Ciência e Saúde

Na era da informação, ainda há muitas dúvidas quando o assunto é sexo

A primeira reportagem de uma série sobre o tema mostra os problemas psicológicos e fisiológicos que impedem homens e mulheres de sentirem desejo

postado em 28/12/2011 09:40
Fator intimamente relacionado à qualidade de vida, o sexo, que deveria trazer prazer e benefícios à saúde, pode ser prejudicado por problemas que, na maior parte dos casos, têm fundo emocional. Esses inconvenientes, denominados disfunções sexuais, são comuns tanto aos homens quanto às mulheres e afetam o desejo, interferindo nas respostas fisiológicas e psicológicas do indivíduo.

O ciclo de resposta sexual é formado por desejo, excitação e orgasmo. O primeiro caracteriza-se pelas fantasias e estímulos desencadeados pelos sentidos visuais, auditivos, olfativos, gustativos e táteis. Na segunda fase, ocorrem várias modificações no organismo, como a produção hormônios de secreções e, no caso do homem, a ereção. Já a última é o ápice: ejaculação e espasmos musculares involuntários. Quem sofre de disfunção sexual pode passar por alterações em qualquer uma dessas fases.

Segundo a terapeuta sexual Luciane Secco, esses problemas podem ser causados por histórico familiar, questões religiosas, falta de informação, tabus, preconceitos, educação sexual inadequada, experiência traumática e aspectos da personalidade, entre outros. Por estarem, na maioria das vezes, relacionados a aspectos psicológicos, são tratados com terapia sexual, na qual se utilizam técnicas comportamentais-cognitivas. ;A terapia sexual tem o propósito de ser breve e focal. Pode estar ou não associada a outra linha psicoterapêutica. O processo terapêutico pode ocorrer individualmente ou com o casal. Mesmo sem parceria, é possível tratar qualquer disfunção;, salienta a especialista.

Desejo
Embora muito se fale da disfunção erétil como um problema sexual, o urologista Claudio Teloken cita outros males que impedem que o indivíduo sinta vontade de fazer sexo. O denominado desejo sexual hipoativo (DSH) é um exemplo. Comum aos dois gêneros, o DSH faz com que o interesse sexual seja mínimo ou quase nulo. ;Há rejeição de trocas de carícias, jogos eróticos, os quais poderiam ensejar aumento de libido e estímulo sexual;, diz.

O médico destaca que uma das circunstâncias mais comuns que acompanham o DSH é a depressão: estudos científicos indicam que o problema é diagnosticado em 61% dos indivíduos deprimidos e somente em 27% dos não deprimidos. A prevalência é maior entre mulheres. De acordo com Teloken, pessoas que sofrem desse mal apresentam diminuição da frequência sexual, insatisfação geral, irritabilidade, menos chance de ter orgasmos e grande angústia. Teloken ressalta que a investigação primária visa identificar possíveis alterações hormonais. Além disso, se o paciente estiver deprimido, é indicada a terapia sexual acompanhada de medicamentos específicos. Outra alternativa é a mudança do estilo de vida, como perda de peso e prática de exercícios físicos.

Mais grave ainda é a aversão sexual (AS), distúrbio caracterizado por extrema ansiedade ou repulsa no envolvimento de trocas afetivas e eróticas, além da repugnância a qualquer atitude que sugira ou direcione-se à esfera sexual. A AS é consequência de inúmeros fatores, incluindo patologias psiquiátricas ou problemas circunstanciais. ;Pode ser resquício de abuso sexual na infância, atividade sexual na adolescência não consentida, alternativas sexuais abominadas por uma das partes, presenciar na idade pré-puberal atividade sexual dos pais, ouvir palavras de baixo calão trocadas entre pai e mãe, entre outras situações que marcam indelevelmente a criança, produzindo aversão sexual;, descreve.

Excitação
O ginecologista Antônio Verlon explica que as disfunções podem estar relacionadas a questões conjugais mal resolvidas ou, ainda, pelo esgotamento físico. Ele conta que já percebeu essa ligação em casos atendidos no consultório. ;Às vezes, o relacionamento não anda bem ou pessoa está estressada sem saber, e não consegue se excitar;, exemplifica.

Muitos fatores podem interferir na resposta sexual e é comum ouvir dizer que os métodos contraceptivos e também a reposição hormonal atuam negativamente nesse sentido. Para Verlon, ocorre o contrário. ;Os anticoncepcionais, desde a revolução sexual, permitiram que as mulheres se sentissem mais seguras, por saberem que não iriam ficar grávidas. Com isso, a concentração na busca pela satisfação se valorizou;, explica. Já no caso da reposição hormonal, a relação melhora ainda mais. ;Os hormônios previnem o ressecamento vaginal, aumentam o desejo e a qualidade da relação sexual;, conta.

Quando o problema é durante a relação, Verlon ressalta que a anorgasmia ; dificuldade de atingir o orgasmo ; é um dos mais prevalentes; principalmente entre as mulheres. A disfunção pode ocorrer por diversos fatores, como alcoolismo, uso de antidepressivos, mutilações sexuais e retirada da próstata. Mas o mais comum, novamente, são as questões psicológicas. Para o especialista, a ansiedade e a preocupação em satisfazer o parceiro figuram como causas prováveis. ;O ideal é que os dois aproveitem igualmente;, recorda.

Mulheres com essa disfunção apresentam, geralmente, inibições socioculturais que interferem nas respostas sexuais. Além disso, podem ter passado por episódios de violência mal resolvidos, desconhecem a própria sexualidade ou podem sofrer de dispareunia. ;Esta última é caracterizada pela dor na hora de relação, e é muito comum também quando a mulher não consegue atingir a excitação; ou seja, não atinge a lubrificação necessária;, salienta. A disfunção pode ser causada tanto por problemas orgânicos, como doenças e infecções nas genitálias, quanto psicológicos.

Emancipação
A emancipação feminina foi marcada, em meados de 1960, pelo surgimento da pílula anticoncepcional. A novidade influenciou o surgimento dos movimentos feministas e ocasionou desdobramentos libertários, igualitários e políticos.

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