postado em 22/11/2011 08:00
Parasitas são seres vivos que retiram de outros organismos todas as substâncias necessárias para sua sobrevivência. Essa relação de dependência, no entanto, pode causar graves problemas para a espécie hospedeira. É o caso das plantas que sofrem com a chamada vassoura de bruxa, doença causada pelo fitoplasma (tipo de bactéria) Aster yellows. Agora, um novo estudo pode ajudar a combater essa praga que assola plantações em diversas partes do mundo. Cientistas do John Innes Centre, no Reino Unido, entenderam como o parasita manipula a estrutura do vegetal para torná-lo menos resistente ao inseto vetor da doença. Publicada recentemente no periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences, a pesquisa foi baseada na análise do genoma da bactéria.Ao examinar a relação entre o A. yellows e a planta Arabidopsis thaliana, a equipe de cientistas descobriu que a proteína SAP11 faz com que o vegetal produza menos o hormônio jasmonato, que tem função de proteger o organismo de ameaças externas como a cigarrinha, inseto transmissor da bactéria. Uma das autoras da pesquisa, a especialista em interações moleculares entre plantas, micróbios e insetos Saskia Hogenhout explica ao Correio que a ação da SAP11 ocorre a fim de que mais exemplares da cigarrinha se encontrem na Arabidopsis thaliana, podendo carregar o parasita para contaminar outros seres vivos (veja arte). ;Desse modo, conseguimos comprovar que os fitoplasmas conseguem alterar o comportamento de insetos indiretamente, a partir de seu hospedeiro;, determina.
Saskia explica que o interesse de sua equipe pela A. yellows surgiu do temor de que o aquecimento global facilite a proliferação da bactéria, menos resistente ao frio. Ela conta que trabalhar com fitoplasmas é complicado, pois esses parasitas não conseguem se manter sem seu hospedeiro e seu inseto vetor. ;Por isso, precisamos utilizar diversas plantas e cigarrinhas no experimento, para manter essa bactéria viva;, detalha.
A pesquisadora afirma que a ação de tais parasitas tem sido controlada nas plantações com o uso de pesticidas, que erradicam a presença dos insetos vetores. ;Mas agora queremos usar nosso conhecimento para criar outros mecanismos de combate às mais variadas doenças causadas por fitoplasmas, pois provavelmente a proteína SAP11 existe em outros parasitas do tipo;, estima. Ela acrescenta que sua equipe também pretende encontrar maneiras de reduzir a existência de insetos nos locais de cultivo agrícola.
Dano às plantações
Segundo a pesquisadora Elizabeth de Oliveira Sabato, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Milho e Sorgo de Minas Gerais, fitoplasmas atacam diversas espécies de vegetais, muitos dos quais servem de alimentos para as pessoas, como cacau, mamão e milho. ;Além do fitoplasma, outra classe de bactérias que pode devastar plantações é a dos espiroplasmas;, informa. De acordo com o especialista em transmissão de fitopatógenos por insetos João Roberto Spotti Lopes, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (USP), várias plantas encontram-se infectadas por fitoplasmas no Brasil. ;Esse tipo de problema é mais frequente e economicamente importante em hortaliças como repolho, brócolis, couve e chuchu, além do milho;, enumera.
Elizabeth considera a descoberta feita no John Innes Centre importante ;porque esclarece para a sociedade aspectos pouco conhecidos sobre as doenças de plantas cultivadas;. Lopes, por sua vez, destaca que a relevância do estudo consiste em mostrar a ação do fitoplasma sobre os vegetais, ;tornando compreensível como eles ficam mais vulneráveis à colonização por esses agentes danosos;.