Ciência e Saúde

Homo Sapiens começou a ocupar o continente europeu há 45 mil anos

Paloma Oliveto
postado em 03/11/2011 09:58
Mandíbula humana retirada da Caverna de Kent: tecnologia mais avançada pemitiu determinar que o fóssil tem entre 41 mil e 44 mil anos
Dois dentes de leite anteriormente atribuídos ao Homem de Neandertal podem mudar a história da ocupação da Europa. As peças, de 45 mil anos, são, na verdade, do Homo sapiens. Sete mil anos antes do imaginado, ele já havia deixado a África para trás, atravessado a Ásia e se espalhado pelo continente europeu. Lá, coabitou com os grupos de caçadores-coletores da única outra espécie humana que existiu no planeta. Dois estudos independentes publicados na edição de hoje da revista Nature corrigiram antigas datações de carbono, mostrando que os homens modernos migraram mais cedo do que o previsto.

Stefano Benazzi, do Departamento de Antropologia da Universidade de Viena, contou em uma coletiva de imprensa por telefone que, em 1964, dois molares de leite foram escavados na Grotta del Cavallo, uma caverna localizada no sul da Itália. Com o tempo, camadas de terra vão se sobrepondo às mais antigas, enterrando os resquícios de uma determinada época. Os pequenos dentes, que provavelmente serviam de ornamento para um colar, estavam na camada correspondente à cultura Uluziana, atribuída ao Homem de Neandertal devido à datação antiga demais para pertencer ao Homo sapiens. Como os objetos do período são ferramentas e ornamentos complexos, alguns cientistas começaram a especular que o neandertal, geralmente associado à figura de um ser abrutalhado e pouco inteligente, era mais sofisticado do que se imaginava.

O debate sobre a intensidade cultural dos neandertais parece não ter fim, com fortes argumentos e evidências apresentados por ambos os lados ; tanto os que defendem a supremacia intelectual do Homo sapiens quanto aqueles que acreditam na complexidade do Homem de Neandertal. Para Benazzi, o estudo apresentado na Nature tende a reforçar a ideia do primeiro grupo. A identificação dos molares foi feita na década de 1960 e, de acordo com o antropólogo, estava errada. ;Nós usamos dois métodos independentes e muito precisos, que analisaram o interior e o exterior das peças. Eles mostraram que os dentes, anatomicamente, pertencem ao homem moderno;, afirma.

;Existem duas visões correntes: uma de que os neandertais, sem jamais se encontrar com o Homo sapiens, desenvolveram tecnologias sofisticadas e outra de que eles começaram a produzir ferramentas e ornamentos complexos depois de entrar em contato com o homem moderno;, explicou Catherine C. Bauer, antropóloga da Universidade de Tübingen, na Alemanha, que também participou do estudo. ;O que mostramos na pesquisa não diz nada diretamente sobre os neandertais, pois estamos lidando com fósseis de humanos modernos. O que podemos afirmar com certeza é que esse local específico e essa cultura específica não pertenciam aos neandertais;, disse.

Mandíbula
O outro estudo apresentado na Nature reforça o argumento de Benazzi e Bauer de que o Homo sapiens migrou e se espalhou rapidamente pela Europa antes do que previsto. Na Caverna de Kent, sudeste da Inglaterra, foi encontrada uma mandíbula que corresponde à anatomia do homem moderno, em 1927. As primeiras datações indicaram que a peça tinha 35 mil anos, mas agora, com tecnologia mais avançada e precisa, pesquisadores da Universidade de Penn State descobriram que o fóssil tem cerca de 44 mil anos.

Dente de leite achado na Itália: novo entendimento sobre a migração humanaSegundo Ben Shapiro, um dos cientistas que assina o artigo, a nova datação fornece evidências mais claras sobre a coexistência de neandertais e humanos anatomicamente modernos. ;Se o maxilar tem, na verdade, entre 41 mil e 44 mil anos, isso significa que ele era de uma época em que os neandertais ainda estavam presentes na Europa. A coexistência aconteceu nesse local, algo que muitos cientistas ainda negavam;, afirmou em teleconferência para a imprensa.

;Para resumir os dois estudos, acredito que temos três importantes achados. O primeiro é que a Grotta del Cavallo possui os mais antigos resquícios de humanos modernos na Europa, até agora. O segundo é que o Homo sapiens, e não o neandertal, é responsável pela cultura Uluziana;, explicou, na entrevista, Stefano Benazzi. ;O terceiro achado é que o homem moderno estava no continente europeu muito antes do que imaginávamos, e isso é fundamental para compreendermos mais claramente a história das migrações humanas.;

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