Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Nobel de Medicina premia trabalhos sobre o sistema imunológico

Estocolmo - O prêmio Nobel de Medicina foi atribuído nesta segunda-feira (3/10) em Estocolmo a três cientistas por seus trabalhos sobre o sistema imunológico, que permitem ao organismo humano defender-se das infecções, abrindo novos caminhos na luta contra o câncer e outras doenças, mas a notícia ficou em segundo plano depois que foi revelado que um dos vencedores faleceu há poucos dias.

O americano Bruce Beutler, 53 anos, o francês Jules Hoffmann, 70, e o canadense Ralph Steinman "revolucionaram" os conhecimentos sobre o sistema imunológico, afirmou o secretário do comitê Nobel de Medicina, Goran Hansson. Mas poucas horas depois do anúncio veio a notícia de que o canadense Steinman, que tinha 68 anos, faleceu na sexta-feira, vítima de um câncer de pâncreas. "Steinman faleceu no dia 30 de setembro", anunciou a Universidade Rockefeller em um comunicado. "Ele foi diagnosticado com câncer de pâncreas há quatro anos, e a vida dele se prolongou graças à aplicação de uma imunoterapia à base de células dendríticas que ele mesmo criou".

Steinman nasceu em 1943 em Montreal. Obteve doutorado em Medicina na Harvard Medical School de Boston (Estados Unidos) em 1968 e estava associado desde 1970 à Universidade Rockefeller de Nova York, onde era professor de Imunologia.



O comitê de Medicina do Nobel não sabia da morte de Steinman. De acordo com os regulamentos do comitê, "o trabalho realizado por uma pessoa falecida não será considerado para um prêmio. No entanto, se um vencedor do prêmio falecer antes de ter recebido o prêmio, a láurea poderá ser entregue a um representante."

Hansson, diretor da Assembleia do Nobel no Instituto Karolinska, afirmou que o comitê havia acabado de ser informado sobre a morte do cientista. "Nós acabamos de receber a informação. A única coisa que podemos fazer agora é lamentar que ele não tenha tido a oportunidade de aproveitar", disse Hansson à agência sueca TT. "Nós não escolhemos novos vencedores, esta foi nossa decisão". "Como será feito na prática para entregar o prêmio é o que temos que discutir", completou. "A Universidade Rockefeller está encantada que a Fundação Nobel tenha reconhecido Ralph Steinman por suas descobertas seminais sobre a defesa imunológica do corpo", afirmou o reitor da universidade, Marc Tessier-Lavigne.

"Mas a notícia é um pouco amarga, já que nós soubemos nesta manhã da família de Ralph que ele faleceu há alguns dias, depois de uma longa batalha contra o câncer. Nossos pensamentos estão com a esposa de Ralph, seus filhos e família."

O sistema imunológico permite a defesa do organismo com a liberação de anticorpos e células defensivas em resposta a vírus ou germes. "Na primeira linha, o sistema imunológico inato pode destruir micro-organismos infecciosos e provocar uma inflamação que contribui para bloquear o ataque antes do surgimento dos anticorpos", explica o comitê em um comunicado. Se esta primeira linha de defesa for insuficiente, o sistema imunológico de adaptação entra em campo. Isto permite a vacina, já que as células conservam a memória do agressor.

As pesquisas dos três premiados abrem o caminho para novos medicamentos e vacinas, e permitem combater deficiências imunológicas como a asma, a poliartrite reumatoide e a doença de Crohn. "Seus trabalhos abriram novos caminhos para o desenvolvimento da prevenção e para terapias contra as infecções, os cânceres e as doenças inflamatórias", explica o júri.

"Beutler e Hoffmann compartilham metade do prêmio por seus trabalhos sobre o sistema imunológico inato. Steinman é recompensado por seus trabalhos sobre o sistema imunológico de adaptação", indica a nota do comitê, divulgada antes do anúncio da morte do canadense. Os dois primeiros dividirão metade do prêmio (10 milhões de coroas, US$ 1,48 milhão) e o canadense teria direito a outra metade.

Beutler, nascido em 1957 em Chicago, é formado pela Universidade da mesma cidade do norte dos Estados Unidos. Depois de ter trabalhado nas universidades de Nova York e Dallas, entrou no ano 2000 para o Instituto de Pesquisa Scripps em La Jolla (Estados Unidos), onde é professor de Genética e Imunologia.

Hoffmann, que nasceu em Echternach (Luxemburgo) em 1941, obteve doutorado de Medicina na Universidade de Estrasburgo (França) em 1969. Depois de alguns anos na Universidade de Marburgo (Alemanha), dirigiu um laboratório de pesquisas em Estrasburgo de 1974 a 2009, foi diretor de Biologia Molecular e Celular na universidade da mesma cidade e, em 2007-2008, presidiu a Academia Francesa de Ciências. Esta é a 12; vez que o Nobel de Medicina recompensa trabalhos sobre o sistema imunológico.

A cerimônia de premiação está programada para o dia 10 de dezembro em Estocolmo, data do aniversário da morte do fundador do prêmio, o industrial sueco Alfred Nobel.