postado em 16/01/2012 08:00
Em 1986, o mundo deu um passo decisivo na proteção dos maiores animais que habitam o planeta. Naquele ano, foi criada a Convenção Internacional de Regulação da Caça de Baleias, tratado mundial que proibiu a captura comercial desses mamíferos marinhos e estabeleceu uma cota anual de 10 animais para cada país que queira utilizá-los para fins científicos. O documento, contudo, não conseguiu impedir que mais de 40 mil exemplares desses gigantes fossem mortos e comercializados desde então, principalmente pelo Japão, onde a carne de baleia é uma iguaria altamente apreciada. Em um artigo na mais recente edição da revista Nature, um grupo de pesquisadores norte-americanos sugere uma solução alternativa para acabar com as disputas entre defensores das espécies e os navios baleeiros: uma cota de caça para cada país, que poderia ser negociada entre eles.
Pela sugestão, todo país teria uma cota legal de caça, o que estabeleceria um limite de baleias mortas todos os anos. Aquelas nações que quisessem ir além do limite poderiam comprar as cotas de outros países. Segundo o comentário publicado no periódico científico, a solução seria benéfica tanto para os animais, que contariam com políticas de preservação eficientes, quanto para países como Japão, Noruega e Islândia, que recentemente decidiram reativar a caça e poderiam agir de acordo com a legislação.
;Noruega e Islândia quebraram a moratória da Comissão Baleeira Internacional, e o Japão utiliza uma licença científica que é claramente uma brecha legal. Assim, esses países gastam um capital político muito grande com as baleias;, diz ao Correio uma das autoras do texto, a pesquisadora Leah R. Gerber, da Faculdade de Ecologia, Evolução e Desenvolvimento da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos. ;Um mercado de baleia comercializável legitimaria a caça desses países, melhorando sua reputação internacional;, completa a especialista.
Leah acredita que a norma proposta seria vantajosa também do ponto de vista ambiental, pois daria uma nova via de ação aos grupos de proteção. ;Os conservacionistas poderiam comprar cotas e diminuir a matança;, acrescenta a pesquisadora. ;Além disso, a compra dessas cotas forneceria uma compensação financeira para os países que caçam baleias para os estimularem a não caçar.; Para ela, a proposta seria viável por ser mais flexível que o sistema atual, que proíbe totalmente a caça comercial. ;Dificilmente um país como o Japão se oporia ao programa, porque ele poderia comprar cotas e caçar de forma legal;, acredita a cientista.
Rejeição
Mesmo coberta de boas intenções, a proposta apresentada na Nature não conta com a simpatia de alguns ambientalistas. ;Acho um absurdo essa proposta, pois ela legitima a caça às baleias, o que é proibido há mais de 25 anos por um tratado internacional;, opina Leandra Gonçalves, coordenadora de campanha no Brasil do Greenpeace. ;A Comissão Baleeira Internacional não tem nem como fiscalizar a caça predatória que ocorre hoje, quanto mais controlar um sistema de comercialização de metas de caça;, completa.
Para ela, a valorização do aspecto econômico dos animais marinhos é a melhor forma de frear a caça, mas deve ser abordada de outra maneira. ;O caminho é conscientizar esses países de que a baleia vale mais viva do que morta;, argumenta. ;Atualmente, o valor de todo o comércio mundial de baleias é estimado em US$ 30 milhões. Enquanto isso, o turismo de observação de baleias, praticado no Brasil e em outras regiões do mundo, vale US$ 2 bilhões;, completa a especialista do Greenpeace.
Denúncia internacional
Em maio do ano passado, a Austrália denunciou o Japão à Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, na Holanda, por considerar que o país viola a Convenção Internacional de Regulação da Caça de Baleias, por aproveitar-se de uma brecha na legislação que permite uma cota científica de captura de baleias. O conteúdo da argumentação australiana está sendo mantido em segredo até que a fase final do julgamento comece, com debate oral entre as duas partes. A data para essa etapa ainda não foi definida.
As vítimas
Conheça as quatro espécies mais caçadas pelos navios baleeiros
Minke (Balaenoptera bonaerensis)
; Características: Também conhecida como baleia-anã, mede 8,5m e pesa cerca de 9t
; Onde vive: No verão, é vista nos mares do Canadá, da Groenlândia, da Islândia e da Noruega. Durante o inverno, migra para próximo de Espanha, Mauritânia e Senegal. Também pode ocorrer na Antártida
; Onde é mais caçada: Na costa antártica, próximo à Austrália
; Status de conservação: Pouco preocupante
Fin (Balaenoptera physalus)
; Características: Conhecida como baleia comum, mede até 26,8m e chega a pesar 70t
; Onde vive: Nas regiões mais quentes do Pacífico e do Atlântico, e
nas regiões costeiras do Oceano Índico. Ocorre também na Antártida
; Onde é mais caçada: No Mar da Antártida
; Status de conservação: Em perigo
Jubarte (Megaptera novaeangliae)
; Características: Pode medir até 17m. O peso médio é de aproximadamente 40t
; Onde vive: Em todos os mares e oceanos, com exceção do Ártico
; Onde é mais caçada: Na costa da Groenlândia
; Status de conservação: Pouco preocupante
Baleia-de-bryde (Balaenoptera edeni)
; Características: Famosa por seus saltos fora da água, mede 15m e pesa até 25t
; Onde vive: Em altitudes médias dos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico
; Onde é caçada: Na costa do Japão
; Status de conservação: Desconhecido
Fontes: IUCN e Greenpeace