Agência France-Presse
postado em 01/08/2011 14:16
Uma equipe de cientistas internacionais desenvolveu uma bactéria substituindo uma das quatro bases do DNA por um composto sintético, abrindo caminho para uma substituição total que poderia produzir biocombustíveis ou medicamentos sem nenhum risco de mutações nocivas.O otimismo vem do fato de que os compostos sintéticos estão ausentes na natureza e, portanto, não podem assim interagir com os seres vivos. "É uma ideia que não surge sem propósito. Na verdade, a proximidade genética é muito mais perigosa do que a diferença", explica o biólogo francês Philippe Marli;re, da sociedade Heurisko USA. O cientista assegurou que o que mais irá proteger o meio ambiente e a saúde são organismos o mais diferentes possíveis e que dependam o máximo de ingredientes artificiais inexistentes na natureza.
O estudo que este biólogo desenvolve com o pesquisador Rupert Mutzel, da Universidade Livre de Berlin, tem por objetivo modificar a composição do DNA, formado por quatro moléculas: adenina (A), timina (T), guanina (G) e citosina (C). O encadeamento entre elas constituiu o programa genético.
Submetendo as bactérias a um processo de evolução acelerada em uma solução pobre em timina, porém rica em chlorouracile, a equipe de especialistas acaba de criar uma bactéria viável cujo DNA utiliza este composto sintético (ausente na natureza) no lugar da timina.
Os resultados, que foram recentemente publicados na revista científica alemã Angewandte Chemie, são apenas uma primeira etapa dos estudos, ainda sob análise, uma vez que ainda não se conseguiu um "0% de timina", de acordo com Marli;re, que acredita que daqui "a cinco anos" a substituição das quatro bases do DNA seja possível.
Marcianos na Terra?
Isso não iria, de alguma maneira, desenvolver marcianos na Terra? "Esta é exatamente a ideia", concorda Marli;re, ainda que a pesquisa trate apenas de microorganismos. ;Normalmente se pensa que quanto mais diferente, mais artificial uma coisa seja, mais perigosa ela é. Na verdade, é exatamente o contrário", assegura o pesquisador.
"Por que a Aids é tão perigosa? Porque é causada por um vírus que vem dos macacos. Se viesse dos marcianos, não teria perigo", garante este pioneiro da investigação biológica sintética em uma disciplina incipiente: a xenobiologia.
Esta terminologia já existia para designar uma possível vida extraterrestre, mas "nós o apropriamos", afirma o cientista. "A exobiologia ou a astrobiologia designam a vida que poderia existir em outros planetas e a xenobiologia é a vida estrangeira, etimologicamente, e não há nenhuma razão para que não possamos fazer aparecer sobre a Terra a vida extraterrestre", argumenta.
Diversos estudos da xenobiologia objetivam impedir qualquer interação entre o meio natural e os microorganismos, transformados em seres vivos graças a técnicas de bioengenharia em desenvolvimento. As pesquisas são, de acordo com Marli;re, o meio "mais seguro e direto" de colocar em prática o "princípio de precaução nas biotecnologias sem desacelerar o progresso industrial".
Bactérias com um DNA totalmente artificial "não teriam nenhuma chance" de substituir e proliferar em um meio natural caso escapem de fermentadores de biocombustíveis ou de outro local de confinamento, garante o biólogo.
Outro defensor da xenobiologia, Markus Schmidt, apresentou uma criação em laboratório de "uma nova forma de vida ;alien; ou ;extraterrestre;" como "uma ferramenta de biossegurança" em um artigo publicado no ano passado pela revista BioEssays. Indagado sobre se seu projeto será aceito pela sociedade, Marli;re reconhece que a população vê este tipo de experiência como uma espécie de transgressão. "De fato é uma transgressão, mas não é verdade que ela seja necessariamente perigosa", concluiu.