postado em 25/09/2011 08:00
Prédios desmoronados e a possibilidade de que pessoas esperam ser salvas sob pilhas de escombros. A cena aterrorizadora não raramente surge ao redor do mundo. Basta lembrar de eventos trágicos como o terremoto e o tsunami que atingiram o Japão no começo do ano ou os abalos sísmicos que afetaram o Haiti e o Chile em 2010. Para ajudar o trabalho das equipes de resgate na busca por sobreviventes, um grupo internacional de pesquisadores desenvolveu um equipamento capaz de detectar moléculas liberadas pelo organismo humano pela respiração e pelo suor e assim indicar a possível localização de sobreviventes em desastres desse tipo.O estudo, publicado na revista Journal of Breath Research, faz parte do projeto Second Generation Locator for Urban Search and Rescue Operations (Segunda Geração de Localizador para Pesquisa Urbana e Operações de Resgate, em tradução livre), desenvolvido desde 2008. Na pesquisa ; a primeira que contou com a participação de humanos para fazer o papel de vítimas soterradas ;, a equipe simulou o desmoronamento de um prédio. Oito voluntários ficaram confinados separadamente em caixotes com ar-condicionado durante seis horas diariamente ; a simulação durou cinco dias. As moléculas liberadas pelo organismo dos participantes passavam por um cilindro que continha material de construção, para tornar a simulação mais próxima da real (veja quadro abaixo).
;Observamos que determinadas moléculas emitidas pela respiração, pelo suor e pela pele poderiam ser usadas para encontrarmos pessoas em construções colapsadas, o que aumenta a possibilidade de usarmos sensores portáteis em situações reais de resgate;, explica ao Correio o líder do estudo, Paul Thomas, professor da Universidade de Loughborough.
Os principais componentes liberados pela respiração dos indivíduos foram o dióxido de carbono e a amônia. Pelo suor, notou-se a emissão de acetona e isopreno. Para identificar essas moléculas, a equipe ; que conta com pesquisadores da Universidade de Loughborough (Reino Unido), da Universidade Técnica Nacional de Atenas (Grécia), da Universidade de Babe-Bolyai (Romênia) e da Universidade de Dortmund (Alemanha) ; desenvolveu um sensor químico portátil, chamado First, que capta os elementos presentes na atmosfera e, por meio de um sistema de amostragem, identifica os gases liberados pelo organismo com mais intensidade.
;O interessante foi que o dispositivo conseguiu detectar os gases mesmo quando estavam misturados a poeira e quando seus níveis variavam. Por exemplo, o First mostrou que houve uma queda significativa nos níveis de amônia quando os participantes estavam adormecidos;, prossegue Thomas, ressaltando que a equipe ficou muito atenta à segurança dos voluntários. ;Houve um treinamento intenso de todos eles. Analisamos o estado de saúde de cada um e tínhamos equipes de emergência para socorrê-los se fosse necessário.;
Vantagens
O desenvolvimento de um dispositivo que detecte os metabólitos (produtos do metabolismo) liberados pelo corpo humano pode ter uma série de vantagens sobre as técnicas atuais de resgate. ;O sensor pode ser usado em campo sem precisar enviar dados para um laboratório. Além disso, ele pode monitorar sinais de vida por períodos prolongados, diferentemente de cães farejadores, que não podem trabalhar por muito tempo e precisam descansar por muitas horas;, compara o especialista. No entanto, ele não acredita que o aparelho substitua completamente os animais treinados para ajudar em resgates.
Thomas afirma que o próximo passo do projeto é fazer simulações que durem mais tempo, para torná-las cada vez mais realistas. ;Também queremos identificar mais metabólitos que auxiliem na busca por pessoas sob escombros. Isso será um grande desafio, mas acredito que seremos bem-sucedidos;, prevê. Na própria pesquisa, os autores comentam que pretendem estudar a liberação de urina das pessoas, já que há moléculas nesse líquido que podem ser analisadas pelo sensor. Há, ainda, planos de fazer a simulação em diferentes climas, níveis de umidade e com materiais de construção diversos.
Temperatura regulada
Em situações de perigo, é comum que a temperatura do corpo se eleve e surja a transpiração. A especialista em toxinologia da UnB Elisabeth Schwartz explica que há, basicamente, dois tipos de glândulas produtoras de suor: as apócrinas, nas axilas, virilhas e pés; e as écrinas, distribuídas em todo o corpo. ;As glândulas apócrinas contêm proteínas, água e sais minerais, além de gordura, hormônios e alcaloides, que podem produzir odor próprio. As glândulas écrinas, que também secretam água e sais minerais, são as mais importantes na regulação da temperatura e sua secreção não tem cheiro;, detalha.