Primeiro, as comunidades pré-históricas, há cerca de 25 mil anos. Depois, surgiram os índios. A partir de então, chegaram portugueses, missionários, africanos, italianos, japoneses, norte-americanos e outros tantos grupos que transformaram o Brasil em um país altamente diverso do ponto de vista cultural. O gigantismo do território ; aproximadamente, 8,5 milhões de km; de área ; contribui para a enorme diversidade natural e uma série de outras formações ambientais únicas. Assim, não é de surpreender a quantidade de Patrimônios Culturais e Naturais da Humanidade localizados em terras tupiniquins. Hoje, firme entre os líderes mundiais na área, o país tenta incluir seu modo de visão sobre o que é patrimônio e democratizar nos órgãos internacionais os critérios de reconhecimento.
O primeiro sítio brasileiro a entrar para o rol dos patrimônios mundiais foi Ouro Preto, em 1980. A cidade mais importante do Ciclo do Ouro, durante os séculos 18 e 19, aos poucos ganhou outras colegas com o mesmo título: o Centro Histórico de Olinda, em Pernambuco, dois anos depois, e as ruínas gaúchas de missões jesuítas de São Miguel das Missões, em 1983. O primeiro sítio natural com importância para todo o mundo só foi reconhecido em 1986, com as famosas quedas d;água das Cataratas do Iguaçu, no Paraná. Hoje, são 17 regiões de singular valor de norte a sul do país, que expressam uma parte importante da história natural e da ocupação do homem nessa parcela da América do Sul (veja infografia).
Em 1987, o Brasil fez história com a eleição do Plano Piloto de Brasília, com suas escalas urbanas, setores e superquadras, o primeiro Patrimônio Histórico da Humanidade. ;Ele abriu uma linha nova de bens que passaram a ser reconhecidos como patrimônio da humanidade, pois, até então, só sítios antigos eram objeto de reconhecimento;, afirma Marcelo Brito, assessor de relações internacionais do Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). ;Foram os casos da Universidade de Caracas, na Venezuela, e da Unam (Universidade Nacional Autônoma do México), tudo após Brasília.;
Rio à espera
Se, no fim dos anos 1980, o Brasil fez história ao abrir para o mundo uma nova concepção do que são os monumentos mundiais, o país pretende repetir o feito. Está em processo de candidatura o reconhecimento da Paisagem Cultural da Cidade do Rio de Janeiro como um novo patrimônio da humanidade. ;Paisagem cultural é um conceito relativamente novo, de 1992, mas a sua aplicação a conceitos urbanos é inédita. Até hoje, ela é aplicada a zonas de agricultura, como os arrozais das Filipinas, ou a jardins, como é o caso de Aranjuez, na Espanha;, conta.
Assim, a candidatura da Cidade Maravilhosa, rejeitada em 2001, foi melhorada e está sendo apresentada novamente. ;Propomos uma paisagem construída em uma natureza exuberante. Serão analisadas como se dão as relações e quais elementos se incorporam, se expressam de maneira única no mundo;, completa. Assim, características únicas do Rio, como a cidade que cresceu entre morros, florestas e mar; e os monumentos, como o Cristo Redentor e o bondinho do Pão de Açúcar, podem dar mais um patrimônio inédito ao Brasil.
Outra candidatura do país que pode ser analisada já na próxima reunião do Conselho do Patrimônio Mundial, em julho próximo, é a cidade de Paraty, no litoral fluminense. ;O dossiê de Paraty já foi e voltou do Centro do Patrimônio Mundial (WHC, na sigla em inglês) várias vezes;, conta a diretora no Brasil do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), Rosina Parchen. Da primeira vez, o país precisou explicar de maneira mais profunda a importância do sítio para a história mundial. ;Depois, sugeriram que incluíssemos questões ambientais da Serra da Bocaina;, completa.
A cidade do litoral do Rio de Janeiro poderá ser o primeiro bem misto da América do Sul, ou seja, que incorpora tanto características excepcionais naturais quanto culturais. ;De quase mil patrimônios mundiais, apenas 26 são mistos, o que mostra que é extremamente difícil conseguir esse reconhecimento;, conta Marcelo Brito, do Iphan. ;A avaliação de 2004, que não foi positiva, serviu para reorientar a candidatura de Paraty, quando o conselho reconheceu características excepcionais universais também no âmbito natural;, conta.
As duas próximas tentativas brasileiras vão ao encontro de uma orientação da própria Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que reconheceu o caráter ainda muito europeu dos patrimônios mundiais. ;O Brasil está preocupado em apresentar candidaturas que tragam elementos novos de reflexão. Queremos que nossas candidaturas expressem novas visões, que expressem o modo brasileiro de ver a questão;, completa.
Atualmente, 479 locais de valor inestimável para a humanidade ; ou seja, pouco mais de 51% dos Patrimônios Mundiais ; estão no Velho Continente. ;O Brasil precisa mostrar por inteiro o que ainda não mostrou. Antes, valorizava-se o que era colonial. Hoje, foram ampliados o entendimento e a visão. Agora acredita-se que há uma diversidade cultural e que ela precisa estar expressa naquilo que o Brasil vem estabelecendo como elemento de reconhecimento.;