Paloma Oliveto
postado em 13/11/2011 20:17
Humanos adoram quando conseguem ensinar os bichos a reconhecer os nomes dos objetos. Donos de cachorros ficam orgulhosos ao chamarem seus pets e serem atendidos, pesquisadores descrevem em estudos o número de vocábulos que um chimpanzé pode entender, todo mundo cai na risada quando o papagaio canta um hino de futebol. Mas, se os animais já mostraram que são capazes de aprender a linguagem do homem, o contrário não é verdade. Ou, pelo menos, não era. Um grupo de oceanógrafos dos Estados Unidos e da Inglaterra anunciou que, pela primeira vez, desvendou o ;idioma; dos golfinhos.
Como os antigos egípcios, os simpáticos cetáceos parecem fazer uso de hieróglifos para se comunicar. Os golfinhos, provaram os cientistas, simplesmente ;ouvem; a imagem das palavras. Parece confuso, mas, com um equipamento apropriado, o CymaScope, eles perceberam que os animais interpretam o que veem nas ondas sonoras que se formam na água, depois de um som ser emitido. O instrumento mostra como essas ondas se comportam de acordo com determinado som: para cada ;palavra;, forma-se na água um desenho diferente. E é com esse mecanismo audiopictórico que os golfinhos se comunicam.
Percussionista e apaixonado por animais, o principal pesquisador à frente do projeto SpeakDolphin, Jack Kassewitz, nasceu em uma fazenda da Geórgia em 1947 e, ainda criança, mudou-se para Miami. Na Flórida, entre trabalhos com crianças deficientes e dependentes químicos, fundou uma organização para reabilitar e devolver à natureza animais selvagens capturados ilegalmente. A pesquisa com golfinhos começou por acaso. Ele viajou com a mulher, Donna, sua parceira em inúmeros projetos, para o México. Lá, o único compromisso de Kassewitz era com a diversão e, como Donna precisou participar de muitas reuniões de negócios, o baterista se viu sozinho na imensidão do mar do Caribe. Uma solidão que durou pouco: logo estava cercado de golfinhos que atiçaram seu ouvido musical (leia depoimento).
Se, para um leigo, a vocalização dos golfinhos não diz absolutamente nada, um músico afiado sabe reconhecer o valor daqueles gritinhos agudos. ;A definição humana de linguagem requer o discurso, a sintaxe e a semântica. Mas os pesquisadores devem considerar a possibilidade de os golfinhos possuírem uma linguagem tonal, como o mandarim, e sibilante, como o dialeto silbo gomero, das Ilhas Canárias;, argumenta Kassewtiz.
Para tentar se comunicar com os cetáceos, ele fez uma parceria com o engenheiro acústico inglês John Stuart Reid, que inventou o CymaScope, um instrumento que consegue traduzir o som em imagem, graças à capacidade de registrar o movimento que as palavras ou vocalizações fazem quando expressas. ;Cada pessoa tem um padrão único de voz, é algo como a impressão digital. O som, ao contrário do que muita gente acredita, não se manifesta em forma de ondas, mas por bolhas brilhantes e geométricas, que conseguem ser capturadas pelo CymaScope;, explica. O desenho dos sons é realmente muito bonito, como pode ser percebido pela imagem formada ao se dizer a vogal a.
Experimento
Disposto a falar como os golfinhos, Kassewitz mostrou a um deles uma série de objetos, como cubos, um pato de plástico e um vaso de flores. Com o CymaScope, foi possível reconhecer qual a imagem formada a partir do som emitido pelo animal quando os objetos eram apresentados a ele. Os pesquisadores, então, fizeram o teste: ao repetir a vocalização, que foi gravada, o cetáceo conseguiu localizar os objetos que os cientistas queriam que ele encontrasse em 86% das tentativas. Para ter certeza de que não era apenas uma coincidência, Kassewitz e Reid mostraram a outro golfinho as imagens dos sons produzidos pelo primeiro animal do teste. O índice de acertos foi o mesmo.
Como acontece entre os humanos, o ;golfinhês; provavelmente sofre variações. ;É quase certo que a linguagem deles seja diferente, dependendo da região;, diz Kassewitz. O percussionista e cientista acha que o aperfeiçoamento do estudo da linguagem dos golfinhos poderá ajudar a compreender melhor o reino animal. ;Acredito que, ao decifrarmos as imagens dos sons que eles produzem, conseguiremos entrar no mundo deles e entender a forma como eles o vivenciam;, diz.
Agora, a equipe de Kassewitz quer investigar todos os sons que conseguiu identificar na ;fala; dos golfinhos para verificar o grau de complexidade da linguagem. ;Também queremos ver se o glissando (uma suave alteração na tonalidade de uma nota) é o equivalente, para os golfinhos, à nossa sintaxe;, diz. ;As gravações que fizemos mostram que os animais têm pelo menos 120 componentes fundamentais para a comunicação ou a produção da linguagem. Se os glissandos forem anexados, o número de elementos pode ser impressionante;, diz o pesquisador.
"A definição humana de linguagem requer o discurso, a sintaxe e a semântica. Mas os pesquisadores devem considerar a possibilidade de os golfinhos possuírem uma linguagem tonal, como o mandarim, e sibilante, como o dialeto silbo gomero, das Ilhas Canárias;
Jack Kassewitz, principal autor da pesquisa sobre a lingugem dos golfinhos