postado em 13/09/2011 09:24
Grande parte do Brasil sofre com o clima quente e seco das últimas semanas. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as altas temperaturas e a baixa umidade devem continuar até, pelo menos, a próxima semana. Quem mora no Distrito Federal, um dos locais mais atingidos, e tem condições para isto, costuma buscar refúgio contra o calor inclemente em ambientes com ar-condicionado. O calor pode ser minimizado, mas há consequências: uma das principais, mas menos conhecida, é a ocorrência de problemas nos olhos. Entre as maiores queixas de quem tem acesso a esse conforto estão irritações na visão, ardência, vermelhidão, vista embaçada, coceira e sensação de areia nos olhos.De acordo com o oftalmologista Jonathan Lake, a incidência de reclamações entre quem fica em ambientes fechados e com o ar ligado parece ser maior no fim do inverno ; justamente, esta época ;, pois a baixa umidade do ar piora os problemas oftalmológicos. ;Com certeza, nesse calor de setembro as pessoas recorrem muito ao ar-condicionado, principalmente nos escritórios. O ar, porém, resseca ainda mais o ambiente e as mucosas em geral, e os olhos sofrem com isso;, explica. O oftalmologista Celso Boianovsky concorda: ;Quando vamos analisar o ambiente de trabalho da pessoa, que imaginamos ser bem controlado, vemos que as queixas de irritação, vermelhidão e ardência na vista são potencializadas. Afinal, além de o ar-condicionado roubar a umidade do local, na maioria das empresas a manutenção dos aparelhos é deficitária;.
A farmacêutica Ana Paula Petruceli, 34 anos, tem que lidar com a conjuntivite e as crises de rinite alérgica, muito comuns entre quem passa horas em ambientes climatizados. Ela trabalha seis horas por dia em um lugar com ar-condicionado constantemente ligado. ;E quanto mais quente está o clima, mais gelado a gente coloca o aparelho;, admite. Como o aparelho retira as partículas de água presentes no ar, no decorrer da tarde a farmacêutica sente os olhos pregando e ardendo. ;Eles também lacrimejam e ficam irritados. Aí, dá vontade de coçar, mas evito isso, porque sei que só piora a situação;, destaca.
Ela assume que, antes de se graduar em farmácia, costumava se automedicar, usando colírios comuns e soro fisiológico nos olhos, mas nenhuma das medidas resolveu seu problema. ;Por isso, fui a um oftalmologista. Ele recomendou um colírio antialérgico e um para lubrificar os olhos, chamado de lágrima artificial.; A farmacêutica garante que os dois remédios, embora não tenham acabado definitivamente com a irritação na vista, melhoraram bastante a situação.
Síndrome
A autônoma Leônia Vieira, 39 anos, passa pelo menos oito horas por dia em um ambiente com equipamento de refrigeração. Após alguns anos nessa rotina, percebeu que seus olhos coçavam e ardiam intensamente, ;mais do que o normal;. ;Então, no ano passado, fui a um oftalmologista, porque estava sentindo muita dor, sensação de que os olhos ficavam espetando. Eu achei que tinha algum problema sério na córnea;, conta. Leônia descobriu que estava com a síndrome do olho seco, problema que, segundo Boianovsky, talvez não tivesse se manifestado se ela não morasse em uma cidade tão seca e não usasse o ar-condicionado tão frequentemente.
A síndrome é uma doença caracterizada pela diminuição da produção de lágrimas ou por deficiências em alguns de seus componentes, como enzimas e proteínas. Esse problema deixa os olhos mais sensíveis a vírus, bactérias, fungos e outros micro-organismos. O problema pode ser sazonal ou se tornar crônico.
Há cerca de um mês, Andréa Rocha, 26 anos, servidora pública, achou que estava com conjuntivite. ;Meus amigos do trabalho estavam com medo, pois também acreditavam que eu tinha conjuntivite. Meus olhos ficavam muito vermelhos e sensíveis durante o dia, sintomas que se intensificavam à noite;, lembra, destacando saber que aparelhos de ar-condicionado ajudam a disseminar a doença. Quando foi ao médico, porém, o diagnóstico foi alergia ocular.
Ela passa cerca de 10 horas por dia em lugares com ar-condicionado, o que parece ter sido determinante para seu problema. ;Ainda fico com os cantos dos olhos vermelhos, apesar do tratamento com colírios lubrificantes e antialérgicos. Como os aparelhos geralmente não recebem muita manutenção, há acúmulo de ácaros, e isso prejudica a saúde. Não tem muito como fugir;, resigna-se Andréa.
O alergista Willan Guerreiro destaca que é comum os indivíduos que ficam muito tempo em lugares com refrigeração terem irritações nas vistas e conjuntivite alérgica, associada a problemas nas vias respiratórias, como rinite alérgica e asma. Um equipamento de ar-condicionado com manutenção deficitária é veículo para a transmissão de poeira, ácaros, vírus e bactérias, agentes que causam principalmente coceira nos olhos e ardência. Ele explica, ainda, que vários fatores, como a presença de carpetes em escritórios, intensificam o problema.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) usa a expressão ;síndrome do edifício doente; para descrever as situações em que os ocupantes de prédios apresentam problemas de saúde ligados à climatização artificial. Entre as medidas necessárias para evitar a síndrome estão fazer a vistoria do aparelho, tanto em prédios quanto nos carros, a cada seis meses, e trocar os filtros, quando necessário.
Colírios
O oftalmologista Celso Boianovsky adverte que pingar soro fisiológico nos olhos para aliviar os sintomas de alergias oculares é condenável. ;O soro nada mais é do que uma água semiesterelizada e com sal, que em nada se parece com a lágrima;, detalha. Usar colírios comuns, encontrados facilmente nas farmácias, tampouco é um procedimento adequado.
Boianovsky alerta que esses colírios são vasoconstritores, com substâncias que diminuem as artérias e os vasos oculares. ;Com eles, o paciente apenas reduz a vermelhidão, mas não trata a causa do problema. Além disso, o organismo da pessoa pode ficar dependente desse colírio.; O oftalmologista Jonathan Lake determina que cada paciente é diferente, o que requer um tratamento personalizado. ;Por isso, não adianta pegar emprestado o medicamento usado por um parente ou amigo: o que funciona para um tipo de paciente não funciona para o outro.;
Limpeza obrigatória
O deputado federal Washington Reis (PMDB-RJ) propôs um projeto de lei, em análise pela Câmara dos Deputados, que torna obrigatória a realização anual de limpeza geral nos aparelhos de ar-condicionado e nos dutos dos sistemas de ar refrigerado central em todos os prédios públicos e comerciais. O PL 969/11 determina que a responsabilidade pela fiscalização dessa norma será da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).