Ciência e Saúde

Pesquisadores americanos rastreiam início da epidemia de cólera

postado em 12/01/2012 10:11
Centro de Tratamento da organização não governamental Médicos sem Fronteiras em Porto Príncipe: fluxo aparentemente interminável de novos portadores de cóleraEra um homem de 28 anos, com graves distúrbios de saúde mental, que vivia em uma vila rural no centro do Haiti. Essas características são as de um haitiano importantíssimo para a história de seu país. Ele não sabia, mas foi o responsável pelo primeiro caso de cólera na ilha do Caribe, depois que um terremoto destruiu o país, há exatamente dois anos. Quem conseguiu rastrear a epidemia ; que já atingiu cerca de 250 mil pessoas e matou 7 mil ; e encontrar o primeiro caso foram os pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, liderados pelos médicos David Walton e Louise Ivers. A descoberta está na edição desta semana do Jornal da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene.

O homem, de identidade não divulgada, morreu em função da doença em outubro de 2010. Logo em seguida, ainda no mesmo mês, Mirebalais, a aldeia onde morava, registrou o primeiro caso de hospitalização em função do cólera. Em comunicado, os dois afirmam que as circunstâncias nas quais a epidemia começou ilustram os problemas que as autoridades públicas de saúde em todo o mundo têm para monitorar e prevenir grandes epidemias na atualidade.

;A falta de tratamento para os problemas de saúde mental do homem provavelmente intensificou o seu risco de adoecer e, portanto, desempenhou um papel em acelerar a chegada da epidemia;, declaram. Eles acreditam que essa ligação entre a contaminação e a doença mental ressalta a importância frequentemente esquecida da saúde mental como um ;componente da saúde global;.Haitiano picha parede responsabilizando a Força de Paz da ONU pela eclosão da epidemia de cólera: tensão

Para eles, a chegada do cólera ao Haiti seria inevitável. A doença é fortemente associada à falta de higiene e de condições mínimas de saneamento básico, água potável e esgoto, problemas muito presentes em locais que sofreram grandes devastações, como o país da América Central, onde se estima que 40% das construções da capital, Porto Príncipe, foram derrubadas pela força impiedosa do terremoto. As falhas nas políticas de saúde, contudo, facilitaram a entrada mais rápida no mal no país, além de potencializarem seu efeito destruidor.

Dúvida
Outro ponto que contribuiu para a proliferação acelerada da doença foi o local onde o caso do homem de 28 anos foi registrado. ;Mirebalais não teria se destacado muito em qualquer lista de locais sobre os quais as autoridades de saúde pública tinham preocupação com um surto mortal de um patógeno importado do exterior;, comentam os pesquisadores no artigo. Esse esquecimento da pequena vila impediu que ações anticólera barrassem, pelo menos momentaneamente, o surgimento do mal.

Um ponto ainda permanece obscuro para os pesquisadores: como o Vibrio cholerae, causador da doença, chegou à pequena vila rural. A análise filogenética das bactérias encontradas nas vítimas da doença mostrou que se trata de uma cepa originária do sul da Ásia. A hipótese mais provável, ainda sem confirmação, é de que o vibrião tenha chegado ao país por meio do pessoal ligada à ajuda humanitária internacional. De lá, além de espalhar-se por toda a região, chegou à vizinha República Dominicana, localizada na outra metade da ilha Española e, posteriormente, acabou em Miami e Boston, nos EUA, além de localidades na Venezuela, no México, na Espanha e no Canadá.

Nem tudo é crítica, entretanto, quando o assunto são as epidemias haitianas. Aids, elefantíase e sarampo são algumas doenças que vêm sendo controladas graças ao apoio internacional ao país. Vacinações em massa já foram feitas com sarampo e poliomielite na região. Organizações internacionais e o Ministério da Saúde do país devem propor uma ação definitiva contra o cólera, que prevê a aplicação de vacinas de uma maneira extensiva, que contará com a ajuda da população. ;Se alguém está preocupado com a logística de fornecimento de inovações de saúde para o Haiti, é só pedir ajuda para os haitianos e eles vão descobrir como fazê-lo; disse Ivers.

James Kazura, empossado há pouco como presidente da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene, acredita que a colaboração mundial é uma questão importante para o país. ;As lições que estamos aprendendo com a resposta médica internacional para o Haiti devem ser usadas, principalmente, para melhorar a saúde e o bem-estar do povo haitiano;, disse. ;A pesquisa desempenha papel fundamental na preparação das comunidades médica e de auxílio para um trabalho em conjunto com governos e diplomatas no planejamento de combate a futuras catástrofes em qualquer lugar.;

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação