Ciência e Saúde

Livro de ensaísta dos EUA explica como resgatar o romance no século XXI

Nana Queiroz
postado em 03/04/2012 08:00

A chuva daquela noite de terça-feira estava de tirar o bom humor de qualquer um. A servidora pública Larissa Ramos da Silva, 26 anos, saía da faculdade correndo em meio ao temporal brasiliense quando, de repente, foi como se o céu se abrisse. As gotas no capô do carro molhado disputavam espaço com flores, que cobriam todo o veículo. Não era data especial, não era aniversário dela. Nada disso importava ao noivo, Rodrigo Araújo de Souza, 27, responsável pela surpresa. ;Quando a gente tem um dia difícil, não pode se deixar levar por isso. Tem que pensar: ;Hoje eu vou amar;;, diz ele, que, daqui a dois meses, vai dizer seu ;sim; a Larissa diante do altar. Os dois estão juntos há quase 10 anos e foram os únicos namorados um do outro.

A história pode ter roubado suspiros de alguns, mas há sempre aqueles que fazem careta ao ouvir falar de romantismo ; ou ler sobre o tema em um jornal em plena terça-feira. Para estes, a aclamada ensaísta americana Cristina Nehring escreveu Em defesa do amor: resgatando o romance no século XXI (Editora BestSeller). ;O amor foi degradado para homens e mulheres: hoje ele é entendido como uma fragilidade, uma frivolidade, uma imprudência ou um passatempo para garotas adolescentes durante o verão;, reclama ela. ;Por que isso aconteceu? Porque vivemos em uma cultura tímida que incentiva que grandes paixões sejam evitadas e trivializadas. O único amor incondicional que estamos autorizados a ter é o dinheiro.;

Larissa Ramos da Silva e Rodrigo Araújo de Souza, estão às vésperas do casamento

Leia a entrevista completa com Cristina Nehring

Em seu livro, você dá uma série de exemplos de pessoas que foram grandes por causa do amor. O que há no amor que faz as pessoas irem mais longe?


Usando a frase da poeta Mary Wollstonecraft: ;nós pensamos mais profundamente quando sentimos mais profundamente;. É só sob a influência de grandes emoções que conseguimos quebrar barreiras artísticas e literárias. E que emoção é mais forte que o amor?

No primeiro capítulo de seu livro, você afirma que as feministas não aceitavam que as mulheres pudessem amar. Hoje em dia, contudo, mesmo homens se sentem amedrontados em demonstrar amor e serem considerados frágeis ou pouco másculos. Por que acontece isso?

Concordo! O amor foi degradado para homens e mulheres: hoje ele é entendido como uma fragilidade, uma frivolidade, uma imprudência ou um passatempo para garotas adolescentes durante o verão. Por que isso aconteceu? Porque vivemos em uma cultura tímida que incentiva que grandes paixões sejam evitadas e trivializadas. O único amor incondicional que estamos autorizados a ter é o dinheiro.

Além do feminismo, não há um certo medo do sofrimento em nossos tempos que está matando o amor romântico?

Sim. Nós sofremos diante dos fracassos amorosos e esquecemos que sofrimento é também heroísmo. Sofrimento é um elemento necessário de toda aventura amorosa verdadeira ; seja ela escrever um livro ou viver um caso de amor. Não é à toa que o sentido original da palavra paixão é sofrimento.

O que você quer dizer quando afirma que o "sexo seguro matou o romance"?

Meu foco não são as camisinhas. Refiro-me mais ao "amor seguro" do que do ao "sexo seguro". Daquelas atitudes débeis que nos levam a acreditar que podemos passar por relações importantes com nossas armaduras e egoísmo intactos: que não devemos arriscar nada por amor, que romance é um passatempo do qual podemos sair quando for conveniente. Não! Grandes amores exigem que sujemos as mãos! Exige que façamos sacrifícios e mostremos coragem.

Você acredita que a infelicidade de dezenas de casais em casamentos dos quais não podiam sair também colaborou para descreditar o romance?

Eu acredito, sim, que estar casado com a pessoa errada e incapacitado de divorciar-se por qualquer razão nos força a nos automedicar, fingindo que o amor não é importante, adolescente ou até que não existe. Por outro lado, também temos assistido ao fenômeno inverso: com a proliferação de redes sociais e sites de namoro chegamos a uma hiper-disponibilidade de possíveis parceiros. "Saímos à escolha de amantes como se estivéssemos fazendo compras em um shopping. Escolha nenhuma e escolha demais levam ao mesmo lugar: apatia.

Quando você fala de romance, no que está pensando exatamente: flores, músicas e chocolates?

Penso em paixão, guerra, êxtase, sacrifício, inspiração, heroísmo, a erosão do ego: em resumo, um amor que é mais uma revelação divina e menos como umas compras convenientes. (Ele pode, ou não, envolver flores e músicas)

O romance também te move?

O amor é a principal força que me move como escritora. Desde que fiz 15 anos, nunca mais me separei do amor. E, sim, nesse momento eu estou completamente apaixonada. Mais do que sei dizer;

Qual a coisa mais romântica que você já viu?


O rosto do homem que eu amo.

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