Ciência e Saúde

Historiadora americana questiona os conceitos de sexualidade

Nana Queiroz
postado em 31/03/2012 08:00
;Ele é um gay muito feminino, mas abriu uma exceção para ela;, a mulher segredou para a amiga, acreditando não ser ouvida. Na mesma festa, outras pessoas deviam ter teorias diferentes sobre o estranho casal composto por uma mulher e um homem feminino ; ou seria uma mulher masculina? Uma corriqueira suposição das pessoas sobre aquela dupla era a de que ela costumava ser lésbica, mas havia criado gosto por homens afeminados.

Outra, a de que ele era uma transexual, no início do processo de mudança de gênero. Qual seria a verdade? Seriam eles hétero ou homossexuais? Nem mesmo o casal sabia dizer. Aliás, não sabe até hoje.

A historiadora Hanne Blank, a mulher que integra o casal em questão, explica que seu companheiro foi ;diagnosticado; como homem ao nascer. A definição pareceu, por muitos anos, adequada, já que ele tinha um pênis perfeitamente funcional. O passar do tempo foi mostrando, contudo, que a verdade era mais complexa. Ele carecia de pelos pelo corpo e desenvolveu traços andróginos, como um rosto delicado, curvas na região do quadril e seios discretamente rotundos. Então, os médicos descobriram que, ao contrário da maioria das pessoas ;diagnosticadas; como homens, ele não tinha o par de cromossomos XY. Nem sequer o par das mulheres, o XX. Ele tinha, isso sim, um pouco dos dois: o menos comum trio XXY.



Leia mais sobre as variações dos cromossomos sexuais nas pessoas.

Os cromossomos sexuais e suas variações

Há dois tipos de cromossomos responsáveis pelas características sexuais de um ser humano: o X e o Y. Em geral, a dupla XY dá origem a homens e a XX, a mulheres. Porém, há um conjunto de outras variáveis menos comuns, mas também possíveis: X, XXY, XXX e XYY.

Síndrome de Klinefelter (XXY) ;

Esses indivíduos têm o órgão genital masculino e se desenvolvem normalmente como homens até a puberdade, levando uma vida sexual normal. Podem ter alguns traços femininos leves, como tendência a desenvolver pequenos seios e curvas nos quadris. São legalmente considerados homens. A maioria deles é infértil, mas há aqueles capazes de ter filhos. Estes, provavelmente, nunca saberão que são XXY, já que a descoberta é feita, em geral, quando os homens investigam a causa da infertilidade. Estima-se que um em cada 2 mil homens é XXY.

Síndrome de Turner (X) ;

Acontece quando alguém herda apenas um cromossomo, o X. Essas pessoas são bastante baixas e, apesar de ter o órgão sexual feminino, não têm as curvas proeminentes típicas das mulheres. Legalmente, são consideradas mulheres. Elas não ovulam, mas podem ter filhos com inseminação artificial de óvulos doados. Também acontece em um de cada 2 mil indivíduos, segundo estimativas.

Síndrome do Triplo X (XXX) ;

São as pessoas chamadas de "superfêmeas". Perante a lei, são mulheres. São férteis e, geralmente, levam uma vida sexual normal. São mais altas que as mulheres XX, com pernas bastante longas. Podem ter um QI ligeiramente abaixo do normal. Acredita-se que uma em cada mil mulheres é triplo X.

Síndrome XYY ;

São conhecidos como "supermachos". Esses indivíduos, considerados homens pela lei, têm características bastante masculinas. Como produzem muita testosterona (hormônio masculino) são mais altos que a média. Segundo alguns cientistas, teriam também mais predisposição à violência. Como no triplo X, podem ter um QI ligeiramente abaixo do normal. A maioria deles leva uma vida comum, tem filhos e nem sequer chega a descobrir que é XYY. Por essa razão, não se sabe ao certo qual a frequência dessa variação genética. Ela pode ser de um em cada 900 homens ou de um em cada grupo de 2 mil.

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