Seus antepassados corriam em bandos e livres nas estepes da Mongólia há alguns milhares de anos. Tinham uma presença tão marcante que foram retratados nas pinturas rupestres deixadas em cavernas por homens pré-históricos. Esses tempos, no entanto, chegaram ao fim e, em 1969, o cavalo de Przewalski foi considerado extinto na natureza, devido ao excesso de caça.
A espécie de cor marrom clara só não desapareceu totalmente da Terra porque foi protegida em zoológicos ao redor do mundo, onde pôde procriar. Agora, volta à sua terra de origem, graças ao trabalho de reintrodução no ambiente selvagem realizado por zoológicos e entidades de preservação animal. Os últimos a chegarem à província de Khomiin Tal, na Mongólia, onde viviam seus antepassados, foram três éguas e um garanhão, transportados para lá em junho pelo Zoológico de Praga. ;A transferência de outros quatro cavalos está prevista para 2012;, explica o diretor do zoo, Miroslav Bobek.
Para pisar com seus cascos na terra dos ancestrais, os quatro pequenos cavalos de pescoço largo tiveram de passar cerca de 30 horas no interior de caixotes especiais, a bordo de um avião do exército tcheco e, depois, de um caminhão. Logo o jovem garanhão Matyas e as éguas Kordula, Lima e Cassovia atraíram a atenção de outros animais da espécie levados para o local seis anos antes, pela associação francesa Takh (nome mongol do cavalo de Przewalski).
;Um macho dominante, Carex, pulou em agosto a cerca do local de aclimatação e se juntou ao grupo. Ele afastou Matyas, mas teve que concorrer com um outro, Bo, que se revelou um líder natural ainda mais forte;, conta Bobek. ;Bo é uma abreviação de Born to be wild (Nascido para ser selvagem) e honra o seu nome;, sorri o diretor. ;Esperamos que a chegada de nossos jovens animais dê um novo impulso à reprodução da manada de Khomiin Tal;, acrescenta.
Migração
A julgar pelas pinturas rupestres das grutas de Lascaux, na França, essa espécie vivia na Europa há 20 milhões de anos, mas as mudanças climáticas o levaram para a Ásia. Os europeus só foram saber desse cavalo selvagem no fim do século 19, graças ao explorador e geógrafo russo Nikolaã Mikhaãlovitch Przewalski (1839-1888), que o descobriu nas montanhas do deserto de Gobi. Pesando de 250 a 350kg, os animais têm de 1,2m a 1,35m de lombo e 2m de comprimento.
Em 1959, o Zoológico de Praga organizou um simpósio internacional para sua proteção. Programas de intercâmbio de reprodutores e de expansão da população foram, em seguida, colocados em prática por diferentes zoológicos e fundações.
Nos anos 1980, quando o número em cativeiro chegava a 500, especialistas puseram em prática programas de reintrodução. Atualmente, existem 1.800 animais da espécie (1.600 em cativeiros), todos descendentes de apenas 12 reprodutores. Os outros quatro animais que deixarão o Zoológico de Praga para viver na Mongólia também serão três fêmeas e um garanhão. ;Um macho fecunda várias fêmeas;, explica o zoólogo Jaroslav Simek. Ele espera que o jovem Matyas, afastado impiedosamente pelos mais velhos, possa logo demonstrar sua autoridade de macho. ;Isso depende em grande parte dele mesmo, de sua capacidade de atrair fêmeas e de criar seu próprio harém;, diz.