postado em 29/07/2011 11:06

No século 18, o geógrafo britânico Thomas Malthus elaborou uma das mais conhecidas teorias sobre o crescimento populacional. Segundo sua hipótese, a capacidade da Terra de abrigar pessoas seria limitada. Ao ser atingido o limite populacional, crises de abastecimento, fome em massa, epidemias e problemas ambientais dizimariam parte da humanidade, devolvendo o equilíbrio entre o planeta e seus habitantes. Posta de lado durante décadas, a Teoria Malthusiana volta a assombrar no momento em que a população mundial está prestes a alcançar a casa dos 7 bilhões.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a marca deve ser atingida no próximo outubro. Descobrir até onde vai esse crescimento populacional, discutir se o planeta tem mesmo uma capacidade limitada de abrigar pessoas e apontar os desafios de administrar tantas vidas são algumas das propostas de uma série de artigos publicados na edição de hoje da revista científica Science.
Em diferentes momentos da história, a humanidade pareceu estar seriamente ameaçada. No fim da Idade Média, por exemplo, as condições precárias de vida nos aglomerados urbanos permitiram que a peste bubônica se espalhasse e dizimasse cerca de um terço da população europeia. Séculos depois, já nos anos 1970, a explosão demográfica asiática fez com que a China e a Índia alcançassem a marca de 1 bilhão de habitantes, levando os geógrafos a prever a falta de alimentos.
Nas duas ocasiões, a ciência mostrou-se capaz de encontrar soluções que evitaram o pior. O avanço da medicina fez com que epidemias fossem combatidas de forma mais eficiente e técnicas agrícolas conseguiram aumentar expressivamente a produção de alimentos. ;Hoje, a maioria dos problemas relacionados à saúde são evitáveis, decorrentes da falta de prevenção ou de condições adequadas de vida;, diz ao Correio o subsecretário-geral da ONU e diretor executivo do Fundo de Populações das Nações Unidas (Unfpa, na sigla em inglês), Babatunde Osotimehin.
Disponibilidade

Outro ponto a ser enfrentado será a educação, uma área poucas vezes vista como relacionada ao controle populacional. ;Indivíduos e comunidades com melhor nível de educação têm uma capacidade maior de identificar problemas e encontrar soluções;, analisa o pesquisador nepalês Samir Kumar, do Programa de Populações do Instituto Internacional para Análises Aplicadas (Iiasa, na sigla em inglês), com sede na Áustria. ;Portanto, para resolver os problemas de 7 bilhões de pessoas, precisamos de um mundo com 7 bilhões de indivíduos com o mais alto nível educacional possível;, completa.
Entre as várias vantagens que Kumar aponta no amplo investimento em educação, como forma de lidar com a superpopulação mundial, está a melhora na qualidade de vida conquistada por indivíduos que estudam mais. Além disso, do ponto de vista da saúde, famílias cujos pais puderam frequentar a escola têm menos problemas de saúde, já que eles possuem melhores condições de orientar os filhos em relação a questões de higiene e hábitos saudáveis.
Planejamento familiar
Além disso, a escola pode ser uma aliada importante na promoção do planejamento familiar, afirma o especialista da Iiasa. ;Mesmo que o tema planejamento familiar não esteja diretamente presente nos currículos escolares, pessoas com maior grau de instrução são mais propensas a encontrar informações referentes a métodos contraceptivos;, explica.
O investimento em planejamento familiar deve mesmo ser uma das grandes prioridades de governos que queiram promover o crescimento ordenado das suas populações, acredita John Bongarrts, da organização internacional Population Council, com sede em Nova York (EUA). ;Todos os anos, ocorrem 184 milhões de gestações no mundo, sendo que 40% delas não são planejadas;, informa. ;Em regiões mais pobres, como na África Subsaariana, as mães têm muitos filhos por acreditarem que eles serão mão de obra adicional na lavoura, quando na verdade estarão ajudando a aumentar a demanda por alimentos;, explica.
Em 1994, em um tratado da Organização das Nações Unidas (ONU), 184 países se comprometeram a priorizar políticas de planejamento familiar. ;No entanto, ao longo dos anos 1990 os recursos destinados a essas ações ficaram cada vez mais escassos;, lamenta Bongarrts. ;Por isso, não é demais dizer que hoje, mais do que nunca, as mulheres estão tendo o seu direito ao planejamento familiar negado.;
Se o problema é grave em regiões do continente africano, aos poucos a situação tem mudado em outras regiões em desenvolvimento, que já começam a mostrar um perfil populacional semelhante ao de países ricos. É o caso brasileiro. ;No Brasil, a taxa de natalidade caiu muito rapidamente e agora é menor do que nos EUA, por exemplo;, explica o pesquisador da Universidade da Califórnia ; Berkeley, Ron Lee.
De acordo com o cientista, considerando-se apenas as taxas de nascimento, a longo prazo o Brasil pode enfrentar uma situação inversa da tendência mundial: a diminuição populacional. ;No país, a fertilidade é atualmente cerca de 1,9 nascimento por mulher, enquanto 2,1 nascimentos seria a média necessária para a substituição a longo prazo da população;, conta Lee. ;Essa é uma tendência que já se apresenta há bastante tempo nos países mais ricos e que agora se espalha por outras regiões que se desenvolveram mais tardiamente, como China e Tailândia;, pontua o especialista.