Ciência e Saúde

Acadêmicos criam grupos para estudar tratamento e prevenção da obesidade

postado em 12/12/2011 08:00
Felipe Grego com sua mãe, Inês Castro: a reeducação alimentar deixou o adolescente de 15 anos com peso saudável Belo Horizonte ; calorias, dietas, regimes, obesidade, colesterol, massa magra, percentual de gordura, emagrecer, engordar, diet, light; Essas palavras estão cada vez mais presentes no dia a dia da população brasileira, invadem as academias de ginástica e integram o repertório de muitos profissionais que prometem dicas milagrosas para manter o corpo em forma. Se entre os adultos a boa alimentação e a saúde ganham espaço na lista de prioridades, os profissionais das universidades antecipam a preocupação: os acadêmicos estão criando grupos de estudos e laboratórios para avaliar a obesidade em crianças e adolescentes, um dos grandes desafios da saúde pública brasileira.

As pesquisas têm fundamento em números: no Brasil, uma em cada três crianças de 5 a 9 anos estava com peso acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) entre 2008 e 2009, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os obesos representaram 16,6% dos meninos e 11,8% das meninas nessa faixa etária. Os jovens de 10 a 19 anos com excesso de peso passaram de 3,7% (na década de 1970) para 21,7% (em 2009), e entre as meninas dessas idades o aumento do excesso de peso saltou de 7,6% para 19,4%, no mesmo período.

Os estudiosos são categóricos: a criança e o adolescente com problemas de peso já desenvolvem sérios problemas de saúde, como hipertensão e problemas cardiovasculares. E mais: têm grande chances de se tornarem adultos obesos. As estratégias para a mudança de comportamento devem ser feitas o mais cedo possível, pois quanto mais precocemente se instalam os hábitos não saudáveis, mais dificilmente são combatidos.

Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo, o tratamento de crianças e adolescentes ganhou força há seis anos, com a criação do Ambulatório de Obesidade na Criança e no Adolescente, que acompanha pacientes de 3 a 20 anos. A unidade, que funciona no Hospital de Clínicas da instituição, já atendeu a cerca de 220 usuários e tornou-se fonte de estudos clínicos. Foram desenvolvidas na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp quatro dissertações de mestrado com foco na obesidade em crianças e adolescentes. Em Minas Gerais, a Universidade Federal de Viçosa (UFV) também tem programa de atenção à saúde do adolescente, criado desde 1998 e com atenção especial aos garotos e às garotas de 10 a 19 anos.

Os pesquisadores mandam um aviso para os gordinhos ; e os pais ; que se acomodam no pensamento de que a genética não foi feliz com eles. As causas orgânicas ou genéticas (obesidade endógena) que evoluem para o excesso de peso representam algo em torno de 5%, sendo que a maior parte dos casos (cerca de 95%) é classificada como obesidade exógena, motivada por fatores ambientais, como alimentação inadequada e sedentarismo.

;É importante que as crianças sejam acompanhadas desde cedo, pois elas estão sendo hiperalimentadas precocemente. E temos visto hoje baixa frequência das mães na amamentação, pois as mulheres trabalham;, afirma Antônio de Azevedo Barros Filho, especialista em crescimento e desenvolvimento físico da criança e do adolescente e professor do Departamento de Pediatria da FCM/Unicamp.

Ele já orientou quatro dissertações de mestrado da universidade paulista. Os trabalhos analisaram as características do sono e da qualidade de vida em adolescentes obesos, o balanço energético em adolescentes com excesso de peso, o comportamento antropométrico de adolescentes durante o ano letivo e o período de férias e como as mães percebem esse problema em seus filhos. Esse último apontou um dado interessante. ;As mães geralmente enxergam o filho da vizinha ou do colega de trabalho como obesos, mas olham os seus de outra forma. Os pais obesos, de forma geral, costumam aceitar isso no filho como normal;, observa o professor Barros Filho.

A conclusão da dissertação sobre alimentação em férias e ano letivo traz boa dica para os pais. É bom abrir os olhos durante os meses de dezembro, janeiro e julho, quando ocorrem as festas de fim de ano e as crianças ficam mais tempo em casa. ;O trabalho acompanhou durante um ano e meio cerca de 400 pacientes de 10 a 13 anos. Detectamos que elas ganham mais peso nas férias do que no período escolar, pois ficam mais em casa, comendo e realizando pouca atividade física;, destaca Barros Filho.

Amamentação e família
A prevenção da obesidade deve começar desde o período da gestação. O alerta é da nutricionista e professora do Departamento de Nutrição e Saúde da UFV Silvia Eloiza Priore. ;Muitos estudos mostram que o problema da obesidade começa na gestação, aí a criança já nasce maior. É bom que a mãe não deixe de ganhar peso nem ganhe acima do recomendado;, diz. Ela ressalta ainda a importância da amamentação até os 6 meses do bebê. ;Se ele não recebe leite materno, há chances maiores de ter peso errado, tanto para mais como para menos;, observa. No início da infância, acrescenta, é importante que sejam evitados alimentos semiprontos ou industrializados, ricos em açúcares e gorduras.

A família tem papel fundamental na mudança de hábito na alimentação das crianças, afirma a nutricionista Ermelinda Maria Leite Prado. Ela trabalha há 30 anos com obesidade infantil e destaca que os casos mais graves devem ser acompanhados por uma equipe multidisciplinar: endocrinologista, psicólogo, educador físico e nutricionista. ;Na grande parte dos casos, o problema ocorre em função da indisciplina dos pais. Há falta de critério na lista de compras e definição dos cardápios;, afirma. O exemplo, diz, é fundamental. ;Como a mãe vai querer que o filho coma brócolis ou cenoura se ela própria não come?;, indaga Ermelinda.

A nutricionista destaca que a criança obesa nem sempre vai ser um adulto obeso, mas o adolescente tem grandes chances de passar a vida adulta acima do peso. ;O número de células gordurosas vai ser definida até a puberdade;, diz. O adolescente Felipe Grego, 15 anos, é paciente de Ermelinda e tomou providências a tempo. Há cerca de um ano, ele estava se sentindo gordo, com dificuldades para fazer atividades físicas. Começou, então, um projeto de reeducação alimentar. No período, emagreceu cerca de 5kg e cresceu em torno de 10 centímetros.

Hoje, com 1,85m e 70kg, tem corpo saudável. ;Passei a comer nos horários certos, mais vezes e em quantidades menores. Incluí mais frutas e proteínas no cardápio e diminuí os carboidratos. Foi mais uma mudança de hábito do que sacrifício;, conta Felipe. A mãe, a consultora Inês Castro, também teve uma experiência bem-sucedida com a reeducação alimentar. ;Fui gordinha até os 11 anos de idade. Depois, emagreci e nunca mais voltei a engordar. Vi que o Felipe estava acima do peso e, por isso, procuramos ajuda da nutricionista.;

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