Ciência e Saúde

Nova técnica para redução de estômago diminui a dor e os efeitos colaterais

postado em 28/11/2011 06:58
A esperança das pessoas que sofrem com problemas causados pela obesidade foi renovada assim que começaram a aparecer os primeiros relatos da cirurgia bariátrica (redução de estômago). Desde então, técnicas diferentes desse procedimento foram se multiplicando, cada uma para um tipo de indicação e, com o passar do tempo, surgem métodos para minimizar os desconfortos, as cicatrizes e os efeitos colaterais. A mais recente técnica é a gastrectomia vertical por orifício único. Esse procedimento, realizado pela mesma cicatriz do umbigo, deixa o pós-operatório ainda mais indolor, entre diversas outras vantagens.

A gastrectomia vertical faz com que parte do estômago que produz o hormônio da fome, a grelina, seja ressecada, fazendo com que o órgão suporte uma quantidade menor de comida, ficando com a capacidade entre 80ml e 100ml. A técnica provoca a perda de 40% a 60% do excesso de peso quando comparada, por exemplo, com o resultado obtido com o bypass gástrico (veja infografia). Praticada há 10 anos, esse método representa 15% das cirurgias do tipo realizadas no Brasil.

Como é realizado pelo método laparoscópico (com pequenos furos no abdômen), o procedimento se tornou ainda menos invasivo pela junção de duas eficazes técnicas: a cirurgia por orifício único ; laparoscopia single port ; e o uso de robôs no procedimento. O especialista em cirurgia geral, gastrocirurgia e orientador de cirurgias robóticas da área de cirurgia geral e do aparelho digestivo do Hospital Albert Einstein, em São paulo, Vladimir Schraibman, explica que, assim como na laparoscopia convencional, a cirurgia por orifício único é realizada com a insuflação de gás para a criação de uma cavidade virtual. A partir daí, realiza-se a incisão de cerca de 2,5cm na região da cicatriz umbilical. Por essa incisão, instala-se um pequeno dispositivo, no qual estarão inseridas uma câmera e duas pinças de trabalho.

Eficiente
O executivo André Gustavo Albuquerque, 42 anos, se submeteu à gastrectomia vertical em abril deste ano. Ainda não foi pelo novo método do orifício único, mas só de não ter grandes cortes ele já se sente aliviado. ;Pude começar a fazer exercícios pouco tempo depois da cirurgia;, diz. Ele, que já emagreceu 29kg, conta que em nenhum momento sentiu enjoos, tonturas ou qualquer desconforto comum às outras técnicas de cirugia bariátrica. ;Eu conversei com o médico e ele me indicou esse procedimento. Só tenho a agradecer, porque me sinto saudável e bem.; Caso tivesse se submetido à cirurgia pela nova técnica, dizem especialistas, ele provavelmente poderia comemorar uma recuperação ainda mais rápida.

A grande diferença da gastrectomia vertical para outros tipos de cirurgia bariátrica, salienta o médico, é que ela é pouco agressiva, sem dor, com recuperação rápida, perda de peso eficiente, ausência de vômitos ou diarreia, possibilidade de ingerir volumes razoáveis de alimentos e ausência da necessidade de ingerir vitaminas para evitar a desnutrição. ;Sem contar o resultado estético, visto que os pacientes apresentam um resultado final sem cicatrizes visíveis, principalmente quando emagrecem, em especial as mulheres, que passam a usar ate biquínis;, observa.

O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Ricardo Cohen, explica que e as desvantagens desse procedimento ainda são discutíveis. Ele conta que é preciso esperar que novos trabalhos comparem os resultados da laparoscopia com quatro ou cincos punções (de 0,5cm a 1cm
cada) com a de orifício único (uma incisão de 3cm a 4cm no umbigo) e, às vezes, mais uma punção de auxílio. Para ele, não há diferença na recuperação ou no resultado do novo procedimento se comparado com o ;antigo;. ;A operação dentro da cavidade é igual a feita por uma videolaparoscopia convencional;, afirma.

Credibilidade
A gastrectomia é realizada há mais de 15 anos no mundo e, no Brasil, há cerca de 10. Segundo Vladimir Schraibman, o procedimento apresenta inúmeras vantagens, como ausência de desnutrição, queda de cabelo, vômitos pós-prandiais e complicações no pós-operatório, a exemplo da hipovitaminose ; doença causada pela deficiência de vitaminas no organismo ;, geralmente causada por uma alimentação incompleta. ;A gastrectomia vertical permite ao paciente ingerir qualquer tipo de alimento em pequenas quantidades;, diz.

Schraibman avalia que essa é uma técnica moderna e bem aceita nos centros de referencia mundial por gerar poucas alterações anatômicas. ;A utilização do robô torna o procedimento mais preciso e tecnicamente ainda mais seguro;, avalia. O especialista conta que a indicação é para pacientes com índice de massa corpórea (IMC) maior que 40 ou entre 35 e 40, para os que apresentam comorbidades como hipertensão arterial, diabetes, colesterol e triglicérides elevados e apneia do sono.

Dos 14 robôs existentes na América Latina, quatro estão no Brasil. Já há centros norte-americanos que só realizam a cirurgia por meio da robótica. Trata-se de um procedimento de alta complexidade e que exige alto grau de treinamento da equipe cirúrgica. ;Exige um hospital bem capacitado, reduzindo as chances desse procedimento ser realizado em muitos centros;, acredita.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação