Enviado Especial
postado em 21/09/2011 09:11
São Paulo (SP) ; Ela pode ser chamada de tosse comprida ou simplesmente coqueluche. Uma doença antiga, dos tempos da vovó, mas que assusta mesmo é os mais novos. Tido como controlado no Brasil, o mal, segundo especialistas, nunca foi tão assustador. Só este ano, cerca de 2 mil foram notificados ; quase 600, confirmados. A coqueluche já provocou a morte de 16 bebês, todos com menos de 6 meses. O pior, no entanto, ainda está por vir. A doença é mais frequente nos meses mais quentes, como dezembro e janeiro. A única forma de proteção é por meio de vacinação.Ao contrário do que muita gente imagina, a coqueluche não é uma doença leve e que atinge apenas crianças. ;O que estamos presenciando é justamente um crescimento dos casos entre adolescentes e adultos, que, ao contrário das crianças, não estão imunizados;, explica a pediatra Luiza Helena Falleiros Arlant, vice-presidente da Sociedade Latinoamericana de Infectologia Pediátrica (Slipe). ;Embora os casos mais graves, que podem levar à morte, ocorram em bebês, de no máximo 6 meses, é nos adultos que a doença, surpreendentemente, tem crescido nos últimos anos;, conta.
Se a imunização, feita pela vacina tríplice viral (que também protege contra o tétano e a difteria), é obrigatória no calendário oficial da rede pública, por que os adultos, que têm sido alvo de intensas campanhas, estão ficando doentes? A resposta é simples: a vacina protege por um período máximo de seis anos. Como a última dose é administrada por volta dos 6 anos, no início da adolescência o paciente já está suscetível à doença. ;A vacina com o anticorpo inteiro, como é ministrada na rede pública de saúde, possui muitas toxinas e, se administrada em pacientes com mais de 7 anos, produziria efeitos colaterais severos. Por essa razão, ela só pode ser utilizada em crianças;, conta Lúcia Bricks, doutora em medicina pela Universidade de São Paulo (USP).
Atenção
Apesar da frequência maior em adultos, é nos bebês que a doença mais preocupa os médicos. A vacina precisa inicialmente de três doses para imunizar, dadas a cada dois meses após o nascimento. Dessa forma, até a metade do primeiro ano de vida, os recém-nascidos ainda não estão completamente protegidos. Além de serem mais vulneráveis à doença e terem menos força para combater o vírus, os pacientes também têm menos anticorpos para proteção contra outras doenças. ;O muco que se acumula no sistema respiratório em função da coqueluche serve como um meio de cultura para outras bactérias, que podem causar doenças como a pneumonia;, conta o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato de Ávila Kfouri.
Nos mais velhos, a doença segue silenciosa. Como os sintomas são mais leves ; em geral, apenas uma tosse persistente ;, o paciente não costuma procurar um médico. ;Na maioria das vezes, culpa-se a poluição ou o cigarro e espera-se que a tosse se cure sozinha. Apesar de não preocupar, o paciente transmite a doença para outras pessoas, entre elas, os bebês, que podem sofrer casos mais graves;, explica Luiza Helena. Estudos mostram que as mães são as principais responsáveis pela transmissão para os bebês ; em 33% dos casos, é delas que vêm as bactérias.
Se, em aproximadamente 75% dos casos em bebês, a transmissão da coqueluche ocorre dentro de casa, vinda da família, e não é possível imunizar os bebês antes dos 6 meses ; quando a terceira dose completa o ciclo de proteção ;, a estratégia proposta pelos médicos é vacinar também os adultos. Uma nova vacina, a dTpa5-IPV, vem sendo usada nos Estados Unidos e na Europa e conseguindo ajudar a conter a doença. ;A grande vantagem dessa nova vacina é que ela pode ser administrada em adolescentes e adultos;, conta a médica Lúcia Bricks, da USP. ;Imunizando a família e os profissionais que cercam as crianças, conseguiremos salvar a vida dos bebês que ainda não cumpriram seu ciclo de imunização;, completa.
* O repórter viajou a convite da Sanofi Aventis.