidos por um vulcão são capazes de barrar parte do calor, que, de outra forma, inevitavelmente chegaria ao solo. O efeito é sentido até mesmo em lugares longe da região onde está o vulcão;, conclui.

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