Pedro Cerqueira/Estado de Minas
postado em 04/02/2012 08:00
Belo Horizonte ; Um projeto-piloto desenvolvido pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (EE/UFMG) pode ser o pontapé inicial para implantar um modelo de ecocidade no câmpus da Pampulha, onde a instituição está sediada, em Belo Horizonte. Diariamente, passam pela cidade universitária 55 mil pessoas. E para atendê-las, haja energia e infraestrutura: são consumidos mensalmente 2 milhões de Kw/hora, 34 mil metros cúbicos de água e gerados 250 mil litros de resíduos sólidos. Integram o câmpus da UFMG 21 unidades, entre as faculdades, reitoria, laboratórios e refeitórios, que servem 140 mil refeições mensais na Pampulha.De acordo com o professor Ramon Molina, membro da comissão autora do projeto, o estudo visa a criar um centro integrado para a produção de energia alternativa, aproveitando todo o potencial energético do câmpus em uma área de aproximadamente 450m;, situada no quarteirão 10 da cidade universitária. Chamado de Q10, o espaço está reservado à instalação de diversos laboratórios da EE, todos à espera de recursos para serem construídos. O patrocínio para essa fase embrionária, cerca de R$ 3,5 milhões, foi solicitado num edital da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e aguarda aprovação. Segundo Molina, o passo seguinte seria implementar todo o conhecimento obtido com o projeto-piloto nos futuros laboratórios do Q10.
Já existe uma planta convencional para as edificações desses laboratórios, mas sem qualquer aplicação dos conceitos atuais de sustentabilidade ambiental. Assim, um novo projeto teria de ser elaborado, incorporando os preceitos de uma edificação com baixo consumo de água e energia, assim como o reaproveitamento da água de chuva para descargas, irrigação e lavagem externa. Uma das estratégias previstas para obter um maior conforto térmico, e que também ajuda a acumular águas pluviais, é a adoção de telhados verdes.
As instalações ainda devem receber redutores de consumo de água, ar-condicionado geotérmico, uso combinado de luz natural e artificial, luzes com intensidade luminosa variável por meio de sensores, controle inteligente do ar-condicionado e desligamento automático de equipamentos em modo de espera desnecessário. O projeto dos laboratórios do Q10 está orçado em cerca de R$ 60 milhões, e a Escola de Engenharia da UFMG aguarda patrocínio para sua construção, conceito que depois pode se estender para todo o câmpus.
Alternativa
O projeto do quarteirão sustentável vai muito além de apenas tornar as edificações previstas mais eficientes. Um dos objetivos é usar as várias competências da Escola de Engenharia e de diversos outros departamentos localizados em escolas e faculdades da UFMG para criar um Centro Integrado de Energia Alternativa para Geração e Consumo Descentralizado. Esse conceito, que já começa a ser posto em prática no projeto, terá nove núcleos principais. Alguns deles têm objetivo de produzir energia elétrica. Assim, painéis fotovoltáicos serão instalados tanto nos telhados quanto em áreas reservadas para absorção dos raios solares. Essa microusina poderia tanto fornecer energia elétrica para a rede de distribuição do câmpus quanto ser armazenada em baterias para serem usadas em horários de pico. Outra aplicação convencional da energia solar é o aquecimento de água. Parte desses painéis será produzida pela própria universidade. Apesar do potencial do câmpus ser baixo, um protótipo de turbina para geração de energia eólica também poderá ser desenvolvido na UFMG.
Uma das formas encontradas para armazenar a energia é por meio da energia potencial hidráulica, numa espécie de uma usina hidrelétrica reversível. Quando houver energia elétrica excedente, gerada pelos outros sistemas, uma bomba conduzirá água de reuso até um reservatório elevado. Quando necessário, essa energia potencial seria recuperada de forma hidrelétrica.
Outra tecnologia que terá o uso um pouco diferente do usual é a chaminé solar. Geralmente usada para produção de energia elétrica, essa chaminé vai usar a energia solar térmica para a secagem de alimentos e subprodutos do tratamento de resíduos orgânicos, além de efluentes líquidos gerados no câmpus. Depois da secagem, esses resíduos poderão ser usados para a produção de biodiesel.
Combustíveis
Todo tipo de resíduos sólidos e líquidos serão usados para produção de combustíveis derivados de biomassa, usados em motores de veículos e geradores para diversas aplicações. Assim, motores convencionais a gasolina serão convertidos para trabalhar com biocombustíveis líquidos e gasosos. Motores alimentados com esses combustíveis também podem gerar energia elétrica.
Sobras do restaurante da universidade e o esterco fornecido pelo curso de veterinária vão se transformar em biogás dentro de um biodigestor. Os frutos da macaúba, palmeira presente em todo o câmpus, serão usados para a produção de biodiesel, além de carvão vegetal e gás. Outra tentativa é produzir o biodiesel usando os óleos de fritura gerados no câmpus como matéria-prima. O grande volume de poda de árvores, recolhido em larga escala na cidade universitária, pode ser usado para produzir carvão e gasogênio. Como o gás é considerado um combustível muito poluente em motores tradicionais, também será desenvolvido um motor mais adequado para seu uso.
Como o objetivo é explorar todo o potencial energético desse espaço, um desses núcleos tem justamente a missão de se debruçar sobre a integração, o monitoramento e o controle de tantos recursos, avaliando, por exemplo, qual porcentagem será armazenada e qual será agregada à rede de transmissão, ou ainda calcular o quanto está sendo economizado e o que está sendo eficaz.