Ciência e Saúde

Avanços científicos podem eliminar células danificadas e prevenir doenças

postado em 03/11/2011 11:48

Não é de hoje que a humanidade busca a juventude eterna ; ou, pelo menos, tenta atrasar os incômodos da velhice. Agora, um grupo de cientistas deu mais um passo para a realização desse sonho. Em experimentos com ratos, eles conseguiram eliminar as células velhas do organismo, responsáveis por males como a catarata, a osteoporose e os acidentes vasculares cerebrais (AVCs). Além de reverter o desgaste do corpo dos animais, o mecanismo também conteve a evolução das doenças quando elas já haviam dado os primeiros sinais. A técnica, descrita na edição de hoje da revista Nature, ainda precisa ser aprimorada, mas, após novos testes, a expectativa é que ela possa reduzir a vulnerabilidade de idosos.

Os pesquisadores norte-americanos e holandeses trabalharam no cerne do problema: o envelhecimento das células. Esse processo ocorre a cada instante. ;Quando a célula ;respira;, ela produz radicais livres, moléculas reativas que acabam causando danos ao DNA do indivíduo ao longo do tempo;, detalha José Eduardo Vargas, pesquisador do Laboratório de Sinalização e Plasticidade Celular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Isso, no entanto, explica apenas uma parte da questão. As células também ficam velhas porque o sistema imunológico das pessoas deixa de recolher estruturas que estão sem função dentro do corpo (veja infografia).

Basicamente, as células passam pela chamada senescência, a fase do amadurecimento que determina quando elas devem parar de se dividir. Assim que cumprem essas etapas, elas ficam paradas no organismo, sem exercer qualquer atividade relevante. Para eliminar esse ;entulho;, o corpo faz uma limpeza periódica, que, com o avanço da idade, deixa de ser tão eficiente. As células senescentes, ou velhas, começam, então, a criar problemas. ;Elas param de se dividir, se acumulam em diferentes tecidos e passam a liberar substâncias que causam danos;, explica o pesquisador James Kirkland, da Mayo Clinic College of Medicine, coautor do estudo.

Essa é a causa de uma série de doenças comuns na velhice. A secreção das células senescentes provoca inflamações e corrompe órgãos e tecidos. É o que ocorre, por exemplo, com idosos que sofrem de catarata. Nesse caso, as células velhas se aglomeram na região do cristalino (a lente dos olhos) e acabam deixando a visão turva. O mesmo fenômeno justifica o aparecimento da osteoporose, que deixa os ossos frágeis, ou certos tipos de demência, provocados pela morte de regiões do cérebro. ;Embora existam poucas células senescentes, elas parecem ter efeitos generalizados sobre a função (dos órgãos e dos tecidos), pois, quando as removemos de ratos, observamos uma retrocesso em diversas mudanças relacionadas à idade;, disse Kirkland ao Correio.

Controlando genes
Retirar as células senescentes, no entanto, não foi uma tarefa fácil. Primeiro, a equipe criou camundongos geneticamente modificados. Por meio da inserção de genes no DNA dos animais, os pesquisadores desenvolveram um sistema de seleção celular definido para reagir aos experimentos que seriam feitos ao longo da pesquisa. ;Em ciência, você precisa controlar as variáveis o máximo possível. Isso permite testar suas hipóteses de forma clara;, explica o pesquisador José Eduardo Vargas. Os genes inseridos nos camundongos também permitiram adiantar o envelhecimento dos animais. Caso contrário, os cientistas teriam de esperar que as amostras estivessem ;prontas; antes de aplicar a droga que promoveu a morte das células velhas.

Para acabar com as causadoras das doenças da velhice, James Kirkland e seus colegas identificaram um marcador biológico (uma proteína conhecida como p16), presente nas senescentes. Ao rastrear o marcador, uma droga agiu diretamente nessa proteína, fazendo com que as células morressem. ;Essa foi a primeira vez que se conseguiu eliminar células senescentes de um organismo vivo de forma concisa;, lembra o especialista da UFRGS. Depois dessa fase, os pesquisadores norte-americanos e holandeses realizaram uma série de testes comparativos entre o tecido das amostras e o de camundongos mais novos.

Os cientistas avaliaram como ficou a curvatura da coluna vertebral dos camundongos que passaram pelo ;rejuvenescimento;. Outros testes incluíram a análise do diâmetro das fibras musculares (que diminuem com o passar do tempo), a formação de cataratas nos olhos e o acúmulo de tecido adiposo, outros fenômenos frequentes com o avanço da idade. Além de comprovar a eficácia do método, os resultados demonstraram a relação entre as células senescentes e o aparecimentos das doenças da velhice. Agora, dizem, resta saber se o método vai ter sucesso em organismos vivos que não tenham passado por nenhuma modificação genética. ;Esse é um pequeno passo, mas, cada dia, estamos mais perto de entender como funciona uma célula dentro de seu contexto. E, entendendo isso, as terapias antienvelhecimento vão virar realidade;, aposta José Vargas.

Na França
Os autores do artigo de hoje da Nature não são os únicos que buscam a fonte da juventude. Esta semana, um grupo liderado pelo francês Jean-Marc Lemaitre, do Instituto de Genômica Funcional da Universidade de Mont-pellier, afirmou ter conseguido transformar células somáticas de idosos centenários em células-tronco. Para isso, eles também tiveram que combater a senescência. Grosso modo, a equipe utilizou um método conhecido como IPS (do inglês célula pluripotente induzida), só que com a adição de alguns genes capazes de reverter a senescência das células. ;Os marcadores de idade das células foram apagados e as células-tronco IPS que nós obtivemos podem produzir células funcionais, de todos os tipos, com capacidade de proliferação e de longevidade aumentadas;, explicou Lemaitre à agência de notícias AFP. No futuro, os pesquisadores acreditam que a técnica pode dar origem a tratamentos com células-tronco, sem que a idade do paciente seja um empecilho a isso.

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