Ciência e Saúde

Pesquisador da UnB desenvolve extrato de pequi para combater colesterol

Luiz Ribeiro/Estado de Minas - Enviado especial
postado em 23/07/2011 08:55
Belo Horizonte ; Fruto-símbolo do Cerrado, o pequi garante o sustento de milhares de pessoas no Centro-Oeste. Mas agora foi provado cientificamente que a importância do pequi vai além de matar a fome. A fruta tem propriedades que ajudam a prevenir doenças do coração. Depois de 10 anos de pesquisas, o biólogo César Koppe Grisolia, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB), desenvolveu um produto com efeitos fitoterápicos do pequi que ajuda a evitar a formação de placas de gordura nos vasos sanguíneos, combatendo o colesterol e diminuindo o risco de problemas cardíacos. O produto, que será vendido em forma de cápsulas, deve chegar ao mercado no próximo ano.

A pesquisa do biólogo sobre as propriedades do pequi (Caryocar brasiliense) na redução de problemas cardíacos foi apresentada durante a 63; Reunião Anual da Sociedade Brasileira para Progresso da Ciência (SBPC), na semana passada em Goiânia. O estudo estava diretamente ligado ao tema do encontro: Cerrado, energia e alimento.

O pesquisador ressalta que, primeiramente, avaliou os efeitos do pequi na prevenção de doenças do coração em camundongos. Depois, realizou testes em 125 voluntários, durante dois anos. Ele lembra que o pequi é um alimento altamente rico em vitaminas A e C, frutose, sais minerais e compostos antioxidantes, que capturam radicais livres, moléculas novas formadas nos organismos. ;Ele tem propriedades que melhoram as funções cardiovasculares porque ajudam o colesterol bom (HDL) e combatem o colesterol ruim (LDL);, explica. ;Para que as pessoas possam se beneficiar de suas propriedades, desenvolvemos cápsulas de extrato da polpa e outras de óleo de pequi.;

Esse trabalho rendeu uma patente para a UnB. Foi firmado termo de cooperação técnica para a otimização da tecnologia e para a adaptação em escala industrial. ;O próximo passo será a celebração do contrato de licenciamento da tecnologia;, observa o pesquisador, lembrando que está sendo providenciado o registro das cápsulas de pequi na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Tecnicamente, o novo produto é enquadrado na categoria dos nutracêuticos, produtos que, a grosso modo, situam-se entre os alimentos e os remédios. Teoricamente, nutrem e trazem saúde. ;É um produto que incrementa as funções fisiológicas, é revigorante e vai além de um alimento;, explica Grisolia. ;O que desenvolvemos tem propriedades nutracêuticas e fitoterápicas, mas vamos registrar na Anvisa apenas na primeira categoria, porque o processo é mais simples e barato.;

Por outro lado, as pessoas que têm o hábito de ;roer pequi;, como dizem os moradores de Minas Gerais e Goiás, podem ficar menos propensas a desenvolver doenças cardíacas, por causa dos efeitos do fruto. ;Tanto o óleo quanto o extrato do pequi têm substâncias com capacidade antioxidante, que inibem a oxidação dos lipídios nos vasos sanguíneos e combatem a formação de placas de gordura nas paredes dos vasos.;

O produto obtido a partir do pequi já rendeu mais de 10 artigos científicos. A pesquisa serviu também para destacar a importância da preservação do Cerrado, bioma que está tão ameaçado quanto a Amazônia. Grisolia criou um modelo de exploração sustentável, com geração de mão de obra e renda para as comunidades rurais da região. ;Meu trabalho mostra que o Cerrado preservado é economicamente importante. Para quem acha que pesquisa só é válida quando se consegue um ganho econômico, mostramos que vai muito além. Manter a biodiversidade é uma questão de respeito às outras formas de vida.;

O Cerrado está presente em mais de 2 milhões de quilômetros quadrados (24%) do território nacional. É encontrado no Planalto Central, nas regiões Centro-Oeste, Nordeste, Norte e Sudeste, ocupando mais de 40% do território mineiro.

Trata-se da segunda maior formação vegetal brasileira (a primeira é a Amazônia) e a savana tropical mais rica do mundo em diversidade de espécies. É ainda o berço de nascentes de importantes rios, como Tocantins-Araguaia, Paraná e São Francisco, sendo considerada área de recarga nacional. Além disso, o bioma concentra um terço da biodiversidade nacional e 5% da flora e da fauna mundiais conhecidas.

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