postado em 24/09/2011 15:42
Até muito recentemente, a maioria dos cientistas acreditava que, somente depois de o mundo ter deixado de ser um domínio dos dinossauros, há cerca de 65 milhões de anos, as espécies de mamíferos tiveram espaço para se desenvolver e tornar-se a classe dominante no planeta. Entretanto, uma nova pesquisa publicada na edição desta semana da revista científica Science mostra que a história pode não ter sido bem essa.O estudo, que teve a participação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), comprovou que, ao contrário do que se imaginava, o surgimento dos principais grupos de mamíferos não ocorreu depois da extinção dos grandes répteis, no fim do Período Cretáceo, e sim 15 milhões de anos antes, quando os dinos ainda dominavam a Terra. Os grupos, surgidos nessa época, resultaram, milhares de anos depois, na grande diversidade de mamíferos atual, incluindo os seres humanos.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram de 35 mil bases genéticas presentes em 26 genes de 164 espécies de animais. Além disso, os pesquisadores compararam os animais atuais com fósseis de seus ancestrais, calculando o parentesco entre as espécies e o tempo que cada grupo demorou para evoluir geneticamente. ;Trabalhamos nesse projeto há cerca de 10 anos, desde 2001, e o volume de espécies analisadas permitiu descobrirmos, com mais exatidão, qual a estrutura da árvore evolutiva dos mamíferos;, conta o pesquisador gaúcho Eduardo Eizirik.
Segundo a pesquisa da qual ele participou, os pequenos mamíferos, que surgiram há cerca de 200 milhões de anos, tiveram a chance de se diversificar geneticamente há aproximadamente 80 milhões de anos. ;Essa diversificação aconteceu durante a Revolução Terrestre do Cretáceo, um período em que as árvores com frutos surgiram e se espalharam pela Terra;, conta Eizirik. Assim, não foi a extinção dos dinossauros que abriu caminho para a diversificação mamífera, e sim, a abundância vegetal experimentada no período.
Diferenciação
Apesar da novidade, o desaparecimento dos dinossauros continuam tendo um papel importante no desenvolvimento mamífero. Isso porque, apesar de os dois grupos terem convivido, o segundo permaneceu morfologicamente limitado enquanto o primeiro ainda existia. Todas as espécies de mamíferos eram pequenas e quase sempre terrestres, semelhantes a pequenos gambás ou ratos. ;Foi só depois do fim dos dinossauros que esses animais diminutos ganharam espaço para sua diferenciação morfológica, o que resultou em uma diversidade de mamíferos que engloba desde a baleia até o morcego;, revela o pesquisador gaúcho.
Assim, a grande diversidade filogenética dos mamíferos pôde dominar a Terra, à medida que espaços, anteriormente controlados pelos dinossuros ficaram livres. ;Nichos ecológicos para grandes herbívoros e carnívoros foram dominados por dinossauros durante o Período Cretáceo. Esses nichos só se tornaram disponíveis para outros organismos depois quo os dinossauros foram extintos;, conta o pesquisador da Universidade da Califórnia-Riverside Mark Springer, em entrevista ao Correio.
;Assim, os mamíferos foram bem-sucedidos à medida que se irradiaram para esses hábitats, que anteriormente eram ocupadas por dinossauros;, afirma o pesquisador norte-americano.
Uma das questões que permanecem sem resposta para os cientistas é por que boa parte dos mamíferos que conviveram com os dinossauros conseguiu sobreviver à famosa extinção em massa que dizimou a maioria dos grandes répteis. ;É algo difícil de determinar. Podemos apenas especular que questões como a capacidade de adaptação desses animais ou suas características ecológicas podem ter tido alguma influência, mas não há uma resposta única e definitiva para isso;, conta Eizirik.
;A sobrevivência era muito mais difícil em animais de maior porte do que animais menores. Presumivelmente, os mamíferos que sobreviveram à extinção foram capazes de fazê-lo em parte devido ao seu tamanho muito menor em relação a animais como dinossauros;, completa Springer.
De onde veio?
O mistério em relação ao desaparecimento dos dinossauros continua. Apesar de os cientistas já saberem que a provável causa foi a aqueda de um asteroide, não há consenso sobre de onde veio esse gigante de pedra que atingiu a Terra. O principal candidato era um baptistina, nome dado a família de asteroides localizados entre Marte e Júpiter. Esse grupo rochoso, no entanto, foi ;absolvido; esta semana pela Nasa, a agência espacial norte-americana. Depois de observações pelo telescópio Wise, os cientistas concluíram que o choque ocorrido nesse cinturão de asteroides e que poderia ter lançado a rocha sobre a Terra ocorreu em uma época diferente daquela em que os dinossauros desapareceram.