Humberto Siqueira
postado em 08/09/2011 09:09
Belo Horizonte ; Comumente confundida com anemia, a mielodisplasia é uma doença grave e pouco conhecida. Ocorre quando as células-tronco hematopoiéticas da medula óssea sofrem alterações, deixando de produzir de forma correta glóbulos vermelhos, neutrófilos e plaquetas. Pode levar o paciente a quadros de anemia, infecções e sangramentos.Os portadores geralmente têm deficiência de células no sangue, pois elas costumam morrer antes de serem liberadas na corrente sanguínea. São cinco tipos de mielodisplasia, classificadas de acordo com o grau de seriedade e de comprometimento da saúde do paciente. Além de contagens baixas de hemácias, leucócitos e plaquetas, as células apresentam mudanças em sua estrutura, devido a alterações nos cromossomas dos bastos.
Segundo Vanderson Rocha, médico hematologista e coordenador da Unidade de Transplantes de Medula Óssea do Hospital Sírio Libanês, do Instituto de Tratamento do Câncer Infantil da Universidade de São Paulo e diretor científico do Registro Internacional em Transplante de Sangue e Cordão Umbilical (Eurocord), normalmente, as células imaturas conhecidas como blastos representam menos de 5% de todas as células da medula óssea. Pacientes com mielodisplasia têm mais. ;Quando passam de 20%, já podemos considerar como leucemia mieloide aguda;, explica.
Tratamentos de quimioterapia ou radioterapia em casos de câncer, como linfoma ou tumores de mama, podem desencadear o desenvolvimento da mielodisplasia. Outra forma é o contato constante com produtos químicos, como o benzeno, presente na fumaça do cigarro, que danifica o DNA das células-tronco normais. Acomete principalmente pessoas mais velhas, embora não seja uma doença exclusiva de idosos. Vitiligo e diabetes também estão frequentemente associadas.
O principal sintoma é a anemia moderada ou grave. Fadiga exagerada, falta de fôlego para atividades normais, palidez, fraqueza e perda de apetite também podem estar presentes. Ocasionalmente, o sangramento da pele (chamado de púrpura) e a manutenção prolongada de cortes são também sintomas ; resultados da baixa contagem de leucócitos.
O diagnóstico se dá com a presença de pelo menos um dos seguinte fatores: mais de 5% de blastos entre as células da medula óssea, anomalias citogenéticas (alteração nos cromossosmos das células) e mudanças óbvias na estrutura ou na forma da medula óssea. O tratamento pode incluir medidas paliativas, como transfusões periódicas de plaquetas e hemácias. Outra opção terapêutica são os medicamentos hipometilantes, que têm um mecanismo responsável pela alteração do funcionamento dos genes supressores tumorais.
Cura
De acordo com o hematologista, a única solução definitiva é o transplante de medula óssea. ;O microambiente da medula, onde as células são produzidas, está alterado. Então, o transplante consiste em matar todas as células-tronco da medula óssea e fazer o transplante de novas células sadias, que vão assumir a função de dar origem às unidades necessárias ao organismo de forma correta. Nesse caso, é preciso um doador compatível. Caso contrário, uma alternativa é usar células-tronco retiradas de cordão umbilical;, esclarece.
Depois do transplante, o paciente fica internado, respirando ar filtrado e com acesso restrito. Vive quase numa bolha, já que qualquer infecção ou complicação poderia ser fatal. Durante esse período, também é observada a possibilidade de doença do enxerto contra hospedeiro, uma vez que a doença é uma rejeição potencialmente fatal, que ataca as células da medula, principalmente os linfócitos, atingindo a pele, o intestino e o fígado.
O assistante financeiro Marcelo Andrade, 44 anos, está em vias de passar pelo procedimento. Em fevereiro, ele começou a ter dores abdominais muito fortes. Com dificuldades para conseguir marcar consulta e exames em Macaé, no interior fluminense, a doença foi se tornando mais agressiva. ;As dores estavam se intensificando. Eram tão fortes que não conseguia nem comer. Me sinto muito fraco. Em seis meses, perdi 15kg. Estou pesando 53kg;, conta. ;Então, resolvi ir para Belo Horizonte, com indicação de procurar o clínico Renato Mussi Lara Safar e a hematologsita Andréia Gonçalves de Oliveira, na Clínica Divina Providência. Só então levantou-se a suspeita de mielodisplasia. Se realmente o quadro se confirmar, vou precisar ganhar peso para o transplante. O problema é que não estou conseguindo. Quando como, sinto que o alimento leva horas para ser digerido. Vou precisar, inclusive, fazer exames no sistema digestivo para averiguar a razão dessa dificuldade de digestão.;
O desafio de Marcelo realmente não é fácil. Muitas vezes, os pacientes necessitam mudar de estilo de vida. A doença também atinge membros da família e amigos. A esposa de Marcelo, por exemplo, Luciana Andrade, precisou se afastar do emprego para acompanhá-lo. Conversar com os médicos e enfermeiras que tratam do paciente pode ajudar a diminuir a preocupação com a doença e com o futuro. A equipe profissional também está preparada para indicar outros recursos. Muitos pacientes sentem enorme alívio quando conseguem recuperar uma sensação de controle sobre suas vidas.