postado em 31/12/2011 13:12
Belo Horizonte ; A criação de um protótipo de motor multicombustível, com aplicação que poderá ir de geradores de energia elétrica a automóveis, é o objetivo de duas pesquisas em andamento no Centro de Tecnologia da Mobilidade (CTM), conjunto de laboratórios integrados à Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), inaugurado no início de novembro. Os projetos são complementares, mas desenvolvidos em parcerias distintas com a Vale e a Petrobras. Uma terceira iniciativa, que visa a estudar a viabilidade da injeção direta no Brasil, deverá ser desenvolvida em parceria com a Fiat, mas ainda depende da aquisição de equipamentos.A pesquisa encomendada pela Vale parte da otimização de um conjunto de motogeradores, equipamentos usados para a geração de energia elétrica que tradicionalmente operam com motores a diesel, para seu funcionamento com biocombustíveis. ;A primeira parte é simples: converter os motores para o uso de vários tipos de gás (gás natural, gases pobres ou de baixo poder calorífico, como os originados pelos lixões), de álcool e de biodiesel (com diversas oleaginosas) e depois otimizá-los;, explica o professor Ramon Molina Valle, coordenador do CTM.
Depois de otimizar o motor, ou seja, recalibrar com nova central eletrônica, é preciso fazer a melhoria do gerador para que ele possa trabalhar com rotações maiores, pois os geradores normalmente operam com rotações muito baixas, em torno de 1,5 mil rpm (rotações por minuto). ;Para isso, estamos fazendo testes em máquinas de pequeno porte com o objetivo de que a rotação vá a até 10,8 mil rpm;, acrescenta o professor Braz Cardoso, responsável pela parte da pesquisa ligada à engenharia elétrica.
Os testes já começaram e estão sendo feitos em sete pequenas máquinas de 7,5kW (o protótipo final deve gerar 100kW), feitas de um tipo de aço que ainda não está no mercado. ;As máquinas vieram de um convênio com a siderúrgica Aperam, que fabrica o núcleo magnético do motor e desenvolve aços especiais para motores elétricos de alta rotação, no caso, fabricados pela Weg, também parceira;, informa o professor, que admite: os carros elétricos estão na mira final da pesquisa.
;Estamos desenvolvendo uma tecnologia nova para o gerador e, ao mesmo tempo, criando um novo motor;, continua o professor Ramon Molina, já explicando a outra pesquisa inter-relacionada, trabalhada em conjunto com a Petrobras: o motor multicombustível.
;Vamos tentar desenvolver um motor que ainda não existe. Deverá funcionar com qualquer tipo de gás e combustível líquido;, afirma. ;Além disso, será um motor com arranjo diferente de ignição por centelha, altamente econômico e com nível reduzido de emissão de poluentes;, continua. O novo motor, desenvolvido para ser usado em automóveis, provavelmente será capaz de trabalhar ao mesmo tempo com biocombustíveis e com os tradicionais gasolina e diesel.
Injeção flex
Já a proposta com a Fiat é estudar a viabilidade da injeção direta nos veículos flex produzidos no Brasil, por meio da análise de parâmetros dos combustíveis e da injeção.
;Ainda não temos, na frota nacional, nenhum automóvel com injeção direta, como na Europa e nos Estados Unidos. Hoje, a injeção é indireta, ou seja, o combustível não é injetado diretamente no cilindro. Ele passa antes pelo coletor;, afirma o professor Ramon Molina. Ele explica que o uso da tecnologia no Brasil exigirá um minucioso estudo para adaptação dos bicos injetores, parâmetros de injeção e queima do combustível.
;As propriedades químicas são diferentes e, além disso, aqui no Brasil, ainda temos o carro com motor flex, que não existe em nenhum outro lugar do mundo;, diz. Para o início das pesquisas, a universidade aguarda a conclusão do processo de aquisição de um motor monocilindro de pesquisa. Os estudos devem começar no ano que vem.